Ontem senti uma vez mais algo que é difícil de descrever, porque não podemos ter saudades de algo que não vivemos, ou podemos? Poderemos ter nostalgia de um tempo que não foi “nosso”?
Sempre que vejo isto:
Sinto-me invadido por uma sensação de perda… olhar para as ruínas do que foi o pequeno estábulo do meu avô materno deixa-me invariavelmente assim. Ao contrário do meu avô paterno (de quem já falei
aqui) nunca tive a honra de conhecer o meu avô materno, pois morreu antes de eu nascer.
Por vezes sinto que com ele morreu assim grande parte da minha ruralidade. Por mais que não me ache um menino da cid
ade que acha que o leite vem do pacote, penso que teria ganho muito mais apego à terra se tivesse privado com este meu avô, se o tivesse ajudado a escovar o cavalo, se tivesse participado na vindima, se tivesse aprendido a beber o vinho novo ainda da pipa. É de tudo isto que sinto falta quando olho aquelas ruínas, sinto falta de uma parte de m
im que nunca foi…
Resta-me “lembrá-lo” através das histórias que a minha mãe conta e nas raras vezes em que abrimos uma garrafa (já temos muito poucas) das que ele fez especialmente para o meu pai e para o qual escolheu as melhores uvas – é um vinho sublime!
FATifer
São estas peças, os pequenos objectos deste nosso passado que sempre me apetece recuperar, como se, com eles, também recuperasse um pouco da minha história e da memória de quem, em tempos, os tocou.
ResponderEliminarReciclar é dar-lhes a oportunidade de fazerem parte de um novo ciclo, ainda que numa nova função.
Muito bonito.
Eu acredito na nostalgia por algo que não se viveu mas que se imagina como seria viver, que não foi nosso mas poderia ter sido, que não faz parte da nossa vida mas poderia ter feito.
E acredito que são estas "recordações" felizes, ainda que no aroma de um vinho, que fazem com que as pessoas de quem gostamos, ainda que não as tenhamos conhecido, sejam imortais na nossa memória.
Beijo grande :)
Gostei muito deste texto, onde perpassa a saudade de algo que nunca chegou a acontecer e de uma tal ruralidade perdida...
ResponderEliminarMuito bom! :)
Beijocas!
:) Gostei muito de te ler desta forma.
ResponderEliminarbeijinho
Cara deusa Pax,
ResponderEliminarSabia que conseguirias ler este texto e senti-lo :)
Penso que já te contei o episódio mas fica aqui descrito:
Da última vez que abrimos uma garrafa do vinho que referi (tinha o vinho já 25 anos) e foi um enorme orgulho para mim o facto de, à nossa mesa estar um amigo do meu pai que terá tudo para ser considerado um enólogo (incluindo a arca frigorífica onde guarda a colecção sempre a 10ºC) e que gabou o vinho do meu avô! (claro que o vinho só se bebe depois de estar para aí 1 hora a “respirar” mas depois é, como disse, sublime – e tu sabes a parcimónia com que uso esta palavra!)
Este meu avô com todos os defeitos que também os tinha (e não eram poucos) era por, todos os relatos, um Homem! Isso enche-me de um sentido de responsabilidade de estar à altura da sua memória…
Beijinho grande,
FATifer
Teté,
ResponderEliminarAinda bem que te agradou… este texto foi escrito com o coração pois nasceu da necessidade de tentar colocar em palavras o que sinto sempre que visito aquelas ruínas do que foi a casa dos meus bisavós…
Beiinhos,
FATifer
Who Am I,
ResponderEliminarAqui entre nós, penso que uma das coisas que mais te agradou terá sido que neste texto conseguiste ler-me a sentir algo e não a pensar ou analisar… ou estarei errado?
Fico contente que tenhas gostado.
Beijinhos,
FATifer