quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Divagações de fim de ano

“Tentar fazer o balanço do ano mergulhado numa gripe vai ser uma dor de cabeça. Sim, têm razão, a dor de cabeça vem da gripe não do balanço mas… digamos que não ajuda…”

Era o que tinha escrito ontem, felizmente, a dor de cabeça e a gripe já quase não se fazem sentir… ora então…

Balanço deste ano… mas porque raio vou eu fazer o balanço se já penso na vida todos os dias?
Se já sei que tem sido muito bom escrever aqui, comentar ali, trocar ideias acoli…
Se já todos ouvimos que estamos em crise…
Se… ok, já perceberam que não vou fazer balanço nenhum.

Pois não vou fazer balanço vou… hum… lembrei-me agora de uma pequena história que fica bem no dia de hoje…

A última vez que fui passar a passagem de ano ao Terreiro do Paço aconteceu uma pequena peripécia que ainda hoje é motivo de riso naquele grupo de amigos. Estando a meia noite a aproximar-se quem trouxera garrafas preparados para as abrir. 12 “badaladas” e toda agente abre as garrafas menos um que continuou com todo o cuidado (ou seria falta de jeito) durante quase um minuto a tentar e quando finalmente abre não é “pop” mas “puf” o que se ouve e a rolha não voa mas cai no chão… gargalhada geral!
E é esta a história da vez que mais me ri numa passagem de ano. De referir que o rapaz em questão até teve bastante sorte nesse ano e é hoje um homem muito bem sucedido mas não no ramo da hotelaria claro está!

E já só restam umas horas deste ano de 2008 … estou preocupado com o segundo que vão acrescentar, fiquei com uma dúvida existencial de a que ano ele pertence?... (ainda bem que não sou maníaco senão ainda me punha a acertar todos os relógios que tenho!!)


Porque é da praxe, aqui ficam os votos de que 2009 vos traga tudo o que desejam!


FATifer

domingo, 28 de dezembro de 2008

Feliz Intervalo!

.
Como todos concordam que o Natal deveria ser sempre que o Homem quer e que os votos de felicidade não deveriam ser dados só nestas ocasiões...

Para todos,
Ficam votos de Feliz Intervalo
.
........................Entre
.
Todas As Festas Felizes Que Teremos Durante Tooodo O Próximo Ano !!!!!

... e beijos :)
.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

“Já não há muitas pessoas assim”


Esta frase, que ouvi (ontem) na véspera de natal, tem andado a bater cá dentro… bem é melhor contar a cena para poderem perceber…
Então foi assim, estava eu a guardar as compras na caixa do supermercado, enquanto o meu pai pagava. Notei que o sr. que tinha estado à nossa frente tinha deixado o telemóvel e a carteira na extremidade do rebordo da caixa. Vim à porta e como ainda o vi a meio da rua, voltei lá dentro, peguei nas coisas e correndo (pois não queria que o meu pai tivesse que ficar muito tempo à minha espera) fui devolvê-las ao sr.. Depois de me agradecer e de me desejar um “bom natal” disse “Já não há muitas pessoas assim” e sorriu com uma expressão que traduzia um misto de agradecimento e de alívio…

(contei não para ficarem a pensar “ele é muito boa pessoa” embora, tenha de confessar que, claro que me agrada que pensem assim, pois tento ser…)

Como disse, a frase ficou a bater cá dentro… fiquei a pensar quantas pessoas conheço fariam o que fiz?... não gostei das respostas que encontrei a esta pergunta… as inquietações não são novas mas porque estamos nós cada vez mais egoístas?... este foi um gesto simples (custou uma corridinha e uns minutos de espera ao meu pai) mas quase que estou a ver a cara de uma amiga se lhe contasse esta história e o seu tradicional “tu não existes” seguido daquele sorriso de menina do campo, que tanto aprecio.

Convençam-me que o sr está errado, que há muitas pessoas assim! Senão de que vale falar de natal?

FATifer

Divagações natalícias

O natal nunca foi nada de muito especial para mim (talvez por na minha família não haver a tradição de nos juntarmos todos) mas ainda me lembro de quando os meus pais conseguiam manter a ilusão do pai natal (não foi muito tempo). Hoje dei comigo a lembrar de como me sentia, da expectativa que era acordar cedo e ver o que tinha sido deixado ao pé da árvore… prendas simples, por vezes, mas que sabiam tão bem receber! Actualmente dedico-me a dar. Acho que é a única parte do natal que aprecio, a “caça” às prendas… o procurar isto ou aquilo que acho que esta ou aquela pessoa vão gostar… já lancei aqui a pergunta mas volto a ela, até que ponto é que ao darmos uma prenda estamos a ser totalmente altruístas? Não estaremos também a ser um pouco egoístas (na medida que esperamos receber de volta a satisfação de ver que a pessoa gostou)? Eu sei que o que mais me dá prazer, ao dar uma prenda é exactamente o “obrigado” que leio no olhar de quem recebe, que completa a sensação de bem estar que começou quando escolhi algo que penso que vai agradar. Entre estes dois momentos medeia um tempo de expectativa antes da confirmação pois, por mais que esteja convicto que agradará nunca consigo eliminar a dúvida… é nisto que para mim se resume o natal, uma desculpa para fazer mais uma vez o que já faço várias vezes durante o ano, dar prendas àqueles de quem gosto… pois afinal, o natal deve ser mesmo quando quisermos!

FATifer

PS – Ok, tenho que fazer uma ressalva (por uma questão de honestidade), há outra parte que gosto muito no natal, a comida, doces em particular! ;)

domingo, 21 de dezembro de 2008

Feliz Tudo!

.


:)

domingo, 14 de dezembro de 2008

Parte X


- Pai?
- Sim filha?
- Vou a Lisboa, posso levar o RX8?
- Podes.
- Até logo pai, até logo Sofia.
- Até logo filha.
-Até logo, tem cuidado!
- Sim mamã…
-…
- Como o tempo passa… já faz quase um ano que vivo aqui contigo.
- É verdade…
- Larga esse jornal, vamos dar um passeio no jardim, está um dia lindo!
- Os seus desejos são ordens Rainha Sofia.
- Rainha, pois, pois!
- Vossa alteza duvida que o é?
-...
- Duvida que governa o coração deste seu humilde servo?
- Guilherme, deixa-te de brincadeiras, larga o jornal…
- Pronto… deixa-me só pegar nos óculos de sol, vamos já.

Dobra o “lençol” que estava a ler e pousa-o na mesinha de apoio. Pega nos óculos escuros, levanta-se do cadeirão de couro e encaminha-se para a porta que dá para o jardim onde ela o espera. Trocam um beijo e descem a escadaria branca abraçados.
Aqueles passeios são uma rotina que ela cultivara, pois como ele, adorava aquele jardim com todos os seus recantos. Passam pela grande nogueira e dirigem-se ao pequeno lago, onde param apreciando o som da água que cai em cascata numa das extremidades. O sol penetra nas copas das árvores projectando sombras rendilhadas na relva e nos caminhos. Sofia colhe uma rosa vermelha, ele retira-lha da mão e, colocando o caule na boca, olha-a com um ar como que convidando-a a dançar. Sofia sorri e retribui o olhar… mas não se entregam ao tango, desta vez. Ele devolve-lhe a rosa e continuam o passeio. Detêm-se de novo, como habitualmente, de fronte do Taxódio (ou cipreste de folha caduca). Não se cansam de admirar aquele tronco, com aspecto secular, onde conseguem sempre encontrar novos pormenores que comentam um com o outro.

- O que vamos almoçar?
- Pedi à Hermínia para fazer bifes de espadarte.
- Hum… parece-me bem… que horas são?
- Já estás com fome homem?
- Eu estou sempre com fome…
- Pois… vamos para dentro que eu vejo com a Hermínia quanto tempo vai demorar ainda…

Depois do almoço decidem ir ver o mar…

- Que cara é essa?
- Porque me trouxeste aqui?
- Não gostas do Guincho?
- Gosto mas…
- O que foi Sofia?
- Tu sabes…
- Achas que vim aqui por causa da Isabel?
- …
- Sofia… Sofia, olha para mim…
- Estou a olhar…
- Tu sabes que a Isabel… estará sempre aqui dentro… já te contei todas as histórias…
- Pois e aqui foi onde tudo começou…
- Pois foi… mas não estou a perceber esta insegurança agora?
- Competir com um fantasma perfeito é difícil, sabes?
- Competir?
- Sim…
- Não Sofia….tu não competes, já não tens de competir…
- Não?…
- Não…
- O que queres dizer com isso?…

Devagar aproxima os seus lábios dos dela e beija-a, um beijo firme e sentido.

- … quero dizer que tu conquistaste o teu espaço ao lado dela, como te tinha pedido.
- Guilherme… eu não me esqueci que dia é hoje…
- Eu também não Sofia… acho que está na altura…
- Está na altura de quê?
- Confia em mim…

Voltaram a entrar no carro e regressaram a casa. Como um ano antes fizera com filha, conduz Sofia até ao quarto secreto, abre a caixa de prata com a chave, que desta vez já não está no bolso mas sim pousada ao lado da caixa. Retira o envelope e pela segunda vez lê alto aquela carta de Isabel. Será a última vez que lerá aquela carta. As lágrimas correm pelas faces de Sofia…

- Como vês ela própria queria que te encontrasse.
- …
- E nem precisei procurar muito, tu sempre estiveste mesmo aqui, Sofia.
- Era uma grande mulher a Isabel…
- Pois era…
- E ou outro envelope?
- O outro envelope é meu… escrevi-o para ela mas agora entrego-to a ti…
- Não compreendo?...
- Abre…

Sofia pega no envelope amarelecido pelo tempo e abre-o cuidadosamente. Retira uma folha em tudo igual à da carta de Isabel para ele, o mesmo papel dobrado em dois. Com as mãos trémulas desdobra a folha de papel, revelando lentamente uma única palavra escrita:

“Amo-te”

Com os olhos inundados de lágrimas olha para ele…

- Sempre foste um homem de poucas palavras…
- Sim…
- Também ainda não tinha tido coragem de te dizer mas…
- …
- Guilherme… Amo-te…
- Eu sei … por isso tens esse papel na mão.

Com os polegares limpa-lhe as lágrimas numa carícia demorada, inclina-se e beija-a… um beijo doce e terno, para que pare de soluçar.

- … só não percebi o que a Isabel queria dizer com aquele segundo desejo?…
- Vem comigo eu mostro-te.

Descem à garagem, para espanto da Sofia, entram no DB4GT. Ela sempre pensara que aquele Aston Martin não andava. O som do motor enche a garagem. Arrancam.

- Onde vamos?
- Já vais ver…

Tal como um ano antes com a filha, diverte-se a fazer chiar os pneus enquanto desenha cada curva, como é belo o rugir daquele motor.

- Cabo da Roca?
- Sim Sofia… espera um pouco, quando chegarmos eu explico.

Chegam… estaciona… saem e encaminham-se para o fim da terra…

- Quer dizer que libertaste as cinzas dela aqui, foi?
- Sim… como era seu desejo…
- Entendo… assim voou…



- ISABEL!... como vês cumpri finalmente o teu desejo, voltei a viver!

O rebentar de uma onda mais forte ecoa penhasco a cima e o vento parece acalmar para uma brisa à volta deles…

- Parece que te respondeu…
- Pois foi…

Sofia procura o aconchego dos seus braços e ele abraça-a, beijam-se.

- Pronto, agora sabes tudo.
- Sim…
- Agora não tens de ter mais medo do fantasma…
- …
- Agora, por mais que nunca a esqueça, serei só teu…
- E eu tua…

Voltam a casa. Saem da garagem para o jardim e vêm sentar-se no banco de mármore à sombra da velha nogueira, de mãos dadas, qual par de namorados apaixonados. Beijam-se, um beijo doce mas quente… Sofia repousa a cabeça no seu ombro e ficam ali ouvindo o chilrear dos pássaros.

- Olha, não é a Helena que vem ali?
- É sim…
- Mas quem é aquele rapaz com ela?
- Não sei…



- Pai este é o Miguel, ele ajudou-me a mudar um pneu do Mazda…


Fim


FATifer

sábado, 13 de dezembro de 2008

Parte IX


- Sim?...
- Guilherme Silveira?
- Sim…
- Fala do Hospital S. Francisco Xavier… o seu número está mencionado como contacto em caso de emergência da senhorita Helena Silveira…
- O que aconteceu à minha filha?
- Não sei pormenores do acidente, apenas posso dizer que deu entrada depois de um acidente de mota e está em observação…
- Vou já para aí!



- Pai? Sofia?
- Filha… então?...
- Não faças essa cara eu estou bem…
- Oh rapariga o que é que foste arranjar?
- Já disse que estou bem Sofia… não foi nada…
- Não foi nada mas a RSV não tem arranjo, segundo acabei de saber…
- Desculpe meu pai, eu sei o quanto gosta daquela Aprilia mas aquele palhaço mete-se à frente!
- A moto é o menos, o que importa é que estás bem…
- Sim, isso é o mais importante Helena, estávamos preocupados.
- Obrigado Sofia… meu pai, essas não são as mesmas roupas que tinha ontem?
- São e depois?
- Estão os dois um pouco despenteados… hum…
- Vês Sofia, até na cama do hospital ela é assim… apresento-te a tua maior aliada.
- Aliada? Que conversa é essa meu pai? Porque que é que a Sofia está com o sorriso malandro dela?
- Qual sorriso malandro Helena?
- Esse! Vocês… entenderam-se!….é isso?!
- O teu pai fez-me uma proposta…
- Como assim?
- Fui intimada a conquistar um lugar no coração dele…
- Fucking finally!!
- Helena então?
- Oh pai … já sabes que há muito que defendo essa ideia, como aliás acabaste de dizer. Até um cego via que vocês os dois deviam estar juntos!

Continuaram a conversar. A Helena contou como um carro, em que o condutor falava ao telemóvel, se atravessara no caminho dela e tinha sido projectada. Agradeceu ao pai o facto de ter sempre insistido para que usasse protector de coluna, voltando a pedir desculpa pela Aprilia RSV 1000 R Factory que não tinha concerto. Estava bem, apenas tinha sido internada por precaução pois perdera a consciência.
Decidiram deixá-la descansar.

- Ainda bem que foi só um susto mas não devias deixar a tua filha pegar nos teus brinquedos…
- Oh Sofia, a Helena sabe muito bem conduzir, o que lhe aconteceu acontecia-me a mim ou a qualquer um…
- Sim talvez…
- Podes ter a certeza.
- Leva-me a casa quero tomar um duche e trocar esta roupa.
- Um duche é uma boa ideia…
- …
- Que cara é essa?
- A cara de quem não está habituada a ouvir essas coisas vindas de ti…
- Pois estás a habituada é a seres tu a dizê-las, não é?
- Sim…
- Mas e então posso tomar duche contigo ou não?
- Tás muito malandro, estás!
- Isso é um sim ou um não?
- É um vamos ver…

A viagem durou o mínimo que tinha que durar. Entram em casa embrulhados um no outro, as bocas não descolam uma da outra e as roupas vão caindo no chão a caminho da casa de banho. A cabine de duche é grande, a água a cair sobre eles aumenta a excitação. Os corpos descobrem-se, os prazeres reprimidos libertam-se. Perdem a noção do tempo, entregues à busca de prazer mútuo. É como andar de bicicleta, quem sabe não esquece e ambos sabem dar e receber. Gemidos, gritos de prazer, ligeiramente abafados pelo som da água a correr, inundam aquele espaço, ecoando nas paredes de mármore.


- Guilherme…
- Sim Sofia?
- Com cogumelos por favor…
- Coming righ up!

Sofia ouve o sou de panelas enquanto se levanta preguiçosamente. Resiste ao instinto de vestir algo e encaminha-se para a cozinha…

- Onde está o Azeite?
- No sítio do costume!
- Nop… aí já vi…
- Deve ter acabado… procura no armário em baixo, porta da direita, deves ter uma garrafa por encetar…
- Ok!

Sofia chega à porta da cozinha e pára admirando-o a trabalhar… a velocidade com que corta os cogumelos que lhe pedira para pôr na omeleta, a destreza manual de que beneficiara horas antes mas noutras circunstâncias. Deleita-se, observando a forma minuciosa como doseia cada pitada de sal, cada pingo de azeite… a sua omeleta está pronta e os ingredientes para outra repousam no balcão…

- Não é a primeira vez que cozinhas para mim mas… será a primeira que o fazes só de avental…
- Safety first…

Guilherme respondera antes de levantar o olhar… o ligeiro sorriso que fizera torna-se um sorriso aberto ao ver Sofia, na ombreira da porta, nua.

- Tu também estás vestida a rigor…
- Estou, não estou?
- Está pronta, é só comer…
- Ainda bem, estou esfomeada.
- Sim, eu percebi…
- A culpa é tua!
- Minha?!
- Sim… há muito tempo que não fazia tanto “exercício”…
- Nem eu…

Pegara num prato onde colocara a omeleta enfeitado com uma folhinha de salsa. Sofia sorri, mesmo estado já habituada àqueles pormenores dele, “os olhos também comem”, respondia sempre que ela lhe perguntava para que era aquilo. Preparava uma omeleta para si enquanto apreciava o gosto com que Sofia comia a dela.

- Hum está deliciosa!
- Sim?... ainda bem… é como tu…
- Ai sim?
- Sim…
- Então sou deliciosa…
- És… além de linda, és deliciosa…
- Guilherme… se isto é um sonho não quero acordar!
-…
- Ai!! O que foi isso?
- Estava só a verificar se era um sonho… sentiste o garfo… acho que não é um sonho.

Sofia sorri e come mais uma grafada, fingindo ameaça-lo com o garfo que esvaziara. Ele senta-se à frente dela comendo a sua omeleta. Olha-a com um sorriso sedutor…

- Guilherme… não misturemos comidas…
- Porque não?
- …
- Estava aqui a pensar numa sobremesa…
- Numa sobre-a-mesa?...
- Bem isso também podia ser mas pensava antes nisto…

Vira-se e retira do frigorifico uma taça de morangos e uma tigela de chantilly…

- Parece-me muito bem… só acrescentava o que encontrarás na segunda prateleira ao fundo.
- Sim eu vi mas só tenho duas mãos…
- Eu tiro…

Sofia levanta-se passa por ele, gentilmente retira um morango da taça, mergulha-o na taça de chantilly, encosta-o ao nariz dele e depois morde o fruto, daquela forma delicada e ao mesmo tempo selvagem, que só uma mulher sabe como fazer. Sorri e oferece-lhe o resto do morango, que ele aceita… abre a porta do frigorífico e retira a garrafa de champanhe que repousava onde tinha indicado. Abre depois o armário, pega em dois flute e faz o seu sorriso maroto, que ele adora.

- Vamos?...
- After you…

Voltaram ao quarto. Deitados na cama deliciam-se… os dois flute cheios de champanhe repousam numa das mesas-de-cabeceira, as taças com os morango e o chantilly estão na cama ao lado deles. Ele retira um morango molha no chantilly e usa-o para contornar cada um dos mamilos, ela suspira e aceita o morango enquanto ele lambe o chantilly que depositara… ela imita-o… os morangos vão desaparecendo da taça e o champanhe dos copos à medida que ambos inventam formas cada vez mais criativas de os consumir…


A sombra começa a invadir o quarto… ele olha-a a dormir a seu lado, percorre com o olhar cada contorno daqueles lábios que tanto prazer lhe deram hoje… observa a silhueta daquele lindo corpo por debaixo dos lençóis de seda… sorri, fecha os olhos e entrega-se também a um descanso merecido.


(terminará)


FATifer

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Parte VIII


Achara a memória mas o efeito não fora o esperado, sentira-se mais vazio em vez de completo. A luta interior agrava-se pois a frase do amigo não pára de ecoar na sua mente. Usara os dois trunfos mais poderosos que tinha e mesmo assim não conseguira vencê-la.

“- Será que ele tem razão? Será que …?”

A dúvida instalava-se, é impressionante como o retirar de uma pequena pedra pode ser o suficiente para rebentar o dique inteiro… a fortaleza interior dele ruía, as suas certezas passavam a dúvidas. Reconhece que tudo isto não é novo, estas dúvidas atormentavam-no há muito mas tornara-se um mestre a ignorá-las. Porque havia de voltar a amar? A sua mulher era perfeita, a história de amor um conto de fadas e tinha a filha para cuidar. Mas a filha era já uma mulher, não precisava da sua protecção como outrora. Tudo isso começara a criar, ou a evidenciar, o vazio que sentia. Tinham-lhe roubado a sua luz. Desde então abdicara de voltar a ser feliz, convencendo-se que seria impossível alcançar a felicidade que já tivera ao lado dela, da sua Isabel…

Desce até à garagem entra no carro, os pneus chiam com o arranque. É uma sorte o carro ser baixo senão teria batido na porta que não deixara levantar por completo. Conduz como um louco pelas ruas desertas, os pneus chiam a cada curva mas as trajectórias são perfeitas o carro parece colado ao asfalto. Chegou finalmente, pára o carro com uma travagem estridente, sai, bate a porta com força. Carrega no botão ouve-se o barulho habitual e os quatro piscas acendem duas vezes.

- Quem é?
- Sou eu...
- Guilherme? Que se passa?
- Abre a porta por favor!
- Ok, ok, já abri.
- …
- O que fazes aqui a esta hora?
- Preciso de te perguntar uma coisa…
- O que foi, que coisa tão importante é essa que não podia esperar até amanhã? … quer dizer, logo, são 4 da manhã!
- Tu gostas de mim?
- Que pergunta é essa? Perguntas parvas a uma hora destas! Claro que gosto de ti!
- Não percebeste, eu perguntei se me amas?
- Guilherme Manuel Costa Silveira, tu estiveste a beber?
- Responde, Sofia!
- Não estou a gostar do tom, nem da brincadeira. Que se passa contigo?

Agarra-a pelos braços encostando-a à parede. Olham-se fixamente, os narizes não distam mais de uns centímetros.
Nos olhos dele ela vê, por detrás da raiva, um pedido de ajuda.

- Sofia… responde por favor…
- Não é a melhor altura para termos esta conversa Guilherme.
- Eu vejo nos teus nos olhos que gostas de mim! Sempre vi mas estava demasiado ocupado a ter pena de mim para tomar consciência disso.
- Guilherme não faças isto…
- Não faças o quê? Dizer a verdade? Não é isso que sempre fizemos os dois um com o outro?
- Sim, desde que nos conhecemos sempre tivemos esse pacto de verdade.
- Então porque não me disseste que gostas de mim?!.
- …
- …
- … se queres mesmo ter esta conversa, então eu respondo-te…
- Então responde!…
- Porque não me terias ouvido! Porque ter-te-ias afastado de mim…
- …
- Sim, não faças essa cara! Se tivesse dito que te amava, perdia-te…
- …
- Por isso, por mais que te quisesse como homem, preferi conservar-te como amigo a perder-te para sempre…
- Oh Sofia… como eu…
- És parvo?
- Sim…

Largara-a, dera um passo atrás e olhava-a com um olhar desesperadamente vago, de quem não sabe como pedir perdão…

- Guilherme… deixaste que a Isabel ocupasse todo o espaço do teu coração… não havia espaço para mim… percebi isso há muito…
- Mas… as tuas piadas…
- As minhas piadas são fruto da minha forma de ser, a máscara que encontrei para te testar e tentar abrir-te os olhos…
- Sim… o pior cego é aquele que não quer ver!
- Pois é…
- Quando o Carlos ontem me perguntou “quando é que arranjas uma gaja?” pensei em ti…
- …
- Aliás sempre que ele me perguntou isso pensei em ti, por mais que não quisesse admitir nem para mim próprio, foi em ti que sempre pensei…
- Guilherme não faças isto… por favor…
- O que foi?
- Não me alimentes as esperanças…
- Mas…
- Tu amanhã voltas à tua Isabel e eu … fico aqui a pensar em ti…
- A Isabel está morta…
- Pois está Guilherme mas para ti, nunca morrerá…
- Não Sofia… A ISABEL ESTÁ MORTA!

Cai de joelhos no chão num choro compulsivo… Sofia abraça-o… nunca o vira assim… nunca o vira chorar… nem na cerimónia fúnebre de Isabel o vira chorar… mas agora parecia que tinha vindo tudo de uma vez…
Sofia sentou-se encostada à parede e ele pousou a cabeça no seu colo … ainda chorava, agora já não tão compulsivamente, apenas um soluço de quando em vez… ficaram assim quase uma hora… ela a passar-lhe a mão pelos cabelos, tentando não chorar, ele soluçando num choro que parecia não ter fim…

- Guilherme?...
- …
- Queres um copo de leite morno?
- …
- ... Guilherme? …
- Sabes que só bebo leite frio.

A voz estava quase normal….levantou a cabeça e voltou a olhá-la nos olhos… o silêncio era quase total apenas a respiração dele ainda se ouvia, por ainda não ter voltado ao normal.

- Sofia… desculpa a cena…
- Não tens de pedir desculpa, somos amigos… e é para isto que servem os amigos.
- Sim somos amigos… aliás lembro-me de um pacto que fizemos, lembras-te?
- … lembro sim…
- E então que me dizes?
- Se bem me lembro o pacto era que, se ambos chegássemos aos 60 sozinhos, íamos viver juntos. Tu podes estar quase mas a mim ainda me falta uns aninhos para os 60.
- Poucos…
- Guilherme o que é que te pedi? Não brinques com os meus sentimentos, por favor.
- Não estou a brincar… estou a pedir-te que me ajudes.
- Como assim?
- Eu sei que tens razão, que deixei que a Isabel ocupasse todo o meu coração… por isso preciso de alguém que queira lutar por um espaço aqui dentro.
- …
- E esse alguém és tu! Senti-o quando o Carlos me disse aquela frase. Senti-o ontem quando nos divertíamos nos nossos passeios… acho que sempre o senti… mas não ligava…
- Guilherme… não sei que dizer….
- … diz que queres lutar por um lugar no meu coração… um lugar ao lado da Isabel…
- …estás realmente disposto a dar-me essa hipótese?
- Estou… só tu serás capaz, és a única pessoa viva, além da Helena, por quem daria a minha vida, por isso, tens de ser tu!

Uma lágrima escorre pela face de Sofia ao ouvir estas palavras… com o polegar ele limpa a lágrima numa carícia e depois puxa-a para junto dele, abraçando-a. Ela deixa-se aconchegar, é bom sentir o seu calor e aqueles braços fortes à volta dela.


(continua)


FATifer

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Parte VII


- Sim?
- Sofia… ligaste ontem mas estava na moto e depois…
- Pois a Helena disse-me que foste ver o Carlos, como está esse malandro?
- Na mesma…
- Sim esse não muda, já sabes.
- Que me querias?
- Nada de especial, só conversar com o meu amigo…
- Hum… almoçamos? Onde e a que horas?
- Pode ser… deixa ver…
- siiim…
- Diz tu.
- Pois eu vi logo que seres tu a decidir era como chegares a horas.
- …
- Sacramento…. 12:30.
- Ok até lá, beijo.
- Beijinho…

Estava a olhar pela janela do quarto, pousa o telemóvel. Entra no roupeiro “o que vestir?” pensa… decide-se, veste-se e desce…

- Bom dia filha.
- Bom dia pai.
- Não almoço, avisa a Hermínia, por favor.
- Beijinhos à Sofia?
- Quem te disse que vou almoçar com a Sofia?
- Meu pai, não insulte a minha inteligência, para além do telefonema de ontem vestiste aquela camisa que ela te ofereceu…
- Que perspicaz que é a minha filha?...
- Elementar meu caro Watson?
- Até logo Sherlock…

Desce à garagem, pega no R8. Cada curva da marginal com aquele carro é divertida, até as rotundas. Não havia tanto trânsito como esperava e arranja lugar facilmente no parque do Camões. Sobe as escadas, olha a estátua do poeta e segue em direcção à Rua Garrett. Em frente à brasileira lança o olhar de admiração à estátua do outro poeta, Pessoa. Sempre que faz aquele percurso dá com ele a pensar na velha questão “qual deles é melhor?”. A sua resposta sempre foi “são diferentes… gostava de ver Pessoa preso ao decassílabo e Camões a escrever sobre metafísica…” dependia do interlocutor o que vinha a seguir mas, invariavelmente, começava por ali. A Sofia já tinha tentado mostrar-lhe que tinha falhas esse começo mas ele usava esse facto como teste… chega de poesia que o prazer que se segue é gastronómico, pensa enquanto desce a rua Garrett. Sente o cheiro a café daquela loja que nunca decorou o nome mas o cheiro, esse sim, estava gravado na sua memória. Enfim começa a subir a Calçada do Sacramento… “espera, é a Sofia que está à porta?” pensa.

- 2 minutos atrasado, parece impossível!
- Tu esmeraste-te, sim sra.
- Não há regra sem excepção amigo, já o devias saber.
- Temos mesa?
- Sim, já pedi.
- Óptimo, after you milady.

Gostara daquela inversão de papéis. Olhava a amiga, enquanto os conduziam ao salão, era uma linda mulher a Sofia, alta, morena, olhos verdes, corpo bem torneado…

- Que olhar é esse?
- Qual olhar?
- Ok, Sr. Eng. vou fingir que não percebi…
- Estava a ver-te amiga…
- Ai sim? E então?
- Então o quê?
- Continuo toda boa ou quê?
- …
- Não me digas que encavaquei o Mr. Ice?
- Já devia estar habituado a essas tuas saídas mas…
- ahaahahaa
- …

Sentam-se e aceitam as sugestões do chefe. A Sofia pergunta logo pela sobremesa, garantindo que lhe guardam uma.

- Adoro este espaço, foi muito boa ideia termos vindo aqui.
- Pois eu sei que tu gostas, por isso escolhi.
- Como gosto dessa camisa, onde a arranjaste?
- Como se não soubesses.
- Pois é e fica-te tão bem, foi daquelas coisas que quando vi pensei logo em ti!
- Pois, pois, é como esses teus brincos.
- Sim, nunca vi nenhuns iguais… nunca me disseste onde os arranjaste.
- Tenho de ter alguns segredos…
- Não de mim.
- …
- Desculpa, falei demais.
- Não…
- Não é o que diz a tua cara…
- Mudemos de assunto, o que querias tu conversar comigo?
- Nada de especial, queria apenas conversar…
- Ah ok …

Depois da refeição decidiram andar um pouco. Ambos gostavam de andar a pé. Desceram até aos armazéns do Chiado, viraram a esquerda para a Rua do Carmo, desceram junto ao elevador de Santa Justa e seguiram a rua até chegarem à intercepção com a Rua Augusta.

- Rossio ou Terreiro do Paço?
- E se fossemos até ao castelo?
- Não achas que é muito?
- Não, estes sapatos são confortáveis.
- Se tu dizes… vamos.
- Onde tens o carro?
- No Camões, no parque, porquê?
- Eu também, estava a pensar que na volta podíamos apanhar o 28.
- O eléctrico?
- Sim, tenho saudades de andar nele.
- Ok pode ser, se não estiver cheio de turistas.
- Logo se vê, vamos?
- Vamos…

Foi uma tarde de lembranças, de momentos partilhados, conversas sobre o passado… para os dois Lisboa era assim, cada esquina tinha uma história para recordar.
Na volta apanharam o eléctrico 28, como tinham pensado. Decidiram ir lanchar ao noobai café, outro local onde adoravam ir desde que o haviam descoberto, vista belíssima e um menu recheado de pequenos prazeres.

Voltam ambos para o Camões, param e despedem-se seguindo cada um para a sua viatura.

Não lhe apetecendo ir para casa decide ir à casa dele em Lisboa. A casa de seus pais estava vazia desde que a filha o convencera a voltar à casa na linha. Voltar à Lapa era sempre recordar histórias antigas…
Entra naquela casa fechada há tanto tempo… parece parada no tempo pois não mexeu em nada e manda limpar regularmente, não há teias de aranha nem camadas de pó nem sequer lençóis em cima das mobílias… não era inocente a ida ali, a frase do amigo não lhe saíra da cabeça ainda. Precisava, procurava, uma memória que sabia inevitável quando entrasse naquela casa…

- Guilherme…
- Sim…
- Porque me trouxeste aqui?
- Não me disseste que queria ver a minha casa?
- Sim… mas…
- Se não te sentes bem aqui vamos embora.
- Não. Quero ficar… quero…
- Os meus pais estão no Alentejo, estamos à vontade.
- Guilherme…
- Sim?...

Recorda aquele olhar, fora a primeira vez que o vira e nunca mais o esquecera… Aqueles olhos diziam-lhe “come-me”… ela aproxima-se dele e sussurra-lhe ao ouvido:

- Hoje quero ser tua, só tua… toda tua…
- Isabel… mas…
- shhhhh…

Encosta-se a ele… aqueles seios encostados ao seu peito… as suas mãos escorregam da cintura dela para as nádegas, que parecem esculpidas por Miguel Ângelo ou Da Vinci… os seus lábios tocam os dela num beijo suave mas que rapidamente se torna numa dialogo de duas línguas, de duas bocas sôfregas uma pela outra. Sente as mãos dela nas suas nádegas… as suas sobem acariciando aqueles seios perfeitos… continuado a beijar-se foram andando na direcção do quarto, deixando um rasto de peças de roupa pelo caminho… ela deixava-se conduzir mas só por não saber o caminho… chegados ao quarto caem sobre a cama, ela ficou por cima, e começa a desabotoar-lhe a camisa, ele procura fazer o mesmo à sua blusa mas ela não deixa, com um olhar diz “primeiro eu”… a camisa enfeita o tapete e o cinto é o próximo alvo… a luz do candeeiro por trás dela, na mesa-de-cabeceira, permite-lhe ver o contorno dos seios, doce visão… ficou de boxers, com outro olhar ela diz-lhe “agora tu”… passa-lhe o polegar direito pelos lábios, com ambos contorna o queixo, o pescoço, até chegar ao decote… primeiro botão, segundo, terceiro… um a um vão-se soltando… a blusa cai sobre a sua camisa... mesmo através do sutiã consegue ver os mamilos rijos, empinados… retira a moldura mas o quadro não muda, aqueles seio não precisavam do sutiã para se manterem firmes e aqueles mamilos continuam a fixa-lo… levanta-se lentamente e com a ponta da língua toca na ponta do mamilo esquerdo, depois os lábios acariciam a área envolvente enquanto com a língua titila, em movimentos circulares, os biquinhos… o seio direito recebe tratamento igual, ela suspira de prazer… suavemente trocam de posições depois da saia dela ter caído por cima das suas calças. Voltam a beijar-se… com a língua percorre o contorno do queixo, desce pelo pescoço, atravessa o peito, um desvio à direita para um beijo na ponta do mamilo, ela suspira, outro beijo no mamilo esquerdo, outro suspiro, continua até ao umbigo, a ponta da sua língua perfaz o contorno, a barriga encolhe, chega em fim à borda da renda que debrua as cuecas. Levanta a cabeça, como que a pedir permissão, ela lança-lhe um olhar como dizendo “sim! Porque é que paraste?!”. Docemente faz deslizar as cuecas desvendando ao triângulo mágico… ela levanta o tronco e faz o mesmo às suas boxers, revelando o membro erecto. Estica o braço e tira algo da gaveta da mesa-de-cabeceira…

- Queres fazer as honras?

Espanta-se por não receber de volta um “o que é isso?” como esperava, em vez disso ela coloca-lhe o preservativo e diz:

- Now do it!

Os olhos dela imploravam que a penetrasse… voltam a deitar-se e suavemente inicia o coito. Os olhos dela continuam a implorar por mais, acelera o ritmo, mais e mais, gemidos enchem o quarto, qual sinfonia de prazer, beijam-se, a respiração de ambos é cada vez mais ofegante… de repente ela inicia um movimento de rotação, trocam de posições relativas, agora ela está por cima, cavalga-o com prazer… levanta as mãos e agarra-lhe os seios estimulando os mamilos hirtos de prazer… o momento está perto, não conseguirá aguentar muito mais, ela percebe –o no seu olhar mas não consegue abrandar os ritmo, não dá para aguentar mais, sente um arrepio de prazer percorre-lhe a espinha e solta um grito de prazer… os olhos dela espelham algum desapontamento… apercebendo-se que ainda não acabou, o pénis continua firme, troca de preservativo e recomeça…

- Oh yes… assim, continua…
- Gostas assim?
- Yes! Yes!

Ela atingira também o orgasmo mas o seu olhar pedia mais… continuaram… nunca tinha aguentado uma noite inteira mas naquela noite foi até o sol raiar… adormeceram exaustos nos braços um do outro.


(continua)


FATifer

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Parte VI


O vento gelado provoca uma lágrima, é altura de fechar a viseira. Está no fim da 2ª circular, entrada da A1, debruça-se sobre o depósito e roda punho. Ouvir o fabuloso som do motor que sai pelos quatro escapes da sua MV Augusta F4 1000 AGO, enche-o de uma sensação de prazer indescritível.
Vai ao Porto ter com um amigo de longa data. Os quilómetros passam, num instante está em Leiria, onde pára para reabastecer e esticar as pernas. Toma um café e come uma chamussa. Segue viagem, regista com apreço o facto de muitos automobilistas lhe darem passagem. Devora quilómetros “área de serviço de Antuã a 20km”. Pára de novo, reabastece e segue.
Para entrar no Porto prefere a ponte da Arrábida, olha a cidade, aquele rio… há algo de mágico ali… por mais que prefira a sua Lisboa, tem de o reconhecer. Nunca sabe o caminho mas também nunca se perde. Avenida da Boavista…

- Sr. Comendador.
- Deixa-te dessas coisas, pá!
- Bieste na AGO só para me fazeres inbeja!
- Aaaa…. Sim!
- Sacana…
- Tu também foste no Murciélago da última vez que foste a Lisboa?
- Sim e depois?
- Ah nada, qualquer um vai de Lamborghini a Lisboa!
- Ok pronto estás desculpádo.
- Ah pronto, assim fico muito mais descansado!
- Arruma essa coisa de duas rodas na garage.
-Ok.

Há muitos anos que se conheciam e alimentavam esta rivalidade saudável quanto aos “brinquedos”. Sempre apreciara a forma como este amigo gostava, tal como ele, dos pequenos grandes prazeres gastronómicos. Sabia que o almoço seria especial nem precisava ver a ementa.
Depois do almoço falaram de negócios. Investimentos, ideias de expansão, internacionalização. Este amigo não era o empresário português tipo, não se importava de gastar dinheiro para ganhar mais, não considerava I&D uma despesa mas um investimento, considerava a inovação fundamental. Todas estas ideias tinham sido fomentadas por ele, que não queria ver o amigo desperdiçar o império que herdara do pai. Por isso o amigo lhe dizia, sempre que lá ia: “não queres ir ver o que ajudaste a criar?”. Desta vez não houve visita, ficaram pela conversa depois do almoço. Não tinha ido lá por causa de negócios mas para ver o amigo.

- Ok pronto chega de negócios.
- Sim…
- Então e tu, quando é que arranjas uma gaja?
- …
- E não me benhas com a história que a Isabel era única!
- Mas…
- Mas uma merda! A Isabel era uma bela mulher, não contesto, mas já não está cá!
- Porque insistes tu, em dizer-me isso?
- Porque é o que tens de ouvir! Porque não posso ver-te assim preso a uma memória!
- Carlos, eu não sou como tu, não troco de mulher como de carro.
- Pois, pois atira-me essa à cara. Eu ao menos vivo o presente, se uma me começa a chatear arranjo outra!
- Sim mas assim nunca vais encontrar aquela, a especial.
- Talvez… talvez não esteja à procura, já pensaste nisso?
- O que queres que te responda?
- A isso nada, temos formas diferentes de ber a bida mas o que quero que me respondas é à pergunta que te fiz!
- Qual pergunta?
- Não te faças de parvo, perguntei-te quando arranjar uma gaja?!
- … eu…
- Tu és um parbalhon é o que és!
- Epá, já chega. Agora é que me lembrei porque não te visitava há tanto tempo…
- Sim não gostas de oubir as berdades que te digo, não éi?
- Sim, deve ser isso.
- Pronto eu paro… e a Helena quando é que se casa?
- Mas será que só pensas nisso?!
- O que foi? Já está mais que na idade?
- Oh Carlos agora parecias o teu pai a falar…
- Achas? Estás enganado, ele teria dito: “ e a Helena não se casa?”
- Grande diferença…
- Tu que dás tanta importância aos pormenores não vês a diferença?
- Sim, sim… mas deixa lá a Helena viver a vida dela como entende…
- Tu não tens emenda, serás sempre uma merda de um romântico!
- Obrigado pelo elogio.
- …
- Não faças essa cara, eu sei que, à tua maneira, queres o meu bem…
- Pois, ao menos reconheces.
- Sim amigo… eu sei que gostas de mim.
- Quê? Que conbersa é essa?
- Tu também não mudas… mas és um bom amigo…
- Ah, assim está melhor!...
- Ahahaaah.
- …
- Bem tenho de ir, obrigado pelo almoço.
- Obrigado pela bisita, és sempre bem-bindo, mesmo sendo um romântico…
- Dá cá um abraço, oh garanhão!
- Podes crer!
- Garanhão e refilão!
- … bai de bolta à terra dos mouros seu murcon!
- Estava a ver que não dizias essa tua célebre frase!
- Tinhas saudades, confessa!
- Sim… Adeus amigo.
- Até à próxima murcon.


Para baixo a viagem foi feita mais depressa ainda.
Chega a casa, arruma o brinquedo na garagem… as palavras do amigo ainda lhe ecoam na cabeça “quando é que arranjas uma gaja?”. Não era a primeira vez que ele lho dissera mas talvez tenha sido a primeira vez que ficou a pensar nisso. Pensa consigo, como se falasse com ela:

- Isabel… por mais que digas para viver… sem ti… não…
Tenho feito muito, tenho visto a nossa filha crescer, tornar-se uma linda mulher, como tu…

- Não consigo colocar ninguém no teu lugar… sim já sei, não era no teu lugar era ao lado mas mesmo assim… não consigo…

Sobe a escadas, dá consigo a pensar no que pensou naquele dia, enquanto subia a mesmas escadas, depois da cena feita pelo sogro. Dois eus dialogavam dentro da sua cabeça:

- “Volto amanhã”? não te podias lembrar de algo melhor para dizer? Como vais tu voltar aqui amanhã depois desta cena?
- Ela é linda!
- Ela é linda mas o pai é louco!
- Mas ela é linda e gosta de ti, não viste os olhos dela?
- Sim.
- Não sentiste como se arrepiou ao sentir as tuas mãos?
- Sim, sim… mas…
- Mas nada, amanhã estás aqui como lhe prometeste.
- Pois estou…

Chega à sala, olha pela janela para o banco de mármore em frente á nogueira, iluminado pelas luzes do jardim mas vê o que a sogra viu tantos anos antes, como lhe confessara.

- Guilherme… estava com medo que não viesse.
- Isabel, o que lhe disse sobre o quando digo que faço algo?
- Sim mas depois da cena de ontem…
- Como está o seu pai?
- Foi ao Porto… negócios…
- Perguntei como não onde…
- O meu pai tem uma forma muito própria de estar mas acho que percebeu que gosto de si e ele respeita isso.
- Assim espero… assim como espero que tenha percebido que eu gosto de si.
- Gosta?

Ela não tinha acabado de sorrir e sentia já os lábios dele nos seus, resistiu, mais pelo inesperado que outra coisa. Uns segundos e estava a retribuir aquele beijo que seria, sem dúvida, a melhor resposta à sua pergunta. Quando ambos perderam o fôlego as bocas separam-se mas os olhares permaneceram fixos como recuperando uma conversa interrompida…


Recordar aquele beijo era uma das formas que tinha de se convencer que o amigo não tinha razão, de que só ela podia existir dentro dele… ninguém poderia entrar…

- Pai?
- …
- Pai?!
- Ah… sim filha…
- Parecia que não estava cá…
- Desculpa filha, estava perdido nos meus pensamentos…
- Então como foi a viagem? Como está o Carlos?
- Foi boa, fui na AGO.
- Ai sim, bateu o record?
- Não!... já não tenho idade para essas coisas, fui devagar…
- Faço ideia… e o Carlos?
- Sempre o mesmo, perguntou quando te casavas?
- Hum… para não variar, já pergunta isso desde que tenho 16 anos.
- Helena, aí era brincar…
- Acha?
- Achas que não?
- Meu pai, eu acho que se eu dissesse que sim ele casava comigo!
- O Carlos?
- Sim.
- Bem se calhar tens razão… imagina que voltou a perguntar-me quando é que arranjava uma gaja? Sim foram essas as palavras dele.
- Posso não concordar com as palavras mas sabe que concordo com as perguntas.
- Helena…
- Agora percebi o que estava a fazer aí à janela… por vezes vejo que não foi boa ideia insistir para que voltássemos a viver nesta casa.
- …
- Paizinho… ah a Sofia telefonou, disse que não atendeu no móvel…
- Pois devia estar na moto, eu senti tocar na verdade…
- Ela disse que não era nada de especial só queria conversar, depois tentava de novo…
- Ok obrigado pelo recado…
- Quer jantar?
- Sim vamos….


(continua)


FATifer

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Parte V


- Bem-vinda a casa minha filha.
- Obrigado meu pai.
- O tempo passa a correr, não é?
- Eu não te disse, um mês passou num instante.
- E então, que me dizes dessa viagem?
- É ainda mais lindo do que imaginava!
- Eu não te disse? Mas vai tomar um banho e já falamos…
- Vou sim, são horas a mais dentro de um avião…

Estava feliz por ter a filha de volta, perto dele. Sentira falta daquele brilho no olhar. Agora a casa já não parecia tão vazia, a luz voltara.
Decide ir dar uma volta pelo jardim… senta-se no banco de mármore à sombra da velha nogueira que o sogro tanto apreciava. Havia quem dissesse que tinha comprado aquela casa por causa daquela árvore. Gostava de estar ali a ouvir os chilrear dos pássaros e a sentir o cheiro inebriante dos rosas… de repente parece ter regressado atrás no tempo…

- Isabel?
- Não, sou eu meu pai…
- Minha filha…
- Sou assim tão parecida com a minha mãe?
- Com esse vestido então…
- Fui buscá-lo ao roupeiro dela, é tão lindo…
- Pois é, ainda me lembro do dia em que lho ofereci… fica-te quase tão bem como a ela.
- Quase?
- Sim filha, esse vestido foi feito para ela e tu és um nadinha mais alta…
- Oh pai!
- O que te chamei quando te vi?
- Entendi meu pai…
- Por alguma razão a Sofia já me disse várias vezes que pareces a reencarnação dela.
- A Sofia…
- Não comeces, porque fui eu falar na Sofia?...
- Porque a Sofia é uma pessoa tão especial como era a mãe. E tu gostas dela, ao ponto de ouvires o que diz…
- Sim…
- Por isso insisto na ideia meu pai…
- Meu anjo, quantas vezes terei de dizer que a tua mãe foi e é, a única mulher que alguma vez amarei…
- Eu sei, ela está aí nesse cofre que carregas no peito e que tantas vezes te pedi para voltares a abrir!
- Helena…

Pega na mão da filha e acena-lhe para o seguir. Sobem a escadaria branca, entram em casa, atravessam o salão e sobem ao primeiro andar. Entram no quarto dele. A filha não percebe porquê o pai se dirige a uma parede. Ele toca em algo que ela não vê o quê e abra-se uma porta. Entram os dois para uma divisão pequena com uma decoração antiga. Numa escrivaninha está pousada uma caixa de prata rectangular. Senta-se numa das cadeiras e a filha na outra. Tira do bolso uma pequena chave com que abre a caixa. Lá dentro vêm-se dois envelopes amarelecidos pelo tempo. Abre o envelope que está em cima e retira uma folha manuscrita. Lê pela milionésima vez mas a primeira em voz alta, para filha ouvir:

“Guilherme,

Se estás a ler isto deixei-te… não por minha vontade mas porque alguma força maior assim o quis. Por mim ficaria a teu lado eternamente.

Sabes que não sou destas coisas mas tenho dois desejos:

Primeiro, continua a viver a tua vida. Sei que não me esquecerás, como eu não te esqueço a ti mas por isso mesmo, vive por mim…

Segundo, sabes o que penso da morte, faz o que sempre te pedi… naquela ponta onde a terra acaba e o mar começa, quero voar…


Por fim, porque nunca to disse, por palavras, escrevo-o aqui:

Amo-te


Sempre tua,
Isabel

PS – Cuida bem da nossa Helena meu amor.”


O PS tinha sido acrescentado, notava-se a diferença na tinta… recorda o dia, um ano depois do casamento, em que ambos tinham escrito aquelas cartas. A ideia fora dela, como brincadeira; a sua permanecia ali, por abrir…

- Meu pai, a minha mãe concorda comigo!
- Eu sei…
- Porque me mostrou isto só agora?
- Não sei… talvez porque há coisas que temos a mania que devemos guardar só para nós.
- Pai… o que queria dizer a minha mãe com o segundo desejo?
- Amanhã mostro-te.
- Amanhã?
- Sim, amanhã. Lembras-te que dia é amanhã?
- Amanhã?... ah sim…
- Amanhã vais comigo e vais saber onde vou todos os anos.

Ela olha o pai procurando nos seus olhos respostas mas o olhar dele está distante…
Guarda de volta a carta no envelope e o envelope na caixa, que fecha com a chave. Levantam-se e saem daquela divisão secreta.

Esta é sempre a noite mais dolorosa do ano, aquela em que é impossível deixar de recordar.
Todos os anos passa esta noite em branco, já se tornou um ritual. É a noite em que ela o deixou e por isso não consegue dormir. Recorda como naquela noite bateram à porta, já tarde. O Alfredo, fiel mordomo da família, bateu à porta do escritório:

- Sim?
- Sr. Eng. estão aqui dois agentes que querem falar consigo.
- Dois agentes?
- Sim Sr. Engenheiro, polícias.
- Polícias? Disseram do que se trata?
- Não Sr. Eng., apenas disseram que pretendem falar consigo.
- Muito bem… peça-lhe que entrem, por favor.
- Com certeza.
- Obrigado Alfredo.

Nunca esqueceu aqueles dois homens, um alto outro baixo e gordo que entraram com ar grave e cara fechada no seu escritório, naquela noite…

- Boa noite Srs., em que posso ajudá-los?
- Boa noite.
- Boa noite, Sr. Guilherme Manuel Costa Silveira?
- Sim, sou eu.
- Esposo da Sra. Isabel McDauglish Nogueira Silveira?
- Sim.
- Agente Silvino e este é o meu colega o agente Pereira. Lamento informá-lo que a sua esposa sofreu um acidente.
- Como?
- Não é proprietário de um Jaguar E de matrícula AF-37-52?
- Sim… é o carro da minha esposa.
- Então… esse veículo esteve envolvido num acidente…
- …
- Era a sua esposa que conduzia o veículo?
- Sim… ela foi ao Porto visitar uma amiga.
- O veículo em questão sofreu um embate frontal com um camião ao quilómetro 107 da nacional 1.
- Embate frontal? … com um camião?!...
-Sim parece que o condutor do camião adormeceu ao volante.
- ….
- Ambos os condutores tiveram morte imediata.
- É necessário vir alguém reconhecer o corpo. Lamento a sua perda.
- …


Recusa-se, até hoje, a recordar o que viu no instituto de medicina legal… não era a sua Isabel… era só um corpo ensanguentado numa marquesa fria… quando levantaram o lençol mal foi capaz do aceno de confirmação, não podia acreditar… como seria possível? Estava incrédulo, sem reacção, não conseguia sequer chorar, não proferiu uma palavra… parecia que a sua vida tinha parado ali como ele estava, imóvel, diante daquela marquesa.

Está sentado no cadeirão de couro quando a filha chega com uma bandeja.

- Passou a noite em branco mais uma vez meu pai?
- Sim filha…
- Quando vai acabar este seu ritual?
- Não sei….nunca talvez.
- Coma qual quer coisa.
- Obrigado.

Bebeu o copo de água e depois um pouco de leite com café… a custo comeu o pastel de Belém.
Levantou-se…

- Vamos?
- Vamos onde meu pai?
- Não te disse que vinhas comigo hoje?
- Sim…
- Então vamos…

Descem à garagem e entram no DB4GT. O som do motor ainda ecoa no jardim quando saem o portão.
Durante todo o percurso até ao cabo da roca, só o som do motor e o chiar dos pneus, em algumas curvas, interrompe o silêncio, entre eles nem uma palavra.
Chegaram, saem do carro e dirigem-se à ponta onde a terra acaba…

- Foi aqui que as cinzas da tua mãe voaram, como desejava…
- O quê? Que dizer que a urna no jazigo da família está vazia?
- Sim…
- …
- Leste como era sua vontade…
- … sim… mas…
- A tua mãe, tal como eu, nunca gostou de cemitérios, culto dos mortos…
- Sim meu pai, eu sei… mas … as vezes que falei com ela naquele lugar…
- Se falaste com ela… o que importa se as cinzas estavam lá ou não?
- Importa porque… sim… talvez tenhas razão mas já me devias ter dito!
- Sim, eu sei… desculpa.
- Por isso sempre falas deste lugar como sendo especial, agora compreendo o porquê…
- …

Helena olha nos olhos do pai e coloca, em seguida, a cabeça no seu peito. Ele abraça-a. Ficam ali a olhar o mar de mãos dadas, a sentir aquele vento que vem do mar, ouvido o rugir das ondas nas rochas lá em baixo…


(continua)


FATifer

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Parte IV


Entra na garagem, arruma a moto e continua a recordar como, naquele dia 42 anos antes, entrara naquela casa com ela pelo braço…

- Boa noite, que honra ser recebido à porta pela aniversariante.
- Boa noite, teve sorte estava… estava a passar perto da porta e ouvi o som da moto, por isso vim ver se sempre tinha vindo como lhe pedi…
- O quê duvidava?
- … não estava totalmente certa…
- Pois que não lhe restem dúvidas que quando digo que farei algo, faço.
- … vejo que sim.
- …
- Entremos

A casa estava já repleta de convidados, empregados vestidos a preceito circulavam com bandejas de hors d’oeurves e bebidas.

- Não sei porquê mas parece-me que não estou exactamente vestido à altura da ocasião.
- Não se preocupe está com a aniversariante.

Recorda os olhares que foi alvo assim que entrou no salão. Nunca fora de se incomodar com essas coisas mas…

- Paizinho olhe que veio à festa?
- Sr. Silveira, vejo que a minha filha lhe pregou uma partida…
- Boa noite Sr. Nogueira, sim, assim parece.
- A moto que ouvi é sua?
- Sim a sua filha insistiu que viesse nela.
- A minha filha sai a mãe…
- Pois já tinha dito…
- Mas já aqui está, divirta-se!
- Obrigado.



- Mr. Silvera, what a wonderful jacket.
- Mother, please…
- What is it? I like it.
- Boa noite Mrs. Nogueira, aparentemente a sua filha também gostou, daí ter insistido que viesse com ele e de moto!
- Oh, so that was what that sound was…
- Yes mother he helped me yet again today…
- So you told me…
- And I invited him to the party…
- And you told him to come dressed like this to a cocktail party?
- …
- I do not know here you get this from?... It must be from your father!
- Is it?
- Mr. Silvera enjoy the party.
- Thank you, Mrs. Nogueira.
- Elisabeth, please.



- Não acredito que a minha mãe lhe pediu para a tratar pelo nome!...
- …
- Guilherme … venha comigo...

Sentiu a mão dela na sua e seguiu-a… desceram até à garagem. Olha o canto onde ela parou e se virou para ele encostada ao DB4GT (o Aston Martin que continua naquele canto até hoje). Olharam-se, olhos nos olhos. Não sabe precisar quanto tempo estiveram ali a olhar no fundo dos olhos um do outro sem uma palavra.

- Guilherme… de que está à espera?
- …

Deu um passo colocou as suas mãos nas cintura desenhada pelo vestido que lhe assentava como uma luva, sentiu um ligeiro arrepio dela ao sentir as suas mãos. Sem deixar de a olhar nos olhos inclina a cabeça e…

… Treelack , Treelack

Não era preciso ser expert em armas para saber reconhecer aquele som. Vira- se lentamente e confirma o que já esperava, à sua frente estava o Sr. Álvaro Nogueira com a sua caçadeira da caça. Dois longos canos apontados a ele. Sente-a tremer atrás dele e agarra-lhe a mão firmemente. Ela contara-lhe depois que se espantara com a calma dele. Essa era outra das suas características que nunca conseguira explicar mas que também aceitava, quanto mais perigosa a situação mas estupidamente calmo parecia ficar…

- Paizinho!!
- Cala-te Isabel e sai daí!
- Sr. Nogueira …
- O Sr. também não abra a boca!
- Paizinho… o que vai fazer?
- Parece-me obvio, o Sr. Silveira vai aprender que não se deve meter com senhoritas de família!
- Mr. Nougúeira what are you doing! Put that gun away!
- Querida não te metas, isto são coisas de homens!
-…
- Can’t you see she loves him? Don’t you see history repeating itself? You, me, that wine seller?
- Isso foi diferente!
- Was it?
- Elisabeth, eu….
- Look in your heart man, you know I’m right! You saw the look in her eyes…
- …mas …
- Mr. Silvera, please leave now, my husband is not himself, I apologize.
- Não se mexa Sr. Silveira!
- Álváro!... what are you trying to prove?
- Paizinho se o vai matar terá de me matar também!
- Cala-te e sai da frente Isabel!
- Sr. Nogueira…
- Já lhe disse para estar calado homem!
- Sr. Nogueira, qualquer condenado tem direito às últimas palavras.
- Está armado em engraçadinho…
- Não Sr. Nogueira, peço-lhe apenas que me oiça e depois pode fazer o que quiser.
- Muito bem, sou um homem justo… diga.
- … a sua filha é uma mulher especial e compreendo a sua atitude mas acredite que as minhas intenções são as melhores. Não lhe vou poder explicar o que acaba de presenciar, apenas lhe direi que, se quiser mate-me mas a sua filha vai continuar a gostar de mim como eu gosto dela! Não penso noutra coisa desde ontem.
Quantos homens conhece que ficariam numa festa destas, vestidos de blusão de cabedal preto? Qual acha que possa ser a explicação senão o amor por uma mulher?
- You have to admire the courage Álváro. Listen to the man. Look at your daughter … and they make such a nice couple.
- Só tu querida para brincares numa situação destas…
- Paizinho…
- Sr. Silveira, tenho que esfriar a cabeça mas vejo que não vale a pena proibir por isso, espero que trate bem a minha filha.
Mas hoje chega, vá para casa.
- Sr. Nogueira, Sra Nogueira…
- Guilherme…
- Isabel, volto amanhã…
- Sim…

Recorda o olhar dela que tantas vezes tentou descrever à filha, quando contava aquela história mas faltavam-lhe sempre as palavras…

Sobe para casa olha o armário no corredor de acesso, ainda lá está a caçadeira, hoje apenas uma peça decorativa. Senta-se no cadeirão de couro.

- O que deseja jantar Sr. Eng?
- Não sei Hermínia…
- Posso preparar-lhe algo leve, se quiser…
- Sim talvez um pouco de salmão fumado e um pouco de queijo … e umas frutas…
- Sim Sr..
- Obrigado, Hermínia.

Estes dias custam sempre a passar, tantas memórias…
Amanhã estará melhor … pensa na filha enquanto se deixa embalar pela divina voz da Diana Krall:

“When I look in your eyes, I see the wisdom of the world in your eyes
I see the sadness of a thousand goodbyes
When I look in your eyes …”


(continua)


FATifer

domingo, 7 de dezembro de 2008

Parte III


Acordou com um raio de sol que entrava no quarto. Sempre gostara de acordar com a luz mas mesmo quando tal não fosse possível dispensava despertador, parecia que o tinha incorporado, pensava a que horas queria acordar e acordava. Era um facto que nunca conseguira explicar mas que aceitava naturalmente.
Senta-se no terraço com o seu copo de leite frio com café, uma tosta (mista, mística seria se fosse feita pela filha), e um pastel de Belém. Aprecia a vista, o cheiro das flores do jardim e o oceano à sua frente… é um privilégio estar ali, é nestas alturas que compreende porque a filha tanto insistira para voltarem a viver ali.


- Já estavas à espera há muito tempo?
- Combinámos há uma, sããú… 13:45…
- Desculpa…
- Sofia, se não te conhecesse… porque julgas que combinei aqui? Estive entretido, não te preocupes.
- Pois, sou sempre a mesma, não é?
- No dia que chegares a horas é que ficarei preocupado.
- Frontal como sempre…
- O costume?
- Sim, pra não varia…

Com um aceno tinham à frente a entrada do costume – sapateira recheada.

- As que fazes são melhores, eu sei…
- Modéstia à parte, tenho de concordar amiga.
- Mas não está má de todo…
- Sim… come-se…



- Já terminaram?
- Sim pode trazer o resto, por favor.
- O resto?
- Ah, pois é novo por aqui… são dois bifes da vazia, uma imperial e uma caneca mista, como de costume.
- Com certeza.



- Nem reparei que o rapaz era novo.
- Isso nem parece teu, estares assim distraído, que se passa? É do dia de hoje? Ou é por causa da Helena?
- Será das duas coisas, talvez… ontem parecia estar preso às memórias e claro que me preocupo com a Helena, por mais que saiba que está bem…
- A Isabel era uma mulher muito especial e a filha… digamos que parece a reencarnação da mãe!
- Sim…
- Lembro-me do dia que ma apresentaste… impossível ficar indiferente…
- E eu lembro-me do sorriso malandro com que me disseste depois:” se fosse gajo!…”
- Pois foi… era uma mulher digna de ser invejada, se eu fosse dessas coisas. Quantos anos faria hoje?
- 57…
- Como o tempo passa…
- Pois é…
- A Helena já fez 25 não foi?
- Sim…
- Amigo… não tenho de te lembrar todos os momentos felizes que tiveste com ela a teu lado, pois não? Até porque não saberei de todos…
- Era esse o sorriso malandro que falava há pouco, esse que é só teu!
- Ainda bem que também te fiz sorrir. Estava a ver que não te arrancava essa cara nostálgica…

Outro aceno, agora ao empregado do costume.

- Aqui tem os cafezinhos Sr. Eng.
- Obrigado.



- Onde me levas amigo?
- Já vais ver…

- Devia ter adivinhado…
-Sim… devias…
- Miradouro de S. Pedro de Alcântara… a Isabel adorava esta vista…
- Sim amiga, era uma das muitas coisas que partilhávamos…
- É sem dúvida espectacular…
- …
- … continua a doer-te tanto a falta dela?
- Não te dói a falta do João?
- Sim mas é diferente, ele deixou-me…
- Desculpa, fui cruel…
- …
- Sim amiga, sinto a falta dela….sentirei a falta dela até morrer…
- …
- Obrigado por me fazeres companhia hoje…
- Não tens de agradecer… somos ou não somos amigos?
- Somos… claro que somos!
- Então e para que servem os amigos senão para as ocasiões?
- …
- Quando o João me deixou quem ofereceu o ombro?
- Touchet
- Esta vista é linda, mesmo…
- Pois é…


Deixou a amiga em casa e regressa à sua… a marginal sempre o maravilhara, as vistas, é um percurso especial…
Entra em casa…

- Sim
- Papa?
- Sim filha…
- Como passou o dia?
- Bem… a Sofia fez-me companhia…
- A Sofia… hum…
- Lá estás tu!
- Eu o que foi pai?
- Tu sabes… já te disse que a Sofia sempre foi e sempre será uma boa amiga.
- Bem boa!
- Helena!
- Ok paizinho, eu não insisto…
- Então e tu, por aí?
- Estou óptima, amanhã vou ao lago Taupo.
- Fazes bem, vais gostar…
- Wait a minute Martin! Desculpe paizinho tenho de ir…
- Vai filha, diverte-te! Beijinhos.
- Beijinhos papa.

Desce de volta à garagem… blusão de couro vestido capacete na mão, olha… por mais que tenha por onde escolher hoje teria de pegar na R69S, aquela BMW era especial, por isso insistia em mantê-la a andar… o som do motor boxer ecoa naquele espaço, respira fundo, monta e arranca…
Inevitavelmente recorda os acontecimentos deste dia 42 anos antes, como a vida encontrara maneira…

- Sr. Guilherme Silveira?
- Menina Isabel…
- Com esse blusão nem o reconhecia.
- Fico assim tão diferente?
- Talvez não, apenas não estava à espera de o ver assim…
- Então o que faz aqui?
- Aaa… para ser honesto…
- Não me diga que veio à minha procura?
- Aaa… não… vim…
- …
- Não faça essa cara… pronto, eu confesso vim sim, tinha de passar por aqui e como disse que estudava por cá… sim estava a ver se a via.
- Muito bem, ao menos admite.
- Sim, admito… não vale a pena negar, esses olhos parece que me trespassam os pensamentos.
- Bem… tenho de ir senão chego atrasada a minha festa de aniversário.
- Faz hoje anos?... então os meus parabéns.
- Faço… obrigado.
- …
- O meu carro está para ali.
- Se me permitir, eu acompanho-a.
- Se quiser…



- Olhe para aquilo! Eu não digo que este carro está enguiçado?!
- Pois começo a ver que tem razão… mandou arranjar o pneu?
- Não, o meu pai mandou colocar novos.
- Suplente também?
- Sim…
- Então desta vez posso mudá-lo…
- Não… não lhe posso pedir isso…
- Não tem de pedir … eu é que ofereci…
- Guilherme…
- Menina Isabel, não custa nada, é um instante… e não a posso deixar chegar atrasada à sua festa de anos!



- Já está!
- Obrigado…
- Ora essa…
- Guilherme, quer vir à minha festa de aniversário?
- Não tem de me convidar só porque lhe mudei o pneu…
- Estou a convidá-lo porque me apeteceu fazê-lo, logo que o vi….
- … ai sim?
- Sim! Quer vir? Já conhece a morada…
- …não sei se devo aceitar?…
- Vai fazer-me essa desfeita!?
- Menina Isabel … não faça essa cara… já sabe que vou…
- Sei?
- Sabe, … leu-o nos meus olhos quando me convidou, por isso sorriu…
- Guilherme, faça-me um favor, não troque de roupa e vá na sua moto.
- Quem lhe disse que estou de moto?
- Com esse blusão… como não estamos no carnaval, tem de estar de moto!
- …
- … estou errada?
- Não, não está...
- E então posso contar com a sua presença?
- … sim lá estarei.
- Então pode aparecer por volta das 19:30.
- Muito bem.
- Obrigado, mais uma vez e até logo.
- Até logo menina Isabel.

Ao regressar do seu passeio recorda o sorriso dela ao vê-lo chegar na sua R69S… percorre o acesso à casa, como fez anos atrás e parece que a vê à porta… doce ilusão de óptica… naquele vestido cumprido parecia uma princesa. Fora naquela noite que decidira que conquistaria aquela mulher…


(continua)


FATifer

sábado, 6 de dezembro de 2008

Parte II

Sentou-se no cadeirão de couro, uma das peças mais clássicas (e antigas) daquela casa, que resistia às tendências modernistas da filha. Pega no disco favorito dela, uma das primeiras prendas que lhe oferecera no inicio do namoro. Coloca no prato… a agulha toca a superfície

“I’ve got you under my skin…
I’ve got you deep in the heart of me”

Ela adorava “the voice” e esta era uma das suas músicas preferidas de Sinatra. Hoje parecia que estar preso às memórias… volta recordar…

- Falando dela… a minha esposa Elisabeth.
- Encantado sra.
- A gentleman for a change... excuse me, but I do not dare speak in Portuguese.
- Percebe inglês, espero?
- Sim, yes….
- Este cavalheiro teve de trazer a nossa filha a casa pois ela esqueceu-se de mandar arranjar o pneu, como lhe tinha dito!
- Paizinho…
- You should have taken care of that yourself, you know she does not pay attention to those trivial things.
- Sim querida, eu sei… ele vai jantar connosco, a nossa filha convidou.
- Where were you Isabél?
- No guincho mother.
- I should have guessed! And if this nice gentleman was not there?...
- Mother please!...
- Bebe alguma coisa?
- Aaa…sim aceito…
- Moscatel?
- Sim pode ser…

Levanta-se, o bar já não está no mesmo local em que estava naquela noite mas o moscatel roxo, que lhe tinha oferecido o futuro sogro, sempre figurara como opção naquela casa. Serve-se enquanto relembra a forma como o Sr. Álvaro Nogueira o servira. Ex cônsul em Inglaterra, onde conhecera a esposa, era um homem com uma forma de estar muito própria. Embora visivelmente estivesse habituado a um certo requinte, não escondia alguma rudeza de modos, patente na forma fechara a garrafa com uma pancada brusca e seca. Da mesma forma que a esposa insistia em não falar em português, ele insistia em falar com ela só em português. Tinha mesmo uma forma de estar muito própria…

- So Mr.?
- Silveira, Guilherme Silveira.
- You saved my Isabel from a cold night out and here you are… I hope you like rabbit ?
- Sim… aaa… yes…
- Vejo, está baralhado, não sabe se deve responder em português ou inglês, não é?
- Exacto!
- Either way I can understand you Mr. Silvera.
- Sim… well…
- Pois faça como eu, fale em português que é nossa língua!
- O meu pai bem queria que a minha mãe falasse em português mas…
- Your father would enjoy that, so he could embarrass me as I embarrassed him once.
- Querida isso foi há tanto tempo…
- But you still remember it… I know you, Mr. Nougúeira!
- Querida…
- Guilherme… posso tratá-lo por Guilherme não posso?
- Sim claro…
- O que me diz deste coelho?
- Está muito bom e o vinho liga muito bem.
- Sim, o que quiser saber sobre vinho pergunte ao meu pai!
- Como caracterizaria este vinho Sr. Silveira?
- Frutado, com sabor a frutos silvestres e madeira… diria que é um douro jovem.
- Hum… muito bem, vejo que sabe algo sobre vinhos.

Saboreia um Esteva que escolhera para acompanhar a pizza que pedira pelo telefone… jantar de recurso por ter dado folga à empregada. Lembra-se da cara que ela fizera ao ver que o pai tinha gostado da sua resposta, teria sido ali que começara a conquistar a sua Isabel…
Voltou ao cadeirão, café pousado na mesinha de apoio ao lado do Talisker, pega no comando do cd player… o som do piano de Keith Jarrett enche a sala “The Köln Concert”, uma prenda da filha que sabia tão bem o que ele gostava.
A chávena do café está já vazia e do whisky sobra apenas o último gole que ele tarda em engolir, brincando com o líquido até deixar os bordos da língua dormentes. Recorda agora o final daquela noite…

- Sr. Silveira uma vez mais lhe agradeço a sua gentileza para com a minha filha.
- Ora essa, eu é que tenho de agradecer por este jantar maravilhoso.
- Mr. Silvera thank you.
- Mrs. Nogueira, thank you for your hospitality.
- Eu acompanho o Guilherme à porta…
- … obrigado.
- O meu pai gostou de si e eu também. Ainda bem que aquele pneu furou.
- Confesso que, quando decidi ir ver o pôr do sol ao guincho nunca imaginaria que fosse dar nisto…
- A vida tem destas coisas…
- Pois tem… e como vou conseguir voltar a vê-la?
- A vida arranjou maneira uma vez… mas caso precise de uma ajuda eu estudo na Faculdade de Letras.
- Muito bem…
- Boa noite Guilherme.
- Boa noite menina Isabel.

De pé à janela, olha a rua que percorreu tantos anos antes, está diferente mas igual… a lua cheia, tal como naquela noite, ilumina-lhe os pensamentos.
Como estará a filha? Onde já se viu ir sozinha para tão longe? Tinha-se oferecido para ir com ela mas, tal como a mãe, ela era muito teimosa. A culpa era dele por lhe contar as histórias da vida dele… a ideia de visitar a Nova Zelândia sozinha tinha que ter vindo das histórias que ele lhe contara… aquela viagem de lua de mel que lhe tinha contado tantas vezes em pequena… no fundo sabia que a filha tinha razão, que era mais que capaz de cuidar dela e até estava feliz de a ver a concretizar um sonho mas, pai é pai e preocupa-se.

Volta a sentar-se no cadeirão com mais um pouco de Talisker no copo… saboreia enquanto brinca com o copo, equilibrando-o em dois dedos.
Olha o retrato da sogra, Elisabeth, a filha é a imagem da avó e da mãe: alta, loura, olhos muito azuis, (de pomba dizem alguns), faces rosadas, feições perfeitas, figura esbelta… seres divinos, era a melhor forma que sempre arranjara para as caracterizar.

Amanhã será outro dia mas não deixará de pensar na filha!

(continua)


FATifer

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

A prenda de anus da Afrodite

.
Introdução:

Depois de a Afrodite me presentear com a informação do que gostaria de receber de prenda de aniversário (com detalhes) e eu ter dito que lha comprava... lá tive de ir eu à busca.

(Aqui podem imaginar a música da pantera cor-de-rosa).

Com a ajuda virtual do nosso amigo FATifer, descobri que existiriam uns mil e quinhentos modelos diferentes no mercado e decidi que o melhor seria mesmo ver in loco numa loja o que, realmente, estaria disponível. Portanto...

Local do 1º crime:

(Depois de inclinar várias vezes a cabeça tentando perceber para que serviriam alguns dos objectos expostos):

Dona da loja - Bom dia, se precisar de ajuda, disponha.

Pax - Hummm... hammm... é que... tem disto em roxo? (Apontando com o dedo, mas a uma distância segura)

Dona da loja- Desses não, mas destes tenho. Gosta deste?

Pax - Hammm... é liso demais. É que não é pra mim...

Dona da loja - Então e este?

Pax - Esse parece-me pequeno demais. É que não é pra mim...

Dona da loja - E este?

Pax - Tem de ser roxo. É que não é pra mim...

E lá saí da loja sem nada que correspondesse aos requisitos mínimos para satisfazer uma deusa e depois de ter levado com o olhar da dona da loja que eu tenho a certeza de que significava "Sim, sim, eu acredito mesmo que não é pra ti".

Portanto...

Local do 2º crime, ou seja, outra loja a 10 Km de distância da primeira e depois de olhar novamente todas as prateleiras:

Dono da loja - Posso ajudar?

Pax - Hammm... hummm... disto em roxo, há?

Dono da loja - E tem de ser em roxo?

Pax - Sim... sabe, é que não é pra mim... e tem de ser macio...

Dono da loja - Em roxo e macio tenho estes.

Pax - Hammm... acho grande demais... é que não é pra mim...

Dono da loja - E este?

Pax - Ah! Esse parece-me bem! É isso mesmo! Embora não seja pra mim...

E lá o dono da loja me fez o embrulho depois de eu lhe ter percebido aquele olhar de "Pois, pois, como se eu não soubesse que é pra ti".

Nem vale a pena dizer o que foi a prenda de anus dela, pois não?

E pronto, mais uma vergonha que a Afrodite me fez passar.
Ainda se fosse pra mim!


Nota nº 1: Por saber que (inclusive) os pais da "bebé" estariam na festa, certifiquei-me de que abrisse a prenda três dias antes, para evitar futuros posteriores embaraços públicos.

Nota nº 2: Chamei "vergonha" à minha aventura nas lojas porque ainda não tinha chegado a noite da festa e a minha prenda ainda não tinha sido devidamente apresentada e explicada por ela a cada um dos mais de quarenta amigos e familiares convidados...


Resumo final:

Adorei a festa e a companhia! Obrigaaaaada amiga! :)
:)

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Parte I

Sentado no lugar da janela, pensava na vida enquanto olhava o mar. Lindas imagens que guardaria na retina estivesse ele a ver… mas naquela carruagem da linha de cascais só estava o corpo, a mente estava do outro lado do planeta. Pensava nela. Se estivesse a ver a paisagem apenas se lembraria dela também. Como ela adorava aquela paisagem, tanto que o tinha convencido a vir viver para ali, ele que até estava tão bem em Lisboa. Ela, como estaria ela? Num país estranho, longe dele… por mais que cresçam, para os pais, os filhos serão sempre uns meninos e ela é a sua menina!
“Onde estás tu? Com quem?...” pensa…

- Sim…
- Papa? Não sei porquê mas achei que devia ligar…
- Minha filha, que bom ouvir-te… estava mesmo a pensar em ti…
- Pois, não sei explicar como mas parece que o senti… mas já disse que estou bem. O ambiente é excelente, todos me tratam muito bem…
- Sim mas…
- Meu pai, a sua filhinha já é uma mulher, capaz de tomar as suas decisões e viver com elas!
- Eu sei… mas sinto a tua falta meu anjo…
- Oh pai! É só um mês, passa num instante, vais ver!
- Eu sei, eu sei mas sabes como é ser pai e mãe tem destas coisas…
- … sim eu sei paizinho… mas já disse que estou bem, acredite em mim…
- Eu acredito…
- Tenho de ir, beijo grande!
- Outro, meu anjo, obrigado por teres ligado…

Aquela filha era a sua vida. Desde que a mãe morrera, tinha apenas 3 anos, fora pai e mãe, nunca se arrependera da dedicação que tinha devotado àquela filha… via nela a mulher por quem se tinha apaixonado e que o destino lhe roubara. Tudo faria para que tal não voltasse a acontecer. No que dependesse dele a sua menina teria uma vida longa e feliz.
O sol começa a mergulhar nas águas… uma visão que lhe trás doces memorias. Recua anos num instante, de repente está naquela praia de novo, naquele por do sol onde vira um ser divino que mais parecia uma visão. Ainda hoje, por vezes, duvida se não teria sido um sonho mas não tinha sido. Ela existira mesmo e tinham sido tão felizes… relembra a situação, o conjunto de circunstâncias. Sempre que conta a história, os comentários são os mesmos “parece cena de filme!” ou “estava escrito!”… sorri e pensa “a minha menina fará o mesmo um dia… só espero que tenha a sorte que tive com a mãe dela…” volta a memória da primeira conversa…

- Desculpe podia ajudar-me por favor?
- … sim… mas em que posso ajudá-la?
- Tenho pneu em baixo e…
- Aaa… pneu… sim com certeza…
- Pois nunca tive muito jeito para estas coisas…
- Ora essa não custa nada, é instante…
- É um cavalheiro.
- …
- Este carro parece que está enguiçado!
- Olhe que, infelizmente, vou ter de concordar pois, eu até lhe mudava o pneu mas este também está furado…
- Oh, que cabeça a minha, esqueci-me de o mandar arranjar! E agora?!
- Agora, se confiar que sou na verdade um cavalheiro, deixa-me que a leve a casa e chama um reboque para vir buscar o seu carro.
- Pois estou a ver que não tenho alternativa…
- Vejo que afinal não lhe inspiro tanta confiança assim…
- Oh! Não! Desculpe, de modo nenhum, não foi nesse sentido…
- Não se preocupe, não ofendeu. Até a compreendo mas, dado que estamos onde estamos, não vejo que tenha outra hipótese senão confiar em mim.
- Pois, tem razão…
- Vamos?
- Vamos, deixe-me fechar o carro.

Quando naquele dia tinha decido ir ver o por do sol ao guincho, nunca poderia pensar que voltaria acompanhado da mais linda mulher que alguma vez tinha visto. Impossível esquecer aquela voz, aqueles olhos… e tudo o resto!

- É já ali…
- Está entregue então.
- Sim… mas entre por favor, vai jantar connosco.
- Não… não tem necessidade…
- Eu insisto, até porque é a melhor forma de explicar ao meu pai porque estou a chegar a casa no carro de um estranho.
- Hum… bem… sendo assim…

Sim, vendo bem, parece mesmo cena de filme… era a paragem dele, as memórias ficam para mais tarde.
Entra em casa.
Está tudo um pouco diferente do que era naquele dia, há tantos anos atrás, quando entrara naquela casa acompanhado de tão linda mulher. A filha insistia em actualizar o estilo de decoração e ele gostava porque, até nisso, saíra à mãe. Recorda a cara daquele que seria o seu sogro ao vê-lo chegar àquela casa.

- Paizinho, não faça essa cara ou queria que ficasse no guincho a olhar para o pneu?
- Mas…
- Foi um cavalheiro … eu é que me esqueci de mandar arranjar o pneu.
- Guilherme Silveira, muito prazer.
- Álvaro Nogueira.
- Desculpe esta invasão mas a sua filha insistiu…
- A minha filha é assim, leva sempre a dela avante, sai à mãe!…
- Paizinho, então?!

Parece que ainda estava a ver aquela expressão que tantas vezes depois a tinha visto fazer, dirigindo-se a ele… ela era linda, até quando estava indignada. Muitas vezes pensara quando se havia apaixonado por ela… teria sido quando ouviu a voz? Ou quando a viu? Ou teria sido ao ver aquela expressão?

(continua)


FATifer

domingo, 30 de novembro de 2008

A vida é bela…

Ele gostava de andar. Andava depressa, por vezes até curvado para a frente, numa postura muito própria, inconfundível diziam. Pensava em mil coisas sem deixar de estar desperto para o que o rodeava… “olha aquela loja é nova, isto também estão sempre a mudar” pensava…
De repente:

- Ah!! Desculpe!
- Eu é que peço desculpa, não a magoei, pois não?
- Não, eu é que o pisei!
- As botas não se magoam…
- Desculpe mais uma vez…
- Nada, bom fim-de-semana.
- Obrigada, também para si…

“Olhos azuis, cabelos castanhos avelã, ondulados, pela cintura, corpo esbelto e ainda pede desculpa? Chocava consigo todos os dias…” pensou enquanto seguia o seu caminho. Continuou a caminhar pensando como a vida é engraçada, como tinha acabo de esbarrar numa linda mulher… alguns veriam nisso destino, outros coincidência, ele apenas acaso. Acaso que, como sempre não aproveitou. “Podias ter oferecido ajuda com as compras! És mesmo parvo!”. Pensava para com ele. “Se fosse o Alberto até já tinha o número dela. Pois mas eu não sou o Alberto”. Este monólogo/diálogo interior durou até chegar à porta de loja. Entrou. “O que é que preciso? Ah sim, cebolas… sim, alho francês, cenouras, courgette… batatas tenho… sim para a sopa é tudo o que preciso…. e mais?… leite! Sim e pão…”. Compras feitas volta para casa e faz o jantar. Gostava de cozinhar mesmo que só para ele. Era algo que o distraia.
Jantar feito, mesa posta “ vamos ver as mentiras de hoje” pensou enquanto ligava a tv. Pouco tempo depois estava a procurar um cd para ouvir, não havia paciência… “sim este, é mesmo esta voz que preciso ouvir”. Enquanto a música inundava a sala, começou a saborear o bife,”hum… é tenro, um pouco mais de picante”. Deu consigo a pensar de novo naquela mulher, que agora até já duvidava se teria sido real ou apenas um sonho “Aqueles olhos… aquelas mamas!... sim és parvo mas já o devias saber…” pega no comando “tenho de mudar de música, para ver se deixo de pensar em coisas parvas. Aquela mulher… bolas escolhi o cd errado! Ou será que vou ficar a pensar nela na mesma? Sim… a culpa não é da música! Por mais que não ajude esta voz sensual a dizer “I got you under my skin…”a culpa não é da música…”. Levanta-se e vai buscar uma peça de fruta, corta a maçã, descasca-a (an apple a day…) continua a pensar nela, como é impossível para ele esquecer aquela visão… “a vida é engraçada… ou será que é apenas um cómico que gosta de brincar com a desgraça?” voltou o diálogo interior. O que pode fazer, sempre teve essa mania de pensar demais nas coisas… senta-se no cadeirão com o cálice de brandy e o café… deixa a música embalar-lhe os pensamentos… “amanhã vai ser óptimo!” pensa, enquanto sente o aveludado do último gole de brandy a percorrer-lhe os bordos da língua…

- Estou?
- Que bom é ouvir-te…
- Sim está tudo pronto para amanhã, vai ser um lindo passeio vais ver!
- Não, não, não precisas de levar nada, comemos num restaurantezinho que eu conheço, vais ver, vais adorar!
- O quê? A que horas? Mas já não tínhamos combinado às 9h! Ai cabecinha esquecida…
- Sim também gosto muito de ti.
- Beijos, bons sonhos e até amanhã…

“Sim amanhã vai ser um lindo passeio, ela vai adorar!” diz para si, enquanto arruma a louça na máquina.
“A vida é bela…” é a última coisa que pensa antes de adormecer…



FATifer

sábado, 29 de novembro de 2008

Revisão da equipa

É com um sentimento de tristeza que resolvemos rever a equipa de autores deste blog. A ausência prolongada da China Girl leva-nos a considerar que ela não deve continuar a figurar como “membro desta Orgia”. Gostávamos de considerar isto como um “até breve” pois, caso assim o desejes, poderás voltar – as portas deste espaço estarão sempre abertas para ti!

Fica o registo pois certas coisas devem ser explicadas.

Em nome dos membros desta orgia de palavras,
FATifer

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Uma vida (III)

.
Acabara de almoçar e chegara-se à janela.
O mesmo gesto de cada inicio de tarde que mantinha ainda hoje.
Já lhe fugira a juventude mas não o lamentava. Não tinha porque o lamentar.
Tinha sido feliz!

Conheceram-se naquela casa. A casa dos seus pais. Era quase uma criança e amara-o no primeiro olhar.
Amara-o num olhar e na certeza de que nunca ninguém mais lhe ocuparia o coração.
Ninguém nunca a conhecera tão bem. Nunca ninguém o conhecera tão bem.
Sabiam-se com o olhar. Sabiam-se com a pele. Sabiam-se em cada toque e em cada gesto.
Ele dera-lhe tudo o que uma mulher poderia ambicionar, tudo.
Amaram-se por décadas.
Ele fora-se e desde esse dia que o chorara todas as tardes para, no final, enxugar as lágrimas, cozinhar o jantar, recolher-se no luto, comer em silêncio e no escuro da noite anestesiar a dor, até à manhã seguinte.
Desde o dia em que se fora que o chorara todas as tardes. Só e apenas à tarde, ao assomar-se à janela e ao lembrar-se de momentos...
Agora chorava ao assomar-se à janela... lembrando-se do tempo em que não chorou. Em que não tinha motivos para chorar... em que Ele não lhe tinha deixado a falta para sentir...
Já lhe fugira a juventude mas não o lamentava.
Tinha vivido a melhor vida possível. Tivera luxo, prestigio e Amor.
Tivera tudo o que escolhera ter.
Fora tão feliz com Ele... e sempre lhe pertencera. Pertenceram-se.
Viveram metade de um tempo, metade de um espaço, em duas metades de um ser completo. Duas metades de felicidade dividida e em que sempre se pertenceram.

No caminho que olhava agora, quase o vira afastar-se. O ritual de quase todas as tardes e de quase toda uma vida. Sabia onde ia, sempre o soube.
Médico. O melhor partido da melhor família da região e seu pai não hesitara em aumentar o seu já farto património.
Fora-se. Finalmente. Também ele se fora mas por ele não chorava. Não lhe dera quase nada. Dera-lhe quase tão somente o que nunca soubera que, por décadas, lhe tinha dado: as tardes de quase todos os dias.
Libertara-a.
Todas as tardes olhava o caminho nesta janela, onde o esperava afastar-se... Depois, descia ao quarto dele e com Ele, entre lençóis de linho, consumava o seu Amor.
Trabalhara naquela casa durante décadas e guardara todas as tardes para dois...
Nunca casara e, Ele sim, fora unicamente seu.
Amaram-se e conversaram até ao último dia da sua vida.

Chorara-o em cada tarde desde que Ele se fora mas a partir de agora, que ele já não estava... já poderia chora-lo sem hora marcada.
.

domingo, 23 de novembro de 2008

The blogo-en-gate (tipo watergate mas sem water)

. .
Depois de um destes dias ter lido um post que referia que 90% das mulheres que têm blogues os têm para terem alguém que as coma, achei (mesmo, mesmo) que tinha perdido o meu sentido de humor algures pois não consegui perceber como é que, nas respostas das bloggers femininas, havia tantos "AHAH", "EHEH", LOOOL's e afins.
.
Desde quando na evolução da valorização feminina isso se tornou num elogio ?!
.
Ando mesmo desactualizada!
.
Portanto, em cruzada pela tentativa de actualização e, principalmente, da recuperação do sentido de humor perdido, acabei por chegar à seguinte conclusão:
.
Não, não é para terem alguém que as coma. É mais para terem alguém de jeito que lhes sirva o comer!
.
Mesmo que não tenham blogues para serem comidas ou não queiram ser comidas (que até deve ser doloroso - que o diga o Magalhães), pelo menos regalam a vista!


















AHAHAHAH !



















EHEHEHEH !!



















LOOOOOOOL !!!


Pronto, pelo menos a parte da recuperação do sentido de humor acho que consegui :)

Mas...
.
É suposto as mulheres acharem graça a isso?! (Digam-me a verdade, eu acho que aguento)
.
E... .

Se fizessem uma estatística desse tema, que tipo de números acham que seriam os mais correctos?
.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Enfrentar os nossos “medos”…

Hoje voltei a andar de moto4!

Para quem não saiba a história, pensará “e depois, o que tem isso de especial?” Eu explico…

Aproveito para contar como vim parar a este mundo da blogosfera…

Então foi assim… tal como hoje, integrado num evento da empresa para a qual trabalho, havia um passeio de moto4. Por um conjunto de circunstâncias (há coisas que parecem que estão escritas – voltarei a esta ideia mais à frente) dizem (não me lembro) que consegui fazer um mortal com a moto mas a “aterragem” não foi suave… a sorte foi que a moto caiu ao meu lado e não em cima de mim (senão, provavelmente não estava aqui a escrever estas linhas). Conclusão: clavícula e 6 costelas partidas, estadia no hospital inevitável e 3 meses de baixa…
Foi neste período de baixa em que, com um braço ao peito, não tinha muito que pudesse fazer, decidi ver pela primeira vez um bog… como todos devem saber, lê-se um, vê-se outro, começa-se a comentar e tal… depois surgiu o convite da nossa deusa para escrever aqui e pronto, aqui estou…

Bem, introdução feita, penso que agora todos entendem o título deste texto e o que tem de especial ter andando de moto4 hoje. Sou do tipo de pessoa que acredita que quando se cai de um cavalo deve-se voltar a montar e foi o que fiz. Continuo a não achar grande piada a este veículo, que considero estranho (um guiador e 4 rodas não combinam). Entendo quem gosta e tem prazer com uma moto4 mas eu não estou nesse grupo. No entanto tinha de provar a mim próprio que essa opinião é verdadeira e não condicionada pela má experiência que relatei. Foi o que hoje fiz e sinto-me bem por isso.

Voltando, como prometi, à ideia que há coisas que parecem estar escritas, por vezes pergunto-me se já teria entrado neste mundo da blogosfera não fosse o conjunto de circunstâncias que relatei? Será que já teria visto um blog?
Como já disse, gosto de viver aproveitando tudo o que acho que devo do que a vida me proporciona. Assim terei de dizer que é interessante como de uma experiência, à partida pouco agradável, como é partir 1 clavícula e 6 costelas, se pode retirar algo tão agradável como ter lido tudo o que li em cada um dos espaços (de muitos de vós) que já visitei, de ter deixado a minha opinião e comentário, trocado ideias, e ter tido a honra de ter sido convidado para escrever aqui. Muitos provérbios poderia aqui citar mas não preciso, cada um de vós se lembrará de um…

Hoje voltei a andar de moto4 e sinto-me bem!

Votos de bom fds para todos,
FATifer

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Uma vida (II)

. .
Cansado.
Era como se sentia desde há muito. Cansado.
Acabara de deixar a casa dela pela última vez e sentira-o.
Também ela o sentira. Aquele "até amanhã" fora apenas um murmuro. Vira-lhe as mesmas lágrimas de tantos fins de tarde mas, desta vez, ela não tentou esconde-las: fixou o vazio e, pela primeira vez em tantos anos, não o olhara nos olhos.
Sentia que já não tinha forças para manter o ritual de décadas e ela sabia-o.
Ambos sabiam que já só vinha pelo ritual. Como sempre souberam que só saía pelo mesmo... mas já não importava onde estava: era só já e apenas o cumprir de um ritual.
Há muito que conversavam em silêncio; o silêncio de quem já quase tudo dissera e já quase tudo sentira.

Perdera as forças e, com elas, as memórias...
Mas lembrava-a... linda. Lembrava-lhe o sorriso que lhe iluminava o dia, quando passava a cavalo. Lembrava o dia em que desmontara e a beijara, num impulso. Do primeiro toque e do desejo que, de tantos mais, lhes perdera a conta e de quase todas as tardes em que, entre lençóis de linho, se amaram; desesperadamente contra o tempo...
Mas já nem sabia se alguma vez tinham, verdadeiramente, falado.
Sabia que lhe dera quase tudo. Dera-lhe quase todas as tardes de quase sempre. Dera-lhe quase todo o seu Amor e quase se dera a si próprio. Dera-lhe quase tudo em forma de quases. Os quases todos de quase tudo o que até já quase lhe sabia fugir...

Cansado.
Via a sua própria casa, naquela pequena elevação no final da aldeia, quase como inalcançavel.
Aos oitenta anos, o percurso de uma vida parecia-lhe, agora, muito mais longo.
Sabia que o jantar o esperava. Nestes dias de Inverno, de tardes mais curtas, o jantar era mais cedo e quase sempre lho fizera em silêncio... como quase sempre em silêncio o comiam.
Sabia que ela só conversaria na manhã seguinte. Como se precisasse da noite para esquecer de onde ele vinha. Outro ritual. Como se precisasse de dormir, de esquecer, de voltar a renascer e viver, para recordar tudo de novo e só para de novo o precisar esquecer.
Nunca o recriminara por palavras, apenas e só com a tristeza de mais um e outro doloroso silêncio.
Lembrava-se de que já tinham falado e da admiração que lhe merecia...
Só já nem sabia se alguma vez a tinha, verdadeiramente, amado.

Apenas agora via o seu maior erro:
A ilusão em que vivera e a desilusão em que fizera viver.
Rendia-se, finalmente, ao que se recusara a aceitar:
Que só se vive uma única vez e numa única vida.
Achara que quase vivera duas... mas apenas vivera e fizera viver os quases dos quases das suas quase metades.
.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Que saudades!

É verdade, estava cheio de saudades de andar na minha linda moto! Tenho de empregar a (hoje em dia tão tristemente banalizada) expressão “ não há palavras” porque, neste caso, aplica-se! Só quem anda de mota (e gosta de andar) sabe o que é estar duas semanas sem o fazer... Hoje quando a liguei (ainda por cima afinadinha como está depois da revisão) foi… uma maravilha! … é tão bom podermos fazer algo que gostamos…

De volta ao meu dia a dia… ;)

FATifer

PS- as minhas desculpas a todos por ainda não ter posto as leituras em dia mas… I will!

domingo, 16 de novembro de 2008

De volta…

Pois é estou de volta ao nosso rectângulo à beira mar plantado (vá lá não façam essa cara, eu sei que foi óptimo não terem de me aturar durante 2 semanas mas vá, disfarcem lá um bocadinho :P)

Ficam uma pics de onde estive:



Do que vi:




E do que não vi:




… agora tenho de responder aos mails, comentar o que tenho a comentar… enfim, vou voltar também a este mundo…

Votos de uma boa semana para todos,
FATifer