domingo, 27 de dezembro de 2009

Introspecção…

Dou por mim pensando nestes versos de Pessoa, do poema “Tabacaria” (Álvaro de Campos):

“Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.”



“Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto...”


Pergunto-me porquê? Porque será que me revejo nestes versos mesmo sabendo que não deveria ter razões para tal?...
Insisto em tentar perceber mas sei que não encontrarei resposta… ou será que a resposta está num outro verso do mesmo poema?...


“E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto”


Será que sim?



FATifer

22 comentários:

  1. Talvez. Costuma-se dizer que só reclama quem está mal, é possível que só questione quem está mal disposto. Pelo menos é nessas alturas que começam os "Por que é que estas coisas só me acontecem a mim?!". De qualquer maneira é uma boa desculpa para aquelas vezes em que nos dizem "Estás mal disposto, é?"... podemos responder "Não, estou metafísico!". :P

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  2. Rice Man,

    Nunca usei essa frase mas olha que está muito bem apanhado… “estou metafísico” soa muito melhor que responder “porquê não posso?“ :)

    Não sei se conheces o poema em causa mas se não o conheces recomendo que o leias, acho que vais gostar (não é por acaso que é um dos meus favoritos!).

    Abraço,
    FATifer

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  3. Se calhar comeste alguma rabanada estragada... :)))

    Beijocas!

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  4. Há poemas que têm a conclusão no fim... este em particular tem a conclusão no início. O início é a chave de todo o (longo) poema.

    Não sou nada.
    Nunca serei nada.
    Não posso querer ser nada.
    à parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.


    Mas... isto de pensar no futuro, no que queremos ou não queremos, em objectivos de vida e em sonhos... quando "Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?". Não adianta pensar no futuro, sonhar com ele, querer algo, quando não se sabe quem se é e onde se está. Se não sabemos onde estamos, como poderemos achar o caminho certo para onde queremos ir? Conseguiremos chegar com êxito à chegada, quando não temos bem a certeza de qual é o ponto de partida?

    O segredo estará em sabermos quem somos hoje. Sabermos o que queremos hoje. Só assim o futuro, quando chegar, poderá ser risonho. O próprio Álvaro o diz:

    "Quando quis tirar a máscara,
    Estava pegada à cara.
    Quando a tirei e me vi ao espelho,
    Já tinha envelhecido."

    O segredo estará em perceber quais são as nossas máscaras. Saber quem somos além delas... atrás delas... despirmo-nos delas e seguir.

    A minha parte favorita deste poema é aquela estrofe sobre chocolates :D

    E acho que te posso deixar estas linhas, como exemplo de que não és, nem de longe nem de perto, como o Álvaro. Porque tu não deitas fora a vida, como ele deitou. O próprio Pessoa teve uma vida infeliz. Porque nunca deu o passo... nunca cometeu a loucura... nunca arriscou. E se uma parte dele se sentia bem na tranquilidade e na serenidade, outra parte sentia raiva por ser assim. Por nunca ter vivido o amor que sentiu pela Ofélia, por nunca ter arriscado o que queria... e um dia acordou e era velho. Tu és novo... e tu aproveitas a vida. Vives. Fruis. Dás-te. Não és, em nada, como a pessoa que escreve, e sente, isto:

    "Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
    Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
    Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida."

    Beijos e desculpa :)

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  5. Teté,

    Essa seria a resposta simples e fácil para não pensar mais nisto ;)

    Este texto será como que um desabafo de mim para mim mas que decidi partilhar convosco…

    Beijinhos,
    FATifer

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  6. ianita,

    …não desculpo, agradeço!!

    Vejo que, mesmo que não gostes tanto como eu, conheces muito bem este poema…

    No geral concordo contigo, embora julgue que este poema tem muitas conclusões (sendo uma e talvez a mais deliciosa, para mim, a que citei sobre a metafísica ser uma consequência de se estar mal disposto – uma vez que o poema é uma análise metafísica não diria brilhante mas boa pelo menos).

    Também tens razão que é algo abusivo da minha parte rever-me nos versos que citei, uma vez que não sou propriamente velho, mas acredita que tenho as minhas razões… discutíveis, talvez, mas tenho…

    (tenho que começar a fazer uma lista dos assuntos que ficam pendentes contigo, este poema é outro porque haveria muito para dizer e esta caixinha é pequena…)

    Só mais um comentário sobre máscaras, coisa que já abordámos penso noutra ocasião (já não sei se aqui se no teu espaço). Concordo novamente com o que dizes mas, como sabes, despir ou abdicar das nossas máscaras tem muito que se lhe diga! ;)

    Beijinhos e não peças desculpa por te alongares, escreve à vontade que eu gosto!
    FATifer

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  7. Não discuto motivos. Cada um tem os seus. Só quem os sente é que sabe. A minha dor é maior que a tua apenas e só porque sou que a sinto. Por mais que possa entender o que sentes, nunca o poderei sentir.

    Álvaro de Campos é o meu Pessoa favorito. Já ensinei Pessoa, quando dei aulas e explicações ao 12º ano. Este poema é delicioso. Como é o "Aniversário", um dos meus preferidos dele. Ou a Ode Triunfal... ou a Ode Marítima... ou... ou...

    Não digo que não tenhas motivos para te identificares com este poema. Eu própria já citei a estrofe do chocolate no meu blog...como já citei palavras do Livro do Desassossego que senti como se fossem minhas. O que digo é que muitas vezes não vemos o que é óbvio aos outros. E, do pouco que vi, de uma das máscaras que mostraste :) não é isto.

    Todos temos máscaras. Mais que uma. Temos muitas. O que digo é que convém descobrirmos quem somos além delas. E dá jeito ter alguém ao pé de quem possamos baixar a guarda e aparecer sem máscaras. Custa muito. Sentimo-nos despidos, desprotegidos... mas só assim quem gosta de nós nos poderá ajudar.

    E digo que tens tempo. De descobrires quantas máscaras tens. De quais gostas. Quais as que detestas. As que queres manter e as que queres deitar fora.

    Eu ando de camada em camada. Em descoberta. De máscara em máscara. Continuo sem saber bem para onde vou. Porque ainda não sei bem onde estou. E acho que, em vez de me pôr em correrias, posso parar um bocadinho a tentar descobrir o que é isto de ser "ianita". E basicamente, enjoy the ride. Porque a vida é uma viagem e o que conta não é o destino, mas a viagem "per se".

    Deixo-te outras palavras, do mesmo mestre, de um outro poema:

    "Há um tempo em que é necessário abandonar as roupas usadas...
    que já têm a forma do nosso corpo...
    e esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares...

    É o tempo da travessia...
    e se não ousarmos fazê-la...
    teremos ficado para sempre...
    à margem de nós mesmos."

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  8. ianita,

    Como disse, este assunto dava pano para mangas e esta caixinha é pequena…

    Volto a concordar com o que dizes.

    Falando de máscaras sei que tenho muitas e conheço-as (posso mesmo dizer que moldei algumas parte consciente parte inconscientemente) … a que te mostrei é, na verdade, bem diferente dos versos que citei. Conheces-me num registo descontraído, à vontade, entre amigos que nos fomos tornando não é? ;)

    Sei (ou tenho uma boa ideia de) quem sou além das minhas máscaras mas não mostro a ninguém… permito vislumbres a algumas pessoas ocasionalmente apenas… é como dizes, temos de saber aproveitar a viagem e gozar o caminho porque não é o destino que importa!

    Excelentes palavras, as com que me deixaste, como dizes, é o mestre!

    Beijinhos,
    FATifer

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  9. A resposta pode estar num outro poema ou não ...


    QUASE

    Um pouco mais de sol — eu era brasa.
    Um pouco mais de azul — eu era além.
    Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
    Se ao menos eu permanecesse aquém...

    Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
    Num baixo mar enganador d'espuma;
    E o grande sonho despertado em bruma,
    O grande sonho — ó dor! — quase vivido...

    Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
    Quase o princípio e o fim — quase a expansão...
    Mas na minh'alma tudo se derrama...
    Entanto nada foi só ilusão!

    De tudo houve um começo... e tudo errou...
    — Ai a dor de ser-quase, dor sem fim... —
    Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
    Asa que se elançou mas não voou...

    Momentos de alma que desbaratei...
    Templos aonde nunca pus um altar...
    Rios que perdi sem os levar ao mar...
    Ânsias que foram mas que não fixei...

    Se me vagueio, encontro só indícios...
    Ogivas para o sol — vejo-as cerradas;
    E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
    Puseram grades sobre os precipícios...

    Num ímpeto difuso de quebranto,
    Tudo encetei e nada possuí...
    Hoje, de mim, só resta o desencanto
    Das coisas que beijei mas não vivi...

    ...........................................
    ...........................................

    Um pouco mais de sol — e fora brasa,
    Um pouco mais de azul — e fora além.
    Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
    Se ao menos eu permanecesse aquém...

    (Paris, 13 de maio de 1913)


    7

    Eu não sou eu nem sou o outro,
    Sou qualquer coisa de intermédio:
    Pilar da ponte de tédio
    Que vai de mim para o Outro.

    (Lisboa, fevereiro de 1914)

    ambos de Mário de Sá-Carneiro

    Um abraço meu amigo.

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  10. Ora tu tenta lá ficar bem disposto depois de passar o Natal de cama com uma gripalhada da B (sim, que é a outra que não é A) e depois me dizes o que há de metafísico na má disposição! ;)

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  11. Caro Paulo,

    Não sei bem se os poemas que citas me trazem respostas ou mais perguntas mas como acho que deixei entender no que disse à ianita, as perguntas deste texto não têm de ter necessariamente resposta… pois como disse à teté: “Este texto será como que um desabafo de mim para mim mas que decidi partilhar convosco…”

    Em todo caso agradeço os poemas que citas :)

    Um grande abraço para ti também amigo,
    FATifer

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  12. Cara deusa Pax,

    O que se defende no poema que citei é que a metafísica “acontece”quando se está mal disposto mas isso não implica que por se estar maldisposto se tenha de entrar na obrigatoriamente na metafísica. Uma má disposição como a que referes terá tudo de físico :( … e dificilmente originará a metafísica (a menos que se chegue ao delírio o que para alguns será algo de metafísico!)

    (mas as deusas também têm gripes mesmo que B? :P )

    Beijinhos e as melhoras!
    FATifer

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  13. Amigo, com a febre imaginei-me numa praia das Maldivas... é metafísico que chegue? ;)

    Obrigada, já estou quase pronta pra outra! :)

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  14. Ficaria muito satisfeito se os poemas te trouxessem mais perguntas que respostas e até acho que sabes porquê…

    :)

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  15. Cara deusa Pax,

    … “com a febre imaginei-me numa praia das Maldivas... é metafísico que chegue? ;)”

    Pois acho que é mais delírio que metafísico mas isso é no meu conceito claro! ;)

    Beijinhos,
    FATifer

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  16. Caro Paulo,

    Sim acho que sei… como sei que sabes que, à minha maneira, tento seguir o teu exemplo ou os caminhos que indicas para sermos pessoas melhores e nos sentirmos melhor ou pelo menos fazermos por isso!

    Abraço,
    FATifer

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  17. Beijinhos para os meninos deste blog e os votos de um bom ano :))

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  18. Whozinha linda,

    Beijo enorme de BOM ANO para ti também!!!

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  19. Paulinho,

    BOM ANO para ti também!!! :)

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  20. Who Am I,

    Obrigado, um beijinho especial para ti com votos de um 2010 cheio de coisas boas!

    Beijinhos,
    FATifer

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  21. Paulo,

    Um óptimo ano para ti e para os teus (eu sei que vais fazer por isso!)

    :)

    Abraço,
    FATifer

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