Olho o último pingo de café
que cai na chávena. Sinto o cheiro do café acabado de fazer a invadir o espaço.
Sinto o calor quando pego na chávena e sabe bem porque está frio…
A memória é uma coisa lixada, não consigo beber uma chávena deste café sem me lembrar dela… nem com um oceano
inteiro a separar-nos tu me deixas em paz!
Lembro-me do dia que nos
nossos olhares se cruzaram naquela esquina. Posso dizer-te quantas beatas havia
no chão, afinal os cigarro eram todos meus! Tu passaste e algo de mágico
aconteceu, de repente perdi o fôlego, não conseguia respirar depois do teu
olhar deixar o meu. Não foi do cigarro como gostavas de dizer brincando, foste
tu. Tentei mexer-me e caí. Soltaste uma gargalhada sem olhares para trás. O que
hoje me parece cruel, na altura pareceu-me divino. Quando finalmente me
levantei já mal te conseguia avistar, cambaleando segui-te pois, naquele momento, nada mais conseguia fazer. Tinhas virado a esquina seguinte e só de relance te
vi entrar num café mais à frente. Tentei acelerar o passo e quase caí de novo.
Quando entrei no café não te vi. Olhei para todos os lados freneticamente e não
te vi! Quando começava a duvidar da minha sanidade mental apareceste atrás do
balcão de uniforme. Por impulso sentei-me ao balcão à tua frente. Olhaste para
mim como que a perguntar o que pretendia. Como nada disse perguntaste e ouvir a
tua voz deixou-me ainda mais incapaz de falar. Viraste-te e tiraste um café que
me colocaste à frente sem açúcar, pensava eu que terias adivinhado como o tomo
mas não, havia um cesto no balcão para tirar se quisesse. Peguei na chávena,
sorvi um golo e finalmente consegui dizer um “obrigado”. Sorriste e retorquiste "é um 1,20€". Retirei o porta moedas de forma atrapalhada do bolso, estendi-te as
moedas e o meu olhar prendeu-se no teu uma vez mais. Por momentos pareceste tão
hipnotizada quanto eu mas depois viraste-te para a caixa registadora para
guardar as moedas e devolveste-me um talão de despesa. Nem reagi procurando de
novo o teu a olhar que me negaste.
Não sei explicar o que se terá
passado pois a memória seguinte que tenho de nós é de acordar a teu lado numa
cama que não era a minha. O raio de sol descia duma nesga de estore aberto, e
passava pelos teus cabelos, assim ainda mais doirados, antes de chegar à
cabeceira da cama acima da minha cabeça. Lembro-me das tuas costas nuas e de te
ouvir dizer um “bom dia” num tom que ainda hoje não encontro palavras para
descrever.
Tudo o que se passou depois
entre nós é melhor nem recordar … num grande esforço faço fast forward para o dia que disseste que ias para São Francisco e
relembro a tua cara quando que te respondi que não ia contigo. Aquele misto de
incredibilidade, raiva e confirmação que sabias que te vi no olhar.
Foi bom enquanto durou, só
falta conseguir deixar-te para trás… para isso talvez seja bom deixar de
comprar este café!
FATifer