O vento frio, impiedoso, causa
uma lágrima que me escorre pela face. Não a limpo deixo cair. O cheiro da terra
molhada faz-me lembrar aquele dia em que me levaste ao teu lugar favorito.
Perdidos no meio da serra de Sintra num recanto que só tu parecias conhecer,
deitei-me no chão a teu lado após muito insistires. Ainda me lembro de ver daquele
céu carregado por entre as árvores e de como começou a pingar… e como não me
deixaste levantar e quiseste que sentisse a chuva a cair em mim, em ti, em nós…
como se fossemos chão. Aquele cheiro que sempre gostei de terra acabada de molhar
ganhou outra dimensão nesse dia.
Continuo preso às memórias de
ti… parece que não há nada que faça que não me lembre de ti e do ano que
partilhaste a minha vida.
Subo a escadaria à minha de
dois em dois degraus e sinto os músculos das pernas a queixarem-se… em que ei
de pensar para te esquecer? Cheguei ao topo, nem sei bem onde estou mas a vista
é bonita. Estou perdido como na vida e só me resta seguir em frente. A chuva
volta a cair. Levanto o capuz do casaco e continuo a andar em frente sem
destino aparente. Por fim chego a um largo… ah já sei onde estou! Agora vou por
ali. Apetece-me um café e conheço um bom aqui perto, que não serve a nossa marca…
e assim não me lembro de ti (mas já me lembrei!).
Entro no café. Sento-me ao
balcão e peço uma bica e um pastel de nata, têm bom aspecto. Agarro a chávena para
aquecer as mãos. Por momentos pareço conseguir apena saborear o café e o pastel,
não pensando em mais nada mas é uma doce ilusão... o mundo volta quando a
empregada ao balcão me apresenta a conta. Olho para ela. Nada tem a ver contigo,
é morena, de feições carregadas e olhar amorfo. Recordo os teus olhos verdes,
penetrantes… bolas! Lá estou eu a pensar em ti de novo… levanto-me e saio do
café. Já parou de chover mas sinto as solas escorregar na calçada polida. Continuo
a andar, “onde vou agora?” pergunto-me sem vontade de me responder…
Dou comigo num largo que não
tenho memória da conhecer mas até na nossa cidade podemos descobrir coisas
como muito bem me mostraste por várias vezes… pergunto-me o que me terias
chamado a atenção ao ver o que vejo? A árvore com o banco por baixo ou o bebedouro?
Os motivos da calçada? Não sei… talvez tenha perdido a capacidade e adivinhar o que
pensas agora que não te tenho a meu lado…
FATifer
Sem comentários:
Enviar um comentário
Este local serve para largar comentários, daqueles, dos inteligentes e com sentido...todos os outros, que consideremos que não cumprem esses critérios, serão eliminados prontamente. Mais...anónimos amigos por favor identifiquem-se, já basta não conhecermos a cara...pelo menos o nome/nick.
Desde já o nosso agradecimento, voltem sempre!
Ah! E a pedido da nossa estimada leitora Van, passamos a avisar que a leitura deste blogue engorda!