terça-feira, 16 de outubro de 2012

Porque alguém pediu…


Olho o último pingo de café que cai na chávena. Sinto o cheiro do café acabado de fazer a invadir o espaço. Sinto o calor quando pego na chávena e sabe bem porque está frio…
A memória é uma coisa lixada, não consigo beber uma chávena deste café sem me lembrar dela… nem com um oceano inteiro a separar-nos tu me deixas em paz!
Lembro-me do dia que nos nossos olhares se cruzaram naquela esquina. Posso dizer-te quantas beatas havia no chão, afinal os cigarro eram todos meus! Tu passaste e algo de mágico aconteceu, de repente perdi o fôlego, não conseguia respirar depois do teu olhar deixar o meu. Não foi do cigarro como gostavas de dizer brincando, foste tu. Tentei mexer-me e caí. Soltaste uma gargalhada sem olhares para trás. O que hoje me parece cruel, na altura pareceu-me divino. Quando finalmente me levantei já mal te conseguia avistar, cambaleando segui-te pois, naquele momento, nada mais conseguia fazer. Tinhas virado a esquina seguinte e só de relance te vi entrar num café mais à frente. Tentei acelerar o passo e quase caí de novo. Quando entrei no café não te vi. Olhei para todos os lados freneticamente e não te vi! Quando começava a duvidar da minha sanidade mental apareceste atrás do balcão de uniforme. Por impulso sentei-me ao balcão à tua frente. Olhaste para mim como que a perguntar o que pretendia. Como nada disse perguntaste e ouvir a tua voz deixou-me ainda mais incapaz de falar. Viraste-te e tiraste um café que me colocaste à frente sem açúcar, pensava eu que terias adivinhado como o tomo mas não, havia um cesto no balcão para tirar se quisesse. Peguei na chávena, sorvi um golo e finalmente consegui dizer um “obrigado”. Sorriste e retorquiste "é um 1,20€". Retirei o porta moedas de forma atrapalhada do bolso, estendi-te as moedas e o meu olhar prendeu-se no teu uma vez mais. Por momentos pareceste tão hipnotizada quanto eu mas depois viraste-te para a caixa registadora para guardar as moedas e devolveste-me um talão de despesa. Nem reagi procurando de novo o teu a olhar que me negaste.
Não sei explicar o que se terá passado pois a memória seguinte que tenho de nós é de acordar a teu lado numa cama que não era a minha. O raio de sol descia duma nesga de estore aberto, e passava pelos teus cabelos, assim ainda mais doirados, antes de chegar à cabeceira da cama acima da minha cabeça. Lembro-me das tuas costas nuas e de te ouvir dizer um “bom dia” num tom que ainda hoje não encontro palavras para descrever.
Tudo o que se passou depois entre nós é melhor nem recordar … num grande esforço faço fast forward para o dia que disseste que ias para São Francisco e relembro a tua cara quando que te respondi que não ia contigo. Aquele misto de incredibilidade, raiva e confirmação que sabias que te vi no olhar.
Foi bom enquanto durou, só falta conseguir deixar-te para trás… para isso talvez seja bom deixar de comprar este café!



FATifer

4 comentários:

  1. Olha que quase consegui sentir o aroma do café...
    :)
    Os aromas são um excelente catalisador para reavivar memórias.
    Um perfume numa peça de roupa, o aroma de uma flor especial, os cheiros e paladares de certos alimentos...

    Conseguiste mais uma vez levar-me numa viagem através da tua escrita. Os detalhes que vais descrevendo ajudam a construir no nosso imaginário todo o percurso, imaginado os sons e os aromas envolvente. Só faltou descreveres a cor do uniforme.

    Gostei... mas soube a pouco!! ^^

    Beijinhos
    Aqua

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  2. Cara amiga Aqua,

    É sempre um jogo entre o que descrevemos e o que deixamos à imaginação… bem sei que sabe a pouco mas (sem prometer) pode ser que haja mais… ;)

    Beijinhos,
    FATifer

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  3. … eu disse: "sem prometer" … :P

    :)

    Beijinhos
    FATifer

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