quinta-feira, 5 de junho de 2008

Casamento

Estava para aqui a pensar com os meus botões e lembrei-me de três gerações de casamentos:

No tempo da minha avó (detesto esta expressão), como é que as pessoas escolhiam a alma gémea?
Pois, fácil: Iam aos bailaricos da aldeia e (apesar de terem a obrigação de regressarem a casa ao sol-posto e acompanhadas pelas mães), de entre os quinze ou vinte rapazes solteiros (que só haviam três casos: solteiros, casados ou viúvos) daquele raio de, digamos, 10 Km (já considerando os rapazes das aldeias vizinhas), o que lhes parecesse o mais trabalhador, boa pessoa, bem apessoado e que achasse o mesmo dela, era esse.
Para o bem, para o mal e para o péssimo, era até morrerem.

No tempo da minha mãe começou a complicar-se.
Houve o êxodo rural. Saiu-se das aldeias e começaram a encontrar-se na grandes cidades.
Um universo de escolha muito maior. Digamos que 200 homens solteiros com que se cruzavam mensalmente... mais os 12 já divorciados e que precisavam desesperadamente de quem lhes voltasse a tratar da casa... fácil. Muito mais fácil encontrar a alma gémea. Mas aqui já havia o tal universo dos divorciados... hum.

No meu tempo (continuo a detestar esta expressão), como é?
Longas viagens, longas noites sem controle de horários e internet!
Não faço ideia de quantos homens disponíveis ou pseudo disponíveis existirão neste universo, mas devem ser bem mais...
"Conheci um inglês num chat, usamos a web, já fizemos sexo virtual e somos compatíveis, é a minha alma gémea, vamos casar"
Simples!
Deve ser bem mais fácil para a minha geração acertar com a escolha e encontrar uma alma que seja verdadeiramente gémea quando se consegue cruzar com milhões de pessoas, ou não?

Ou, afinal, o que conta não é ser gémea mas sim, principalmente, cooperante?
O que conta é só e apenas a emoção ou será, também, a vontade das pessoas em permanecerem ao lado de outra, aconteça o que acontecer?
Perdemos vontade e tolerância ou mudámos de valores?
Mas então porque é que ainda achamos que teremos de partir em demanda pelo mundo em busca dessa tal alma gémea?

Eu nunca poderia ser apologista da infelicidade.
Acho que quando duas pessoas não se entendem, devem mesmo separar-se.
Só não compreendo é como, apesar das infinitas possibilidades de escolha que temos neste momento, porque é que cada vez acertamos menos.

Apeteceu-me.

27 comentários:

  1. É bem verdade! Disseste uma grande verdade. Acertamos sempre menos, e estamos sempre sozinha... E é isto!

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  2. Yargogirl,

    Eu acho que isto serve para os dois lados.
    Tanto homens como mulheres se devem queixar de acertar cada vez menos mas, talvez também, nos esforcemos cada vez menos e desistamos cada vez mais facilmente.

    Bem vinda :)

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  3. Não será por haver uma tão vasta possibilidade de escolha e uma total liberdade, que se acaba por não saber muito bem o que se quer e daí acabar por se ficar só.
    Parece-me...

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  4. É bem possivel, sim.
    Quanto mais faceis as coisas se tornam, menos interesse temos nelas...
    Quanto mais nos caem de "mão beijada", menos valor lhes damos.
    Objectos, sentimentos ou relações.
    Somos assim.
    :)

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  5. Impulsos,
    (continuando)
    E deve ser mais fácil escolher entre dois que entre mil, mais acertado é que não.

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  6. olá pax,
    permite-me meter a colherada por aqui tb ehehe

    ocorreu-me depois de te ler q talvez seja pq quanto maiores são as possibilidades de escolha, maior parecem as possibilidades de falhanço =/

    e olha, os meus pais ainda são do tempo do bailarico da aldeia eheheh e casamento pra toda a vida quando no tempo deles começou a haver tantos já divorcios... e eu q ainda fui quase forçada a um exodo pra grande cidade, não sei se foi por ficar dividida entre o campo e a cidade, e querer aproveitar o melhor dos dois... mas depois fiquei sozinha e sem "nenhum" lol

    gosto de ler os teus comentarios e já vi q alguns posts teus tb

    ;o)

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  7. Pois é!
    Mas é uma contradição, não é?
    Quanto mais hipoteses de escolha, maiores deveriam ser as hipoteses de sucesso! Ou não... há aqui algo que não compreendo mesmo :)

    Sempre poderiamos voltar a organizar uns bailaricos... a ver se resultava melhor, lol.

    Benvinda e mete todas as colheradas que te apetecer!
    :)

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  8. Pax,

    Adorei este post – ainda bem que te apeteceu!

    (espero que estejas bem sentada pois palpita-me que isto vai demorar…)

    Hum… começar por onde?... bem posso começar por dizer que esta tua (nossa) dúvida tem várias origens a primeira das quais é o facto de o ser humano ser um animal racional.
    Como animais que somos, temos instintos mas a razão dá-nos uma capacidade de os contrariar maior que a dos outros animais. Passo a explicar este meu ponto de vista: claro que já assistimos a situações de animais que fazem coisas que contrariam o que seria de esperar se funcionassem só por instinto mas acho que nunca vimos nenhum animal matar-se ou matar em nome de um deus? Com isto quero dizer, para não fugir ao assunto, que a primeira coisa que nos temos de nos lembrar ao tentar dar resposta à tua dúvida é isso, nós como seres racionais acrescentámos um conjunto de variáveis ao processo de decisão que, como animais, não teríamos.
    Dito isto passo a reafirmar aqui uma interrogação que já deixei num post “será que alguém pensa as nossas sociedades?” pergunto porque para mim certas regras sociais/religiosas são fruto disso; o casamento ser para toda a vida impede todas as coisas estranhas a que assistimos actualmente, certo? (não me interpretes mal, não estou a defender uma visão retrógrada apenas estou a analisar quase de um ponto de vista de eficiência).
    Outro ponto, em termos matemáticos, ter uma maior amostra implica sempre maiores dificuldades de cálculo porque permite mais resultados possíveis. Uma amostra infinita é impossível de tratar matematicamente de forma exacta. Ok já estou divagar mas o que quero dizer-te com isto é que, ao aumentares o leque de escolhas e possibilidades, só aumentas a complexidade. Falando em complexidade, temos outra questão, que não podemos ignorar na análise desta tua dúvida, que é o facto de a alma gémea ser uma entidade de tal forma abstracta e pessoal que, não há duas iguais da mesma forma que não há duas pessoas iguais.
    A busca da alma gémea é, para mim, uma vertente da essência do Homem. Como seres humanos procuramos sempre o óptimo à partida. Depois temos vários tipos, os que se contentam com o razoável e por vezes como mau, os que se contentam com o bom e os que seguem sempre em busca do óptimo. Estou a falar de forma geral mas aplicando este meu raciocínio ao assunto em análise, temos portanto:
    Aqueles que, por uma razão ou por outra, se contentam com alguém que não é a sua alma gémea e por vezes está mesmo longe.
    Aqueles que procuram até encontrar alguém que pelo menos se assemelha bastante à sua alma gémea.
    E os que nunca se contentam, pois parece que nunca é a alma gémea.

    Bem já divaguei o bastante não respondi à tua inquietação, nem poderia ter a arrogância de achar que o conseguiria. Penso que poderás chegar ao extremo de ter uma resposta por pessoa pelo que deixei-te algumas ideias que me suscitaste com o teu texto … (esta será outra conversa em que poderemos pegar um dia numa esplanada à beira mar ;) )

    Beijinho
    FATifer,

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  9. FATifer, estou sentada :)

    Em primeiro lugar, só este teu comentário dava temas para uns 2 ou 3 posts.

    Realmente temos várias caracteristicas diferentes das outros animais e nem a todas considero vantagens.
    Uma delas é nunca estarmos satisfeitos com o que temos ou semos.
    Essa nossa necessidade de busca de algo mais vai aparecendo ao longo da vida.
    Um bebé está satisfeito desde que esteja confortável e de barriga cheia. Como um animal. É básico. Nós, adultos, não.
    Sentimos necessidade de sair pelo mundo em demanda por algo. Seja o que for. Depende da personalidade, sensibilidade e gostos de cada um

    Mesmo nos termos matemáticos que referiste, concordo que quanto maior é o número, maior dificuldade na escolha.
    O que não compreendo é como, a partir do momento em que a escolha foi feita, possa existir um tão grande número de escolhas erradas.
    Se se pode escolher entre mil e não entre dez, não haveria mais hipoteses de se escolher melhor? De se escolher o mais adequado?

    "E os que nunca se contentam, pois parece que nunca é a alma gémea".

    Aí deve estar o fulcro da questão.

    Muitas pessoas não se comprometem facilmente com outra achando que irão encontrar, no futuro, outra mais gémea que aquela.

    Outras comprometem-se mas vão encontrando ao longo da vida outras a quem julgam ser, finalmente, alma gémea e largando (mais ou menos facilmente) aquela que tinha sido a gémea até aquele momento.
    Ou seja, continuam a dar-se a liberdade de poder escolher no tal enorme universo de infinitas possibilidades. A escolha não terminou no momento do casamento; torna-se mais problemática mas não finita.

    E, realmente, nada nem ninguém nunca poderão garantir a um ser humano que, ainda que exista no mundo a sua tal alma gémea, a encontre ou, pior, se a saberá identificar no momento em que (hipotéticamente) a encontre.

    Numa esplanada à beira mar será!
    ;)
    Beijos.

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  10. pax, não sei se acertamos menos... acho que não. acho que acertamos mais e melhor mas por menos tempo. :)

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  11. Bagacinho, deixa-me ver se compreendi a profundidade do que quiseste dizer...

    Acertamos mais e melhor de cada e todas as vezes que (não) acertamos e tentamos acertar de novo?
    ;)

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  12. pax, é mais ou menos isso. é que dantes, mesmo quando não acertavas tinhas que levar o prémio para casa toda a vida. é melhor assim, porque prémios para toda a vida raramente funcionam, se alguma vez funcionar, tanto melhor. :)

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  13. Bagaço, certo.
    Mas não te esqueças de que a noção de "acerto" já foi criada para justificar os "desacertos" que, entretanto, foram inventados.
    Antes não haveria a ideia de "ups, não acertei, deixa-me cá acertar de novo".

    Os prémios que funcionam toda a vida também devem depender da frequência com que lhes vamos mudando as pilhas e limpando o pó...
    :)

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  14. pax, depende um bocado da mudança de pilhas, sim, mas não só... mudança de pilhas aos prémios e a nós mesmos. :)

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  15. Bagaço,

    Exactamente!

    O problema é que por vezes quando o prémio só precisa de uma pilhazita, nós já precisamos de uma bateria!
    (Ou vice-versa)
    ;)

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  16. pax, pois... e aí é melhor procurar outra coisa... :)

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  17. O que me faz concluir que antigamente era, realmente, melhor.
    Não havia aparelhos complicados, pilhas ou afins. Tudo se resolvia com um prego ou com um cordel!
    (Quando não era com uma martelada ou pontapé)

    Belos tempos!
    ;)

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  18. Mas sinto me feliz por pensar que enquanto não encontrar a pessoa certa posso me ir divertindo com a pessoa errada! E que diversão! lol
    Um dia hei de encontrar alguém, alma gémea? não creio, quem será tão louco e incompreensível como eu? E se encontrar alguém igual a mim, nem quero saber, de malucos tou eu farta... LOL

    Bjokas ;)

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  19. Crazy girl,

    "(...)enquanto não encontrar a pessoa certa posso me ir divertindo com a pessoa errada!"

    Pois eu diria que se essa pessoa te faz divertir, já é a pessoa certa! Pelo menos para a diversão! ;)

    Eu acho que a alma gémea (se existir) nem deve ser alguém igual a nós mas sim alguém que consegue viver com as nossas características ou, de preferencia, nem viver sem elas!

    E viva a maluquice!

    ;)

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  20. Crazy girl e Pax,

    Uma nota na para a vossa conversa:
    Filme: Jerry Maguire – “you complete me”

    Esta é para mim uma excelente definição de alma gémea!

    Beijinhos,
    FATifer

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  21. FATifer,

    Assim que possa vejo o filme e depois te direi o que acho.

    Se bem que nos filmes, até um cartoon pode ser a alma gémea de um humano, lol.

    Beijo.

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  22. O segredo nos tempos de hoje está em divertirmo-nos com o errado enquanto o certo (alma gémea) não aparece.

    Sinceramente, acredito que existe...até prova em contrário continuarei a acreditar...apesar das cabeçadas que já dei sei que há...portanto...só digo que seja na net, ao virar da esquina, do outro lado do mundo ou mesmo no prédio do lado...o amor e a alma gémea aparece quando tem de aparecer...e se não aparecer é porque já apareceu e andavamos distraidos ehehhehe...que é aborrecido, claro que é...mas acontece. A minha tia é um bom exemplo, casou depois dos 40 anos, andou a vida inteira à procura da alma gémea e já a tem...ok que não concretizou o sonho de ser mãe mas tem vários gatos e cães ehehheheh...que mal comparado.

    A felicidade também se constroi e penso que a razão dos falhanços actuais, prende-se em não aceitarmos as imperfeições dos outros, quando nós somos tão imperfeitos :).

    Abreijinhos e viva o casamento ;)

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  23. Ah e aconselho o Sexo e a Cidade, já agora no cinema city - Beloura...sala vip...uiiii ca bom! Gostei mesmo muito...só continuo a não entender porque me acham parecida com uma das actrizes...ai ai ai ai ai! De feitio ;)...é que já irrita! :)

    Abreijos

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  24. Afrodite,

    Acho que cada vez temos menos paciência. Ponto. Isso tem consequências também na durabilidade dos casamentos.

    Eu acredito mais na "afinidade", "cumplicidade" e na "vontade" que na "alma gémea".
    (Mas isto é hoje, que me sinto pouco romântica; amanhã já passa :)
    Concordo que a felicidade também se constroi; e há pessoas com mais jeitinho para a bricolage que outras :)

    Beijos e viva a felicidade; com ou sem casamento!
    :)

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  25. Afrodite,

    "só continuo a não entender porque me acham parecida com uma das actrizes...ai ai ai ai ai! De feitio"

    Bolas!
    Bate-lhes!
    É que, se bem me lembro, é cada uma mais alucinada que a outra!
    ;)

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  26. Tudo se resume, penso eu, à definição das qualidades que exigimos para o nosso consorte (ou con-azar se formos marca c...)
    Quantas vezes escolhemos um bem, por exemplo um telemóvel, porque este possui montes de funções, as quais nunca iremos utilizar.
    Ou seja: a escolha da alma gémea implica necessariamente um grande conhecimento de nós próprios.
    O acréscimo das possibilidades de escolha em relação aos nossos avós só pode traduzir um aumento das possibilidades de sucesso.
    Agora o que é necessário é não nos fixarmos na perfeição. Ela não existe. Nem em nós. Compreensão e tolerância e acima de tudo muita amizade (com alguma pica claro) são receitas de sucesso.

    Beijos

    Ahhhh... Já me esquecia ... EU FALHEI...LOL

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  27. Eduardo Turismo,

    "a escolha da alma gémea implica necessariamente um grande conhecimento de nós próprios."

    Completamente de acordo. E da que achamos gémea, (já agora) também convem; embora seja dificil que alguém se revele completamente a outro alguém.

    "O acréscimo das possibilidades de escolha em relação aos nossos avós só pode traduzir um aumento das possibilidades de sucesso."

    Exactamente!
    Entao porque é que nao traduz? Sabes a resposta?
    Ou eles eram assim tao miseravelmente infelizes e aguentavam muito mais que nós?
    Ou somos nós que nunca temos a certeza do que queremos ou de que sabemos o que nos faz feliz?

    Nao vejas como falha... imagina que a tal da gémea era mesmo outra :)

    Bem vindo :)

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