Um momento lindo

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Já alguma vez observaram (com olhos de ver) a quantidade de mulheres de salto alto, cabelos artisticamente apanhados com perolazinhas a saírem por entre os caracóis e elegantemente vestidas, com os seus cai-cai, vestidos sem costas bordados em seda ou cetim, de cauda, folharecos e afins, aos saltos, a engalfinharem-se e empurrarem-se desesperadamente num concurso para conseguirem agarrar um voador-e-esfarrapado-pelo-processo ramo de flores? Agarrarem-no ou arrancarem-no das mãos de outra, dependendo do grau de elegância das concorrentes. Já viram?

Eu já. Várias vezes. Aliás, todas as vezes em que vou a casamentos.

E porquê? Porque segundo a suposta tradição, quem o agarra (mate quem matar nesse momento de espezinhamento), será a próxima a casar!

Até eu, que sempre fui uma não-adepta da violência tanto quanto não-adepta do casamento, poucas vezes consegui escapar a esse momento do empurrão para a minha candidatura ao prémio. Consegui sempre sobreviver sem ferimentos graves e evitar sempre estar numa possível rota do dito cujo, não fosse o diabo tece-las e a profecia se cumprisse mesmo.

Até um dia.

Tendo eu um namorado que queria (sim, que ele queria) casar e tendo ido ao casamento de uma sua prima, lá me vejo eu empurrada (por ele-claro) para um desses concursos medievais do agarramento do infeliz.

Escolhi o costumeiro local estratégico - numa ponta- que assim foge-se melhor no momento da debandada e não é que a merda do ramo vem na minha direcção?! Consegui desviar-me e puff, ramo no chão antes que alguém me atropelasse para o apanhar! Boa! O meu moço mandou-me um ar de "custava muito teres agarrado aquilo?!" e a noiva lá decidiu que teria de o lançar de novo.

Desta vez fui mais esperta e coloquei-me na ponta oposta: em frente à mesa dos frios e a uma distância ainda mais segura dos salto-agulha que pulavam nas costas da noiva e afastavam as adversárias com os cotovelos, fazendo saltar as perolazinhas dos cabelos próprios e alheios.

A noiva lá o lançou e... zás! Na minha direcção outra vez! Só tive tempo de desviar a cabeça e tunga!

Bouquet em cima do leitão!



Notas finais:

- As concorrentes lançaram-se então sobre o leitão e alguém conseguiu agarrar no que restara do ramo, pelo que esse momento lindo não teve de ser repetido.

- Tive o meu moço de trombas comigo durante vários dias.

- E não, não me lembro de ter sido convidada para o casamento de nenhum leitão, pelo que deixei de me preocupar com a possibilidade do cumprimento desse tipo de profecias.

Nota final pós notas finais:

- Acreditem ou não, chorei a rir ao recordar esta cena :)