sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Massagem ao Ego… porque preciso.


Acho que já disse por aqui algures (não me apetece procurar onde) que tenho a tendência de me “martirizar” recordando todos os momentos em que errei ou fiz algo mal (nem que seja só no meu conceito)… mas hoje dei comigo a tentar contrabalançar pensando em momentos da minha vida em que me senti bem por algum motivo…

Comecei por me lembrar do dia em que, estando a experimentar uns óculos, a jovem que mos colocou diz-me sorrindo: “tem uns olhos lindos”. Não foi primeira mulher a dizê-lo mas é algo que sabe sempre bem ouvir…

Recordo depois uma sms de alguém que já prezei muito (e sobre quem já escrevi por aqui também): “tu és demais!! Obrigada amigo” dizia ela… e ainda recordei outra que também ainda guardo no telemóvel (porque eu guardo tudo): “hoje abri um livro e lá estavas tu… bem escrito….bem presente. Lembrei-me de quantas saudades já tenho …”

Continuando a saltitar para a frente e para trás no tempo relembro um sorriso que me encantou (sobre o qual também já escrevi neste espaço).

Vêm-me à memória as diferentes ocasiões em que consegui escolher bem a prenda e o(a) presenteado(a) gostou, as caras com aquele misto de admiração e prazer que eu tanto aprecio.

Lembro-me de uma amiga a quem falhei um dia e que me soube perdoar, porque é isso que os verdadeiros amigos fazem…



Tudo isto para tentar esquecer o acontecimento mais triste da semana… o meu avô já não existe… não, ainda não morreu mas chegou a um estado que nenhuma pessoa devia chegar (e infelizmente tantas chegam actualmente!)… o que vejo já não é o meu avô, … o que vi e me doeu ver, não chega a ser uma sombra amarrotada do homem com quem tanto aprendi…


Desculpem o desabafo mas senti necessidade de escrever isto e, para variar, desta vez decidi partilhar…


Votos de bom fim-de-semana para todos,
FATifer

15 comentários:

  1. Não há nada que se possa dizer para apagar essa dor. Eu sei-o bem.

    Mas...

    A minha avó esteve acamada mais de ano e meio. Nesse ano e meio o estado físico foi-se deteorando. No fim, já não falava. Nem quase abria os olhos. Nem quase comia.

    Mas...

    Quando abria os olhos, era ela. A mesma Maria de Nazaré de sempre. Com uma força no olhar como nunca vi em ninguém. Com ganas de viver. Com força, tanta força. Daquela que inspira. Porque ela foi toda a vida uma lutadora.

    Mas... ( e chegamos ao "mas" que eu queria)

    Cheguei a desejar que ela não estivesse lá. Que tivesse perdido o juízo. A noção de quem era e de onde estava. De quem éramos nós. Porquê? Porque talvez assim não se tivesse apercebido que a morte lhe batia à porta. Talvez assim não tivesse feito tanta força para se agarrar a uma vida que já não era vida. Ela estava em tamanho sofrimento... mas nunca baixou os braços. E não sei se não teria sido melhor para ela, menos penoso, se ela já não estivesse lá. Se na cabeça dela vivesse outra pessoa... a sonhar com outros tempos... outros dias... mais felizes talvez.

    A nossa dor é sempre muita. Porque vemos a pessoa a desaparecer devagarinho. E vemos que a pessoa está a sofrer. E quando a luz se apaga de vez, nem o saber que se calhar até foi melhor porque a pessoa já não está a sofrer, nem isso nos consola. E tenham 20, 30, 60 ou 90 anos... o sofrimento é na proporção do amor.

    Beijos e força

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  2. E com isto esqueci-me de dizer outra coisa importante...

    Não nos devemos focar só nas coisas más que nos acontecem. Nem só nas boas.

    A vida não é só facilidades. E há coisas más a acontecer a pessoas boas. E não temos de enfrentar tudo com um sorriso. Podemos e devemos chorar.

    Mas... (adoro adversativas!)

    Viver a vida significa viver a vida com tudo o que ela tem. O bom e o mau. Sem pessimismos e sem optimismos exagerados. Sonhar e ter os pés no chão. Tudo na sua dose certa. E cada pessoa tem a sua dose certa.

    Neste último mês aconteceram-me muitas coisas más. Coisas que fogem ao meu controlo. Que me aconteceram. Porque a vida não é só o caminho que fazemos e queremos. É também, e principalmente, o que nos acontece. Mas essas coisas más, que foram muitas e graves e que ainda me fazem chorar, não me impedem de dizer e saber que vivi momentos bons este mês.

    Não devemos perder a perspectiva. Nem tudo é bom? Certo. Mas nem tudo é mau também :)

    Não há mal que para sempre dure, nem bem que nunca se acabe.... diziam os antigos e diziam bem :)

    Beijos

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  3. ianita,

    Obrigado pelas palavras.

    (… sabia que este texto te tocaria se o lesses, por causa da tua avó…)

    Também não sei se será pior estar ou não lúcido mas sei que há estados a que o ser humano não devia chegar (e que só chega porque artificialmente criamos essa hipótese mas isso era outro debate no qual não vou entrar agora…)

    Sei que te poderá chocar o que vou dizer mas digo-te que minha relação tanto com a minha avó (que já morreu) como este avô que agora está neste estado não me parece ter uma componente afectiva tão forte como a que tinhas com a tua avó (eu sei que não se pode ou deve comparar). Digo-o apenas porque, por mais que doa vê-lo assim, não me custa aceitar que a hora dele já não deve tardar, não me choca essa ideia… custa-me é vê-lo uma sombra da pessoa que foi… como disse, há estados a que as pessoas não deviam chegar… :(

    Quanto ao que dizes sobre o bom e o mau, concordo em absoluto. Reafirmo, no entanto, que me considero um privilegiado, no sentido que acho que nunca me aconteceu nada de realmente mau (até o acidente de moto4 assustou mais a minha mãe que a mim!) e tento apreciar os momentos bons que a vida me proporciona… vai-se vivendo ;)

    Beijinhos,
    FATifer

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  4. Amigo Fatifer... nestas ocasiões não há palavras,... apenas,

    UM GRANDE ABRAÇO !
    .

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  5. Obrigado Rui,

    Concordo que não haverá muito a comentar… ficou o meu desabafo.

    Abraço,
    FATifer

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  6. É realmente muito triste mas é possível "morrer em vida". E, dependendo das pessoas e sem querer julgar ninguém, há quem lide melhor com isso do que com uma morte repentina de alguém saudável, por exemplo.
    Os momentos mencionaste são de facto todos dignos de registo. São esses pequenos 'nadas' que escolhemos (ou não) guardar connosco que fazem a diferença no (e a caminho do) fim. Mas o melhor desses momentos/recordações, parece-me, ficou ali meio 'escondido' na parte em que descreves o acontecimento mais triste da semana, quando dizes "homem com quem tanto aprendi…". Porque há quem pense que é necessário procriar para 'continuar vivo' depois da morte quando na realidade não é. Isto pode parecer um cliché mas um pouco do teu avô continuará vivo contigo (e com outros com quem ele conviveu), através do que ele te ensinou e do que aprendeste com ele sem ele saber. Pelo que disseste ele contribuiu muito para a pessoa que és hoje (pelas razões certas, porque também é possível fazê-lo pelas erradas) e, só por isso e sem o conhecer, posso dizer que ele foi/é um grande ser humano. E estou certo que farás esse testemunho chegar muito mais longe. ;)

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  7. Rice Man,

    Muito obrigado pelas tuas palavras… tens, na verdade, uma capacidade rara de ler nas entrelinhas. Concordo com o que dizes… acho mesmo que os versos do mestre dos mestres (Camões in “os Lusíadas”):

    “…
    E aqueles que por obras valerosas
    Se vão da lei da morte libertando”

    Pode ser visto a diferentes escalas e à nossa escala pessoal, é verdade, que enquanto nos lembramos de alguém esta pessoa continua a existir. É por isso que disse o que disse à ianita, não me choca que ele deixe de existir fisicamente porque sei que ele existe em mim, no que sou e no que serei… entristece-me é vê-lo assim uma sobra do que é… pode ser a lei da vida mas não deixa de me custar.

    Um grande abraço,
    FATifer

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  8. Há sempre boas memórias com as quais conseguimos contrabalançar as coisas más. Só há que fazer um esforço para que sejam as primeiras a prevalecerem, o que nem sempre é fácil, principalmente quando vemos alguém a quem amamos numa situação de sofrimento e também nós impotentes... infelizmente também sei o que isso é, infelizmente quase todos nós saberemos.

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  9. A senilidade, no fundo, é o nosso cérebro a proteger-nos daquilo que mais tememos, a morte. Se perdermos a noção das coisas, perdemos também a noção da morte e do que nos está a acontecer. E, assim, não sofremos. Os que nos rodeiam, sofrem.
    O teu avô, assim, já não sofre e está feliz. Lembro-me da minha bisa, que regressou à adolescencia e era feliz. Lembro-me de uma amiga com um cancro desvastador, que em pleno hospital, vivia o sonho de uma casa nova no local preferido dela. A "razão" tem razões que a razao desconhece, mas a maior de todas é poupar o EU ao sofrimento.

    Acho fantástica essa tua capacidade de lidares com os outros, e com tantos outros ao mesmo tempo.

    E q história é essa de estares num livro?? já escreveste algum? quero-o na minha mesa de cabeceira! ;-)

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  10. Cara Deusa Pax,

    Eu sei que me entendes… o meu avô nem está em sofrimento, foi para o hospital mas até está melhor… refiro-me mais à senilidade que talvez seja como diz a Vani, uma forma de protecção mas não deixa de me chocar ver o homem que me ensinou a andar de bicicleta e com que debati física atómica, sem andar e quase sem conseguir falar. Como disse está melhor, já se mexe e fala semicoerentemente mas…

    Obrigado pelas tuas palavras.

    Beijinhos,
    FATifer

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  11. Vani,

    Acho interessante essa tua interpretação e és capaz de ter razão que é uma boa forma de defesa. No entanto, prefiro e espero que no meu caso consiga estar lúcido até ao fim da minha vida. Como já referi não me choca que o meu avô deixe de existir fisicamente mas vê-lo não ser ele é complicado para a minha forma de ser…

    “Acho fantástica essa tua capacidade de lidares com os outros, e com tantos outros ao mesmo tempo.”

    Não sei se não estarás a formar uma ideia de mim não totalmente correcta… mas um dia quando nos viermos a encontrar pessoalmente falamos melhor sobre este assunto, que não me apetece estar para aqui a escrever muito :P

    Quanto a estar num livro, a minha amiga referia-se a uma dedicatória que escrevi num livro que lhe ofereci. Não, nunca escrevi nenhum livro. Por mais que escreva umas coisas e até já tenha feito aquelas brincadeiras de “contos” que publiquei por aqui, não sei até que ponto seria capaz de escrever algo digno de ser impresso em forma de livro. Não é ideia que me assuste mas também não é algo que tenha considerado fazer, no entanto, nunca sabemos o que o futuro nos reserva, não é? Se algum dia escrever um livro espero que seja digno de estar à tua cabeceira, com dedicatória e tudo ;)

    Beijinhos,
    FATifer

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  12. Amigo, pode até ser que recupere, que fique melhor. De qualquer modo, eu acho que ninguém deveria ser forçado a prolongar a vida a uma altura de agonia em que o não é só para quem a vive mas em que chega a um ponto em que já nem sei se é mais doloroso viver ou assistir à angustia de alguém a quem se amou toda a vida...

    Beijo e as melhoras dele também :)

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  13. Infelizmente, os médicos conseguem prolongar a vida humana, mas não a sua qualidade e cada vez se vêem mais casos desses... E custa muito, quando são aqueles que nos são próximos!

    Beijocas e um abraço para ti!

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  14. Cara deusa Pax,

    Com já tinha dito sei que me entendes, é isso mesmo.

    Obrigado pelas palavras.

    Beijinhos,
    FATifer

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  15. Teté,

    Resumiste muito bem o que penso, é isso mesmo!

    Beijinhos e obrigado pelo abraço,
    FATifer

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