- Sim Joana lembro-me desse dia como se fosse hoje… tantos anos depois o pôr do sol continua lindo...
- Pois continua…
-… a que horas é o jantar surpresa?
- Qual jantar surpresa?
- Aquele tu e o resto da família andam a organizar e pensam que eu não sei.
- Miguel, tu faz de conta que não sabes, não desapontes os nossos netos…
- O nossos netos já devia saber o avô que têm…
- …raio do homem não lhe escapa nada!
Miguel sorriu, o tempo podia ter passado mas havia coisas que não mudavam e uma era aquela expressão que continuava a adorar provocar na cara Joana.
O sol mergulhara nas águas uma vez mais… arrancaram de volta a casa.
Ao entrar Miguel fingiu surpresa ao ver filhos, netos e alguns amigos todos juntos a recebê-lo.
- O meu coração já não tem idade para estas coisas!
- Meu pai não diga isso…
- Pedro meu filho, só porque és cardiologista não penses que sabes mais que o teu pai sobre este meu coração.
- Pois pode não saber mais que o pai do seu coração mas sabe muito bem ver quando o pai está a fingir.
- Mas que é isto? Desde quando os meus filhos me tratam por você, para começar? E quem é que está a fingir?
- Desculpa paizinho estava a brincar com o tom que usaste com Pedro… mas não negues que já sabias!
- Eu sei Isabel, minha filha… eu tentei mas não fui convincente não foi?
- Não avô, não foste mas quando é que soubeste?
- Um detective nunca explica os seus truques meu neto!
- Não será um mágico?
- Olha a minha neta armada em esperta!
- Tenho a quem sair não é avó?
- Engraçadinha… só te perdoo porque me fazes mesmo lembrar tua avó.
- Sim, não foi só a mãe que saiu linda, não é meu marido?
- Pois não minha excelentíssima esposa.
Miguel cumprimentou os amigos com um sorriso nos lábios, cada um acabava por simbolizar algo que tinha feito na vida, além de conquistar o amigo em si. Uns eram colegas de profissão que respeitava e admirava, outros companheiros dos vários hobbies que alimentava e outros companheiros dos vários hobbies que alimentava e outros ainda, pessoas que conhecera por caprichos da vida que soubera tirar proveito, tendo sempre em mente a frase da canção: “…é que hoje fiz um amigo e coisa mais preciosa no mundo não há!”.
A um canto da sala uma enorme mesa de buffet brilhava com todo o tipo de manjares dos mais simples aos mais elaborados. Ao lado uma mesa com bebidas para todos os gostos. Os netos sabiam que o avô gostava assim e tinham-se esmerado.
As pessoas iam petiscando e conversando em pequenos grupos. Ter a casa cheia de vida era algo que agradava a Miguel. Ao ver a família toda junta ficava com um brilho no olhar que, não sendo o que tinha quando olhava para Joana, era igualmente especial.
A noite corria bem, todos se divertiam… a dada altura Joana olha em volta e não vê Miguel. Vai até à porta do terraço e lá está ele com o seu copo de wiskey na mão, sentado na espreguiçadeira contemplando a lua cheia. Joana aproxima-se e senta-se na espreguiçadeira a seu lado, ele olha-a e tocam sorrisos. Miguel passa a mão pelos cabelos de Joana agora brancos como o luar e ela afaga-lhe a barba também grisalha.
- Voltando aquele dia, não posso deixar de perguntar se já encontraste resposta para a pergunta certa?
- …ainda não totalmente… por mais que já tenha sido e continue a ser muita coisa: teu marido, pai dos nossos filhos, avô dos nossos netos, etc… continuo a querer ser mais coisas, continuo a querer tudo o que esta vida me possa oferecer ainda!
Fim
FATifer