Não sei se é só da habitual angústia existencial de domingo mas deu-me para recordar… e decidi partilhar um episódio que considero, talvez, o acto mais altruísta que alguma vez tive... não por ser um grande feito mas… o melhor é lerem e depois julgam por vós…
(Introdução/enquadramento)
No último ano da faculdade arranjei um estágio numa empresa perto de Aveiro (Vagos para ser mais preciso). Como vinha a casa todos os fim-de-semana, fazia duas vezes por semana uma boa parte da A1 na minha linda mota (que nessa altura era novinha). Estabeleci a rotina de parar na estação de serviço de Leiria (que na altura era da Shell) por comodidade e porque (no sentido N/S) uma das meninas da caixa tinha um dos sorrisos mais lindos e radiosos que alguma vez vi – aqueles sorrisos que nos alegram só de olhar!
(o episódio a seguir aconteceu numa das últimas viagens de regresso a Lisboa)
Mota carregada, fato completo, mota a trabalhar, arranco… (o frio de Dezembro obriga-me a fechar a viseira para que olhos não chorem)… faço-me à estrada, o caminho que tenho a percorrer até chegar ao acesso à A1 tem curvas onde me tenho aprendido a divertir … chego à auto-estrada, enrolo punho, penso nos planos para o fim de semana… vou percorrendo os quilómetros que me separam da “minha” Lisboa…
Placa: “estação de serviço de LEIRIA a 20km” já estou perto, hoje a luz da reserva ainda não acedeu, não vou muito depressa… avisto a estação de serviço, já estou na faixa da direita e a reduzir velocidade… paro , tiro as luvas, o capacete… abasteço, avanço a mota à mão para ao pé da loja (como é meu hábito). Entro na loja “ela não está” (penso), dirijo-me à caixa:
- Boa noite…
- Boa noite.
- Bomba 3, sff
- 12,61€, por favor (a gasolina era a pouco mais de 1€/l, lembram-se?)
Pago… não tenho ninguém atrás de mim…
- Obrigado.
- A sua colega não está cá hoje?
- Está. Está lá dentro…
- Seria possível chamá-la?
- Sim…
- Obrigado.
Vai lá dentro e regressa acompanhada da colega… o sorriso que sentia falta!
- Boa noite.
- Boa noite.
Retiro uma caixa cilíndrica do bolso enquanto digo:
- Desculpe incomodá-la mas queira apenas dar-lhe isto…
(retiro da caixa uma flor de papel, das que faço – raramente ofereço flores naturais pois considero que são demasiado efémeras)
- Para mim?! (na cara dela o espanto não apagara o sorriso)
- Sim para si… há uns tempos que passo por aqui e achei que devia tentar retribuir-lhe o bem que me sabe ver o seu lindo sorriso.
- Obrigado! (vê-se nos olhos e na expressão que está sem jeito e não sabe o que dizer mais…)
- Obrigado eu! Boa noite e nunca perca esse sorriso!
Saí, liguei a mota, anotei os quilómetros (como sempre faço)… montei, antes de voltar o colocar o capacete voltei a olhar para a loja… ela acenou-me e sorriu, retribuí… capacete na cabeça, luvas calçadas, arranco e retomo o meu caminho de volta à “minha” Lisboa…
…
Nunca mais vi aquele sorriso mas ainda hoje penso o que terá ela sentido ao ver minha flor? Será que ainda a tem? Recordo aquele momento com carinho… foi algo que fiz porque achei que devia, porque achei que era correcto… senti-me bem ao fazê-lo, como me senti bem sempre que vi o seu sorriso. Aquele sorriso era para mim um tónico naquelas viagens… e foi por isso que decidi tentar retribuir com aquele gesto. A menina da Shell de Leiria terá sempre um cantinho no meu coração… por mais que nunca tenha sabido o seu nome, o seu sorriso, esse, nunca o esquecerei!
Votos de boa semana para todos,
FATifer