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Começara a chuva miudinha de inicio de manhã. Tentara acelerar o passo que as pernas já lhe recusavam.
Tinha atravessado a aldeia para trazer o saco com pão. Já pouco mais que isso costumava fazer...
Olhou para trás.
Era toda uma vida que ali tinha ficado.
Eram todos os seus passos naquele chão de granito.
Ao longe a casa dele...
Viu toda a sua história naqueles segundos.
Viu a única coisa de que se lembrava ter feito numa vida.
Viu como aceitara o amor daquele homem. Como o amara! Como o idolatrara como médico, como homem mais velho, como quem sabe tudo e sempre tudo o que faz! Como quem fica para sempre, como tantas vezes lhe disse que ficaria! Como só por Ele se deixou amar e nunca quisera ser de mais ninguém nem ninguém mais a quisera. Como passavam quase todas as tardes juntos mas nunca acordaram juntos uma única manhã. Como nunca lhe tinha pedido para ficar antes consigo pois sabia que nunca o faria. Sabia. Nunca.
Lembrou-se de como tinha sido miseravelmente feliz e como, sim, lhe tinha pertencido.
Como tinha desejado que não saísse... nem que fosse no último dia da sua vida.
Como Ele lhe tinha dado esta sua casa de sempre mas nunca um filho... como pudera ter sido tão cruelmente egoísta!
Lembrou-se de como ela toda a vida o soubera, em silêncio. Como todas as elas sabiam só lho dizendo com o desprezo. Como todos os eles sabiam só lho mostrando com os olhares. Tinha-se habituado.
Já se tinham ido. Quase todos. Ele também. Já nem lhe doía tanto. Só os olhares e o desprezo tinham ficado. Apenas o seu próprio olhar e o seu próprio desprezo por tudo o que fora seu sem nunca lhe ter pertencido. Pela sensação de que nunca tinha tido o que, a cada final de tarde, em dor diariamente renovada, novamente perdera. Décadas.
Com oitenta anos, olhava para trás. Só hoje, com o saco do pão na mão, viu toda a sua existência ao olhar para trás.
Já apoiada na chave da porta, vira toda a sua vida pela primeira vez naquele chão de calçada molhado.
Por cima do ombro tentou sorrir-lhe. Em vão. Ela, em breve, também a deixaria e Ele tinha-lhe mentido. Não tinha ficado nem viria à tarde e já não havia tempo onde lhes cobrar.
Viu-a numa manhã. Escura.
Só vivera uma vida. Quisera ter vivido tantas mais!
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Stop the world, I wanna get out!
Há 1 dia
Lindo, sem palavras.;)
ResponderEliminarBeijo linda
Vita,
ResponderEliminarLinda és tu :)
Por vezes também gosto de escrever assim. Hoje deu-me para isso.
Beijos :)
Oitenta anos, uma senhora idade. Tenho os meus 4 avós, todos com 80 anos. Se por um lado não imagino o que será lidar com não saber se amanhã é o último dia (toc toc! na madeira :(((( ), por outro penso nas transformações magníficas que toda aquela vida já viu. Quer dizer, o meu avô costumava "ir à cidade" de carroça; um trajecto que hoje se faz em meia hora, na altura levava quase dois dias! E hoje, olha a transformação! até à Lua o homem já foi!
ResponderEliminarAs coisas que eles viram acontecer...gostava de poder ver o mesmo...ainda vi o video, o dvd, o telemovel, o mp3 e essas tecnotretas todas a aparecer, é certo, mas não me maravilharam, são apenas a consequencia de uma evolução que eu já tinha adivinhado ir acontecer! eles, não! eles viveram revoluções autenticas, viram tudo.
Como essa octogenária, tantas outras foram desprezadas por relações ilícitas, em troca de umas migalhas do amor que nunca lhes pertenceu...
ResponderEliminarVerídico, mas triste!
Beijoca!
Gostei do registo :)
ResponderEliminarVan,
ResponderEliminarEu perdi os meus avos ainda muito pequena. Mal me lembro deles.
Conheço muitas das histórias da vida deles e pelas dificuldades que passaram num mundo sem o conforto que temos hoje.
O que acho é que essas dificuldades, para nós, hoje, iriam ser quase inultrapassaveis e para eles foram, apenas, pequenos contras.
Não conheciam melhor.
Viveram muito, viram muito, é verdade.
No entanto, acho que os nossos netos acabarão por dizer o mesmo de nós. Tipo "vejam lá que a minha avó demorava meia hora para ir de carro à cidade e nós já temos o teleporte!"
Lol.
Beijos grandes :)
Teté,
ResponderEliminarEmbora esta história seja ficção, escrevi-a precisamente por me ter lembrado de algo que me contaram. Algo que ainda hoje é tabu, pela carga moral que teve numa época. Imaginei apenas uns segundos no fim da vida da pessoa em causa.
Embora com outro tipo de recriminação social, não duvido que este tipo de situações existam.
E não duvido que muitas pessoas não se lembrem que só têm uma vida para viver e merecem o máximo que ela lhes possa dar.
Beijos :)
Crest,
ResponderEliminarE eu gostei de saber que gostaste :)
Beijos :)
Pax querida, deixaste-me emocionada. Tão bom!
ResponderEliminarBeijinhos e muito obrigada
Patrícia,
ResponderEliminarFoi muito bom saber que sim :), que passam as emoções, que gostaste.
Beijos e obrigada a ti :)
Então quem partir as ventas ao Paulo por ele querer partir a bilha à Maria Manuela?
ResponderEliminarPaulo
Paulo,
ResponderEliminarEssa frase nem faz sentido na língua portuguesa nem como comentário ao post, além de que desconheço os personagens referidos.
Portanto, educadamente, te informo que podes redireciona-la para o sitio correcto.
LOOL, pax, o dia em q o teleporte chegar, já me há-de maravilhar! =D mas, não sei porque, associo sempre o teletransporte a moscas mutantes...arrgh LOL!
ResponderEliminarVerdade, os nossos avós (e pais!) passaram por pequenos contras que a nós nos pareceriam barreiras intransponiveis e bilhete de ida pró inferno!
Já não tenho avós :(! Este Natal vai ser tristinho, a minha velhota fazia sempre os Formigos dela e tinha tanto prazer em embrulhar as prendinhas :(!
ResponderEliminarAbreijos linda
Esse anónimo deve ter escrito por causa do meu comentário à MM. ;)
ResponderEliminarAbreijitos
Van,
ResponderEliminarAh, pois é!
O pior é que, como agora temos o problema das linhas cruzadas nos telefones, no futuro ainda vai metade do nosso corpo para uma cidade e a outra metade para outra!
Ou pior: vem o cérebro de algum idiota para o nosso corpo e depois já não quer trocar! :):):)
Beijos :)
Afrodite,
ResponderEliminarEu sei que será o primeiro Natal que passas sem a tua avó... :( e as pessoas que se foram são sempre recordadas com carinho. É assim mesmo que quererão que seja.
Não sei se é geral, mas no Minho deixa-se a mesa posta com tudo e só se arruma no dia seguinte, para que quem já foi também possa partilha-lo... é assim que fazemos.
Beijos :)
Afrodite,
ResponderEliminarAmiga, vais ter de especificar, que nem sei quem é a MM.
(Eheheh, mas vou investigar :)
:)
Qué bonito, miúda...
ResponderEliminar...qué bonito.
Não ouso escrever mais nada. Fica este silêncio emocionado.
Cris,
ResponderEliminarObrigada :)
O teu (e vossos) comentários fizeram-me ter vontade de escrever esta história vista por outros olhos... ;)
Vou ver se ainda me inspiro para, um destes dias, o fazer :)
Beijos :)
Afrodite,
ResponderEliminarJá percebi o problema do anónimo!
Então tu ofereces porrada ao tarado quebra-bilhas e depois é comigo que ele vem implicar?!
Tshhhh... haja paciência!
Beijos ;)
Então queres partir as ventas ao Paulo por ele querer partir a bilha à Maria Manuela?
ResponderEliminarPaulo
Ps: Com um pouco de imaginação chegavas lá, ou não?
Por algum motivo eu fui direcionado para aqui.....
Se vocês tem blogs misturados,separem as águas.
Paulo,
ResponderEliminar"Ps: Com um pouco de imaginação chegavas lá, ou não?"
"Não, não chegava. Existem milhares de blogues em Portugal e eu nem conhecia o teu favorito.
"Por algum motivo eu fui direcionado para aqui....."
Não discuto as tuas incapacidades mas aqui tinha sido a tua oportunidade de dizeres "desculpa, enganei-me".
"Se vocês tem blogs misturados,separem as águas."
Se alguém tem de separar alguma coisa aqui és tu, que te enganas, fazes asneira e ainda achas que tens razão.
Obrigado pela correcção no que toca à língua portuguesa.
Se o facto de eu te pedir desculpa te deixa feliz, então aí vai: desculpa.
ResponderEliminarAgora quanto ao comentário foi feito por uma tal Deusa Grega da Beleza e do Amor e este é um blogue da dita cuja.
Desculpa,sorry, pardonne-moi,Bekümmert, perdón, mi scusi.
Agora vou chorar
Paulo
Paulo,
ResponderEliminar"Se o facto de eu te pedir desculpa te deixa feliz, então aí vai: desculpa."
Não é uma questão de felicidade mas sim de assumir um engano e de educação.
"Agora quanto ao comentário foi feito por uma tal Deusa Grega da Beleza e do Amor e este é um blogue da dita cuja."
Que se tivesses tido um segundo de atenção verias que este post e a minha assinatura nada tinham a ver com o teu comentário.
De qualquer modo, a Afrodite faz sempre comentários certeiros e com razão. Não concordas?
Desculpa,sorry, pardonne-moi,Bekümmert, perdón, mi scusi.
Pedido de desculpa aceite :)
"Agora vou chorar"
Se te deixa feliz...
anónimo Paulo...
ResponderEliminarPara que fiques feliz e com águas separadas tens o meu bloguezito...só meu...excusas de chatear outros com baboseiras ;). Feel free! Tem é cuidado ao entrar, que pode ser que te vão ao rabo sem vaselina...mas como gostas de dar também deves gostar de levar.
Adeuzito
P.S. - Sorry aos restantes!
Sublime!
ResponderEliminar(sabes que não digo isto muitas vezes!)
Beijinhos,
FATifer
FATifer,
ResponderEliminar"Sublime!
(sabes que não digo isto muitas vezes!)"
Ainda não tinha lido este teu comentário e já te tinha respondido no seguinte que sabia disso, daí o valor que, para mim, teve a tua opinião.
Beijos :)
Venho tarde, mas como percebi que a historia que li, e que adorei, tinha um inicio anterior, tive que vir ler do inicio, e tenho a dizer que estou encantada, esta mt mt bom.
ResponderEliminarAgora já posso ir ler a continuação, e tu não pares continua que esta realmente muito bom.
Bjs
Minhoca,
ResponderEliminarUm comentário assim, vindo que alguém que gosta tanto de ler como tu, é mesmo, mesmo, mesmo muito bom :)
Obrigada, vou ler os restantes :)
Beijos :)