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Acabara de almoçar e chegara-se à janela.
O mesmo gesto de cada inicio de tarde que mantinha ainda hoje.
Já lhe fugira a juventude mas não o lamentava. Não tinha porque o lamentar.
Tinha sido feliz!
Conheceram-se naquela casa. A casa dos seus pais. Era quase uma criança e amara-o no primeiro olhar.
Amara-o num olhar e na certeza de que nunca ninguém mais lhe ocuparia o coração.
Ninguém nunca a conhecera tão bem. Nunca ninguém o conhecera tão bem.
Sabiam-se com o olhar. Sabiam-se com a pele. Sabiam-se em cada toque e em cada gesto.
Ele dera-lhe tudo o que uma mulher poderia ambicionar, tudo.
Amaram-se por décadas.
Ele fora-se e desde esse dia que o chorara todas as tardes para, no final, enxugar as lágrimas, cozinhar o jantar, recolher-se no luto, comer em silêncio e no escuro da noite anestesiar a dor, até à manhã seguinte.
Desde o dia em que se fora que o chorara todas as tardes. Só e apenas à tarde, ao assomar-se à janela e ao lembrar-se de momentos...
Agora chorava ao assomar-se à janela... lembrando-se do tempo em que não chorou. Em que não tinha motivos para chorar... em que Ele não lhe tinha deixado a falta para sentir...
Já lhe fugira a juventude mas não o lamentava.
Tinha vivido a melhor vida possível. Tivera luxo, prestigio e Amor.
Tivera tudo o que escolhera ter.
Fora tão feliz com Ele... e sempre lhe pertencera. Pertenceram-se.
Viveram metade de um tempo, metade de um espaço, em duas metades de um ser completo. Duas metades de felicidade dividida e em que sempre se pertenceram.
No caminho que olhava agora, quase o vira afastar-se. O ritual de quase todas as tardes e de quase toda uma vida. Sabia onde ia, sempre o soube.
Médico. O melhor partido da melhor família da região e seu pai não hesitara em aumentar o seu já farto património.
Fora-se. Finalmente. Também ele se fora mas por ele não chorava. Não lhe dera quase nada. Dera-lhe quase tão somente o que nunca soubera que, por décadas, lhe tinha dado: as tardes de quase todos os dias.
Libertara-a.
Todas as tardes olhava o caminho nesta janela, onde o esperava afastar-se... Depois, descia ao quarto dele e com Ele, entre lençóis de linho, consumava o seu Amor.
Trabalhara naquela casa durante décadas e guardara todas as tardes para dois...
Nunca casara e, Ele sim, fora unicamente seu.
Amaram-se e conversaram até ao último dia da sua vida.
Chorara-o em cada tarde desde que Ele se fora mas a partir de agora, que ele já não estava... já poderia chora-lo sem hora marcada.
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Stop the world, I wanna get out!
Há 21 horas
…hum … li de um fôlego e… mais que mereces, por isso aqui fica:
ResponderEliminarSUBLIME!!!
Desculpa gritar mas quando disseste que não sabias se merecerias do 3º “!” foste no mínimo modesta!
Adorei também o final à Crest (como tu própria o apelidaste), resta saber se ele (Crest©) o reconhecerá como tal… (acho que se não o fizer será só mesmo para não concordar contigo).
É por textos como estes (e mais) que disse (e repetirei sempre que me apetecer) que, é uma honra partilhar este espaço contigo ;)
Beijinhos,
FATifer
FATifer,
ResponderEliminarAgora fiquei babada e sem lenços à mão!
Diz lá a verdade, achaste que estava a falar de um no inicio e não do outro?
Consegui?
;)
Era esse o que referia como final "à Crest", lol.
Amigo, uma honra partilhada :)
OBRIGADA (desculpa gritar mas fiquei contente com o que escreveste :)
Beijos :)
Conseguiste pois! E por isso mereceste o 3º “!” (além do 3º “sublime”) ;)
ResponderEliminarUma vénia,
FATifer
Pax, parabéns!
ResponderEliminarA vida é feita de momentos, este é sublime.
FATifer,
ResponderEliminar:)
:)
:)
Paulo,
ResponderEliminarA vida também é feita destes carinhos :)
Obrigada e beijos :)
Mais uma vez excepcional!!
ResponderEliminarParabéns Pax!!
E obrigada pela partilha ;)
Beijinho
P@pinh@
É para mim, apenas o exemplo de uma história feliz, uma história muito simples e por isso bela e virtuosa :) Um exemplo entre muitos casos raros.
ResponderEliminarAh falta elogiar ... Esqueci-me, lol.
ResponderEliminarEstá muito perceptivel e directo, tocou-me.
:)
Papinha,
ResponderEliminarObrigada a ti pelas palavras que deixaste :)
Beijos :)
I.D.Pena,
ResponderEliminarÉ verdade. É uma história com lados diferentes, mais ou menos triste ou feliz dependendo de quem a vê ou vive... como é tudo na vida.
E dentro do coração de cada um, só cada um é que, verdadeiramente, está.
"Está muito perceptivel e directo, tocou-me."
Foi bom saber disso :)
Beijos :)
levas jeitinho sim senhora :P
ResponderEliminarMtheman,
ResponderEliminarFoste simpático sim senhor ;)
Gostei!
ResponderEliminarMas o problema destas histórias multifacetadas, com vários capítulos anteriores, é que nos fazem perder um pouco o fio à meada... ;)
(não te acanhes, que há quem tenha escrito 20 ou mais capítulos, mas aí a minha dúvida é: porque não tentam publicar numa editora?)
Beijocas!
Teté,
ResponderEliminarEscrevi a primeira num repente, há uns dias. (Uma vida).
Os comentários é que me fizeram pensar que poderia escrever uma segunda.
Os da segunda fizeram-me imaginar uma terceira, lol.
Não era nada planeado mas gostei muito deste exercicio.
Agora já só se fosse mesmo a história do ponto de vista do cavalo, eheheheheh.
Se quiseres compreender melhor, lê por ordem cronológica: Uma vida, Uma vida II e finalmente esta. (Se bem que o efeito "final inesperado" já o perdeste :(
De qualquer modo, gosto muito de escrever e tenho gostado muito dos comentários, o teu incluido :)
Beijos :)
Maravilhoso este final, não sei que mais dizer apenas me ocorre dizer que está muito bom:)
ResponderEliminarOs meus parabens, que para chegar a este final já andei para tras para ler os 2 anteriores, e como poderás facilmente ver, li de seguidinha os 3.
Muito bom
Bjs
Minhoca,
ResponderEliminarQuando imaginei uma terceira parte para o que já não era suposto ter tido uma segunda, lol (como, aliás já o tinha dito à Teté), imaginei que teria de ser menos óbvia do que aquilo que se poderia esperar... e saiu assim: a que poderia ter sido a mais amargurada, afinal, foi a que melhor aproveitou a vida :):):)
Já vi que leste para trás, já te respondi aos comentários até; só te irei repetir que gostei muito de saber que gostaste (eu também gostei de as escrever :).
Pronto, estou babada de novo!
Beijos :)
Até arrepiei-me!
ResponderEliminarCarloressu,
ResponderEliminarHum... arrepiar é bom!
Beijos :)
Pax, desculpa mas vou copiar o Fatifer (desculpa Fat), mas tb eu li de um fôlego...
ResponderEliminarQue sensação que causas com estes textos. Espero que seja tua intenção continuares.
PS: Ainda vou imprimir os textos e fazer o livro da Pax, para ter num cantinho lá em casa.
Beijinhos querida
Patrícia,
ResponderEliminarAssim deixas-me "sêm jeito, né?"
:)
Olha, eu adorei escrever assim desta maneira... assim... p'ró... pois... coiso.
:)
E também adorei que tenhas gostado.
Pode ser que um dia me dê para escrever mais algo assim... coiso ;)
Também te tenho guardada numa página de um livro: o da amizade.
Obrigada pela opinião e pelo carinho :)
Beijos :)
Está muito bom, o contraste com os outros textos é que é assustador.
ResponderEliminarComparar estes 3 textos com o da ovelha é no minimo estranho. ahahahah
Oh linda, disseram tudo em cima, está de facto incrivel, devias continuar a escrever.;)
ResponderEliminarLindo!
Beijo linda
Crest,
ResponderEliminar"Está muito bom, o contraste com os outros textos é que é assustador."
Espero que tenha sido assustador só pela positiva :)
"Comparar estes 3 textos com o da ovelha é no minimo estranho. ahahahah"
Às tantas ainda vamos descobrir aqui a minha múltipla personalidade, ahahahahah.
(Chiça, bate na madeira ;)
Obrigadaaa, tu sabes o quanto valorizo também a tua opinião :)
Beijos :)
Vita,
ResponderEliminarLinda és tu e gostei muito de saber que também gostaste :)
I will!
Beijos :)
Crest,
ResponderEliminar(Esqueci-me de te perguntar)
- Percebeste o que é um final "à Crest"?
;)
Patrícia,
ResponderEliminar(se o fizeste, como eu, lá porque disse primeiro tens todo o direito de o dizer também! De qualquer forma)
Para elogiar a Pax, podes copiar à vontade ;)
Também espero que a Pax nos continue a brindar com estas pérolas, sempre que assim o deseje.
Beijinhos,
FATifer
Adorei adorei adorei, quase mais que o roxo eheheheh!!!
ResponderEliminarSabes, descreves na perfeição retratos de muitas vidas...mulheres que se dedicaram a homens que nunca foram verdadeiramente delas mas que só aquela migalhinha chegou para sonhar uma vida inteira! Quando eles morrem passa a ser um alivio.
Soube de histórias da vida real em que no velório aparecia a mulher e uma mulher misteriosa...que nesse dia se sabia que era a tal, a amante, a silenciosa, a escondida que passou a vida inteira a ser a outra e mesmo assim chegou-lhe.
Há por ai fora com cada vida :(!
Abreijinhos linda e continua a escrever assim ;)
Pax disse...
ResponderEliminar"- Percebeste o que é um final "à Crest"?"
Nao. Pois um final à Crest parece-me ser o que faz sentido na altura e o teu final, faz sentido. Nao sou a melhor pessoa para catalogar finais à Crest :)
Afrodite,
ResponderEliminarÉ isso mesmo.
Muitas histórias dessas haverá, de mulheres e homens que, por motivos vários, toda a vida se esconderam e sofreram em silêncio por não terem por inteiro aquilo que gostariam de ter.
Muitos e muitas nem ao velório ou funeral da pessoa que amaram poderão ir, exactamente por serem a/o outra/o. Também não deve ser fácil sofrer sem sequer o poder demonstrar.
"Adorei adorei adorei, quase mais que o roxo eheheheh!!!"
Esse será um amor até que o fim das pilhas vos separe! Lol.
Beijos :)
Crest,
ResponderEliminarO meu conceito de final "à Crest" é de um final menos esperado do que aquele que o inicio faria prever...
:)