quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Valor (es)

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É curiosa a forma como, ao longo da vida, a importância que damos à maior parte das coisas diminui. Poucas são as que aumentam o seu valor.
Começamos por ir desvalorizando o segundo em que toca para os intervalos, depois o minuto em que terminam os filmes de que gostamos, as últimas horas das férias, depois os últimos dias dos namoros felizes... mas não é por isso que passamos a valorizar mais os intervalos, o inicio dos filmes, as férias ou mais um novo amor... a tendência é acabarmos a relativizar tudo, chamando evolução ou refinamento de gostos à mudança no que antes eram os nossos pequenos grandes prazeres, ao que antes nos fazia correr, sorrir, aquecer, tocar...
Inconscientemente ou não, perdemos. Perdemos momentos que nos fariam felizes se lhes continuássemos a dar essa hipótese.
Inconscientemente ou não, deixamos-nos desencantar.
Evoluímos sim, na direcção da perda, da incapacidade da emoção, da frieza, da desvalorização do sentimento, nosso e alheio. Refinamos a faculdade da abstracção, de saber esconder que sentimos, o que sentimos, de nos recusarmos a admitir que em tempos possuímos tal fraqueza!
Talvez apenas um dia, um dia em que tenhamos consciência de que já não há intervalos, já vimos todos os filmes, já não nos apetece ir de férias ou estejamos sós... aprendamos a valorizar tudo de novo. Ainda que já só o consigamos fazer em memórias de nostalgia.
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18 comentários:

  1. Digo-te já o que todos começam a valorizar mais à medida que o tempo avança: a saúde! (isto é o que dá ter uma data de velhotes na família, a queixarem-se que "já não são o que eram", etc. e tal)

    Desabafo à parte, continuo a querer ficar no cinema até ao finzinho de todos os créditos, a dar valor ao amor e à amizade, à família, aos bons momentos da vida! Sei lá, nada se repete, mas é preferível dar valor na altura certa, do que depois, a brandir a bengala de arrependimento e a falar com os botões "que no meu tempo é que era bom"! :)

    Beijocas!

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  2. É incontestável que, o que vulgarmente se designa por “aprender a viver” implica, como dizes, a perda (ou o desenvolver da capacidade de esconder) de certos sentimentos. A incapacidade de abstracção perante o que nos rodeia e sobre o qual não temos qualquer tipo de poder (injustiças, sofrimento, etc…) tornaria a nossa vida insuportável. Dito isto, e porque me custa acabar por concordar com a tua análise, tenho que dizer que (como disse a Teté) continuo a ficar até ao fim dos créditos em cada filme, continuo a valorizar sobremaneira a verdadeira amizade quando a encontro… enfim, continuo sempre a lutar contra essas perdas que nos são impostas pois desistir não é solução. O nosso mundo pode ser belo se soubermos olhar para o sitio certo e da forma correcta, como mostraste no teu último post! ;)

    Beijinho,
    FATifer

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  3. Bolas. É isso que me está a acontecer, então...

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  4. Á medida que vamos "crescendo" vamos ficando mais cínicos. Não sei se é inerente à idade ou se apenas uma forma de nos protegermos do mundo, a verdade é que isso que falas acontece, afastamo-nos do que gostamos com medo, medo da desilusão, medo do fracasso. Acabamos por ter medo de viver, e isso não nos torna mais fortes, pelo contrário, e entristece-nos.
    Mas dizem que o primeiro passo é a constatação, quando damos por isso, podemos tomar a rédea da vida, e não deixar que nos passe ao lado sem a felicidade de uma paixão, ou um final feliz num filme.

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  5. eu não consigo não dar hipótese a momentos de felicidade! a não ser que sejamos dois, e um como dizes os relativize e desvalorize, e esses momentos acabam por se perder no passado, naquilo que podiam ter sido. aí, baixo os braços, resigno-me, e... e eventualmente vou-me embora.

    a vida não é tão longa assim, para os deixarmos escapar.

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  6. A avaliar pela ansiedade com que esperei pelas 16:31 de hoje, não posso concordar contigo...

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  7. Teté,

    Pois, na saúde é coisa que só pensamos nos dias em que nos falha, ou seja, mais frequentemente quanto mais tarde for. Agora valores como amizade, família, bons momentos, acho que damos sempre valor, mesmo na infância. Eu lembro-me do valor imenso que tinham para mim as brincadeiras com os meus companheiros dos 5/7 anos.
    Há que aproveitar sim, tudo até ao final, o melhor que conseguirmos conquistar à vida :)

    Beijos :)

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  8. FATifer,

    Amigo, como diz a minha mãe "Viver não custa, o que custa é saber viver".
    Concordo que ao longo da vida o que nos dá mais insensibilidade e frieza é o nosso próprio instinto de protecção, que tende a defender-nos de mágoas que já conheceu e reconhece... mas é pena, porque nesse processo tendemos a perder tanto!
    Eu também tento não perder tudo. Tento não perder toda a ingenuidade, a crença no carácter dos outros, a confiança em quem se deixa ver dentro dos olhos. E espero poder continuar a dizer isso daqui por muitos anos!

    Beijos :)

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  9. Vani,

    O travão é o do meio!
    Ainda vais a tempo! Não percas tudo!

    :)

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  10. Gata,

    A idade acaba por acompanhar esse crescendo de cinismo e de instinto de protecção. Quanto mais velhos mais desilusões já por nós passaram, portanto, mais frios vamos ficando. Não duvido de que seja o nosso instinto de sobrevivência ou defesa.
    O problema é mesmo esse: com medo da desilusão escaparmos à ilusão, com medo do fracasso nem sequer tentarmos... é por isso que, actualmente, dificilmente me apanho numa qualquer situação em que o medo do fracasso seja superior à vontade da tentativa. Lido bem melhor com a desilusão do que com a falta de ilusão.

    :)

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  11. A,

    Ainda que alguém não te acompanhe nessa busca, sabes que pelo menos tentaste! Ou seja, perdeu mais quem não quis/lutou por ter.
    E enquanto desistires só depois de teres tentado, vives bem com isso. Mau mesmo é nem sequer nos permitirmos iludir pelo simples medo da desilusão.
    A vida é mesmo demasiado curta, até para quem tem consciência disso.

    :)

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  12. Rafeiro,

    Nesse caso, espero bem que mantenhas a coerência e tenhas passado a dar muito mais valor às 16:32 de hoje...

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  13. Uuuui, é tão difícil concordar contigo neste assunto!... Não porque não seja verdade mas porque não quero acreditar que me tenha tornado numa dessas pessoas. Se bem que no fundo acho que, como disseste, inconscientemente ou não, acaba mesmo por acontecer na maioria das pessoas. Isto porque a armadura que escolhemos transportar não deixa de facto entrar as coisas más... mas também não deixar sair as boas. Precisamos de uma armadura Geox, é o que é! Enquanto não inventam uma, a solução estará em saber quando usar armadura e quando não usar.

    Mas tu não tens esse problema. Uma das coisas que me atraiu neste blog foi o teu sentido de humor mordaz e a maneira positiva como encaras as coisas, ambos muito característicos de quem continua a dar valor às coisas que realmente importam. ;)

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  14. Concordo com a gata, afinal somos as duas felinas, penso que com a idade vamos ficando cada vez mais cínicos e não damos tanta importância a certas coisas, se calhar é um modo de nos defendermos, provavelmente já fomos magoados de uma forma ou de outra.Pássamos a idade dos pesadelos, mas chegámos à idade dos medos: medo de sermos magoadas, de falharmos, etc.
    Mas se não começamos a apreciar esses pequenos momentos então é que falhamos, não é? Podemos falhar o amigo, a oportunidade, aquela paixão das nossas vidas! superamos os nossos medos enfrentando-os então vamos apreciar os nossos fins, sem medos. E para visita já falei demais. Bjs e desculpem qualquer coisinha :)

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  15. Rice,

    Acho que é inevitável tornarmos-nos cada vez mais assim ao longo do tempo. É o tal nosso sistema defensivo ou a consequência dos desencantos aos quais não conseguimos escapar. E não é fácil saber quando ou com quem precisamos de armadura, apenas de um capacete ou de nada!

    Eu tento sempre encontrar o lado positivo, o lado risonho, o lado divertido das coisas que, por vezes numa primeira impressão, parecem nem os ter. Tento e consigo muitas vezes!
    E tens razão: há coisas a que dou mesmo muito valor, que me parecem ser as que realmente importam, como a amizade, a integridade, a consciência tranquila, até o saber que acabei o dia sem perguntas por responder :)

    Beijo :)

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  16. Catwoman,

    Aqui nenhuma visita fala demais! :)

    Também concordo, muitas vezes são mesmo as desilusões e desencantos que nos vão tornando mais frios, insensiveis, cínicos... o que, claro, nos faz perder tantos momentos bons em que poderiamos ter investido e, lá está, por medo não o fazemos.
    Falando por mim, actualmente já cheguei à fase (e repito) de que consigo viver bem melhor com uma desilusão do que na incerteza de não me ter permitido nem sequer iludir :)

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  17. Pax, o que descreves é um fenómeno perfeitamente normal e universal...

    As mãos calejadas de um trabalhador do campo podem não ser tão sensiveis ou agradáveis ao toque como outrora, mas a vida assim as moldou... Todos os dias ao pegar na enxada ele agradece os seus calos e todos os dias ao acariciar a sua esposa os maldiz... :)

    Beijinhos...

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  18. Boss,

    É como dizes, mas quantas vezes nos permitimos ter mais calos do que aqueles que seriam necessários? E quantas caricias não teremos já falhado por os não termos reduzido? E quantas vezes não ficámos a olhar para eles, a lamentá-los, enquanto a vida vai passando... :)

    Gostei da imagem, beijos :)

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