sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Mais um que conto - parte 4

- Joana que cara é essa?
-… estava só a pensar a sorte que tenho de te ter encontrado um dia… a sorte que tenho de me saberes ler tão bem…
- …e tu a mim Joana. Achas que é sorte? Lembra-te do que me disseste pela enésima vez ainda hoje de manhã no guincho… somos um!
- Sim meu amor mas…
- Mas o quê? Não vais pôr em causa que nos encontraríamos neste mundo, vais?
- … pois mas…
- Joana desde a primeira vez que te vi que sabia que serias minha e eu teu… não sei explicar mas sabia!
-… eu também, quando senti o teu olhar… quando pela primeira vez nos olhámos olhos nos olhos, perdi todas as dúvidas que poderia ter alguma vez tido… mas continuo a achar que foi sorte termo-nos encontrado… uma sorte que agradeço todos os dias e ainda mais em momentos como este…
- Joana…


Continuavam a olhar-se olhos nos olhos e Miguel tinha uma expressão que Joana conhecia bem, uma expressão que sempre tinha quando achava que não valia a pena verbalizar porque o seu olhar já era suficiente para ela perceber o que ele queria dizer…


O dia continuava frio e cinzento mas para aqueles dois parecia um dia de Verão luminoso e quente. Levantaram-se e foram até ao terraço. Abraçados contemplam um raio de sol que insiste em passar pelas nuvens e iluminar uma árvore isolada no meio do relvado em frente.


- Joana…
- Sim…
- …queres?
- Quero.

Voltaram para dentro, trocaram de roupa e foram até à garagem. Entraram no M5 e partiram. Estacionaram no parque do aeródromo, cumprimentaram o segurança e seguiram em direcção à pista. O helicóptero estava pronto à espera deles. Entraram e passado o ritual de verificações, descolaram. A paixão pelo voo era partilhada, ambos sabiam pilotar e adoravam aqueles passeios. O tempo tinha melhorado o que permitia uma maior e melhor visibilidade.

- Miguel se calhar tens razão… a força que nos une é tal que encontrar-nos - íamos de qualquer forma.
- … eu sei que tenho razão.
- Convencido!
- …
- … sinto um alívio estranho… enquanto vinha no carro dei comigo a pensar em nomes para o nosso filho…
- Filha… e vai chamar-se Isabel.
- Como sabes que é uma filha?
- …não sei… apenas sei… e também sei que vai ser ainda mais bonita que a mãe… até tenho pena dos homens deste mundo…
- Isabel é um lindo nome…
- …sabia que concordarias… é o teu único defeito é não te chamares Isabel…
- Oh Miguel tu tens cada uma!

Miguel solta uma gargalhada enquanto fixa o horizonte, nem precisa de olhar para ela, sabe exactamente a expressão que ela tem, aquela que ele adora provocar.
Seguem ao longo da costa observando as praias desertas…
O pôr-do-sol já não demora muito, decidem pousar para apreciar o espectáculo. Contemplar o sol a mergulhar nas águas é algo que fazem sempre que podem. Por mais que se repita todos os dias é um acontecimento que parece não perder a sua magia.


FATifer

8 comentários:

  1. Nesta parte do conto senti que estes dois estão numa fase de enamoramento chocante e por demais lamechas, bem distante do casal do conto anterior (apesar de ser o mesmo). Posso estar a delirar, mas foi isso que senti.
    Muito inspirador e ternurento este amor que é como quase todos, dá a sensação (ainda que apenas nos momentos iniciais) de que não há ninguém mais indicado para nós. É enganador, mas não deixa de ser bonito.
    Gostei muito:)

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  2. Brandie,

    Concordo que parece lamechas, também achei mas não me apeteceu apagar depois de ter escrito.

    Sou (em parte) um romântico incurável e por isso gosto de alimentar a ilusão espelhada no dizes:

    “Muito inspirador e ternurento este amor que é como quase todos, dá a sensação (ainda que apenas nos momentos iniciais) de que não há ninguém mais indicado para nós.

    Sei que pode ser “enganador”, mas como também concluis “não deixa de ser bonito”.


    Não vou negar que das histórias que escrevi aqui até hoje, esta é a que tenho tido mais dificuldade em manter uma certa coerência de escrita. Talvez não esteja suficientemente inspirado ou então estejas a tentar conjugar assuntos que não são fáceis de articular… como já disse, continuo um pouco na dúvida que volta conseguirei dar para chegar a uma conclusão que me satisfaça.

    Em todo caso ainda bem que gostaste, mesmo sendo lamechas :)

    Beijinhos,
    FATifer

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  3. Ahhh pois. Lamechas mesmo. Aliás como sempre que nos apaixanamos somos lamechas!
    Na minha opinião são dois personagens lamechas por gostarem tanto um do outro e estarem tanto em sintonia (que nem sei se seria possivel duas pessoas terem tanta sintonia assim na vida real mas se fosse, a vida tornava-se-lhes numa chatice em três tempos!;)

    Gostei muito da parte da evasão, de ver o mundo por cima. (Na próxima vez que forem, a ver se me levam, ok? ;)

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  4. Cara deusa Pax,

    Tu que leste tudo o que escrevi, já conheces bem esta minha tendência para criar imagens do ideia (é a minha faceta de “romântico incurável” que referi na resposta à Brandie). Admito que pode parecer sintonia a mais mas também só viste um dia da vida deste casal e mesmo assim, se releres, encontrarás pequenos e subtis momentos em que a sintonia não é absoluta. Genericamente concordaria contigo que será muito difícil de considerar esta uma situação real (por isso disse logo que é ideal). Concordo também que poderia ser chato (embora muitas pessoas se chateiem porque não encontram este ideal!). Mas isto é uma história em que não tenho qualquer pretensão de retratar fielmente nenhuma realidade… :P

    “Gostei muito da parte da evasão, de ver o mundo por cima. (Na próxima vez que forem, a ver se me levam, ok? ;)”

    Também gostava de ir, posso?

    Beijinhos,
    FATifer

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  5. "(embora muitas pessoas se chateiem porque não encontram este ideal!)."

    Olha que não sei...
    Falando por mim, se eu tivesse a meu lado quem me adivinhasse todos os desejos, pensamentos, actos... medooo! Soa-me ao cúmulo do aborrecimento numa qualquer relação, embora aceite que conhecer alguém tão bem assim que se consiga aproximar disso possa ser uma idealização de uma relação perfeita. (Para mim uma relação ideal tem de viver também de surpresas, de improvisos, de inesperados, de espectativas ou perde a emoção que, idealmente, a terá de alimentar).

    Está combinado!
    Para a próxima vamos voar também! ;)

    Beijos!

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  6. Cara deusa Pax,

    Concordo com o que dizes, pois aceito que muito dos que se chateiam por não encontrar a “relação ideal” se calhar chatear-se-iam, caso a encontrassem, por falta dos elementos que referes (surpresas, improvisos, inesperados, expectativas). Isto claro com a devida reserva que o conceito de “ relação ideal” é também ele altamente subjectivo!

    Caso acreditasse em reencarnação, umas das coisas que agendava para a próxima vida seria mesmo aprender a pilotar um helicóptero (é algo que nesta vida não vejo forma de concretizar). Aí poderias voar comigo quando quisesses! ;)

    Beijinhos,
    FATifer

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  7. "Nunca deixes para amanhã o que podes fazer hoje". Nunca deixes para a próxima reencarnação o que queres fazer nesta.
    Estarás sempre a tempo, quem sabe?
    Pelo que sei, os heli são do mais dificil que há em termos de pilotagem... eu ainda gostava de voar num alguma vez, não vou é esperar outra reencarnação... pode ser que ainda consiga nesta! :)

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  8. Cara deusa Pax,

    “Pelo que sei, os heli são do mais dificil que há em termos de pilotagem...”

    Acho que já me conheces o suficiente para saber que não gosto de coisas fácies ;)

    Pilotar um helicóptero é algo que até não me importava de fazer mas não é nada que ache que tenha de fazer, se fosse, já tinha feito provavelmente… mesmo que não seja comigo acho muito bem que queiras dar um passeio num :)

    Beijinhos,
    FATifer

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