terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

“Um Encontro Perfeito” – desafio (parte V)

Vem à varanda e sente o vento quente daquele fim de tarde de verão, lá se foi o efeito refrescante do gel de banho, pensa. Olha ao longe o sol a querer mergulhar no mar e sorri. Volta para dentro e dirige-se à garagem, pelo caminho passa pela cozinha e agarra numa mala térmica que coloca na bagageira do carro. A porta da garagem abre e arranca. O caminho pela marginal é feito num instante. Estaciona o carro ao lado do carro dela e dirige-se ao elevador. Na porta do apartamento um bilhete “entra que estou a tomar banho”. Timing perfeito, pensa. Usa a chave para entrar, como fora instruído e dirige-se à cozinha colocando o conteúdo da mala térmica no frigorífico.


- Estou no banho mas podes subir.
- …vou já, estou só despir o casaco.

Sobe as escadas e dirige-se ao quarto, espreita pela porta da casa de banho. Na banheira circular cheia de espuma está uma mulher de longos cabelos castanhos avelã, olhos azuis, rosto angelical. Vê a ponta de um joelho e as mãos e braços aparecendo ocasionalmente por debaixo do mar de espuma.

- …chegaste cedo.
- mas já estavas à espera, deixaste o bilhete.
- Já te conheço… queres entrar?
- … tentador mas já tomei um duche ainda à pouco. Acaba que eu fico ver-te.
- Voyeur!
- … diz o roto ao nu.
- A nua ao vestido neste caso concreto.

Soltam ambos uma gargalhada.

- Bom vou lá abaixo fazer uma chamada, acaba o teu banho…
- … fazer uma chamada?... hum… vou fingir que acredito… que é que tu andas a magicar?
- Eu? Magicar?
- Sim tu… vai lá que ainda vou escolher o que vestir.
- Não preciso assim de tanto tempo para a chamada.

Voou um sabonete em direcção à sua cabeça mas ele desviou-se a tempo.

- Estás a melhorar a pontaria!
- Vê lá se queres que acerte!
- … fica para a próxima, até já…

Saiu da casa de banho e houve um compasso de espera antes de se ouvir os seus passos escada abaixo dirigindo-se à cozinha. Ela levantou-se, saiu da banheira e foi até à cabina de duche para passar o corpo por água. Sente os músculos contraírem e a pele arrepiar-se enquanto a água fria escorre pelo seu corpo. O duche frio dura apenas alguns segundos, sai da cabine de duche e olha-se ao espelho enquanto se enxuga. Lembra quantas vezes ele tomou esse papel e quão bom é ser enxugada por ele, “espero que tenha uma boa desculpa para se ter escusado a isso hoje”, pensa enquanto se observa ao espelho, as suas formas, muitos já disseram perfeitas. Pendura a toalha e vem para o quarto, em cima da cama um lindo vestido branco cumprido e leve, quase transparente. Como é que adivinhou que ia escolher este? Pergunta-se enquanto escolhe a lingerie a condizer. Veste-se calmamente e perfuma-se. Desce as escadas devagar. A voz melodiosa de Esperanza Spalding enche o ambiente numa música calma que reconhece “short and sweet” mas dele nem sinal. Olha para o terraço. Uma mesa e duas cadeiras ladeadas por uns archotes acesos parecem esperar por eles. Em cima da mesa um frapê onde se distingue o topo de uma garrafa com a rolha pronta a ser tirada, ao lado uma taça com morangos e dois flute. Ao longe o sol acabado de mergulhar no mar ainda tinge o céu de um laranja vivo especialmente na linha do horizonte. Dirige-se para o terraço na expectativa… não o vê, passa pela mesa e não resiste a tirar um morango que trica com aquela suavidade selvagem que só as mulheres sabem ter. Dirige-se até à ponta terraço sentido a brisa quente de verão moldar-lhe o vestido ao corpo. Ouve finalmente a rolha a saltar como esperava e o som de copos a encher. Vira-se, ele tem uma rosa na boca e da sala ouve-se os primeiros acordes de um tango. Ela sorri e dirige-se a ele, tira-lhe a rosa com a boca, ele agarra-a e começam a dançar. O espectáculo seria digno de ser visto mas não têm público, interpretam a música como dois amantes que são, na cara de ambos é evidente o extremo prazer que têm de dançar juntos. A música acaba, a flor está desfeita no chão de tantas passagens de boca em boca. Olham-se nos olhos, abraçam-se e vêm até a mesa para se refrescarem com champanhe e deliciarem com os morangos.

- Estiveste bem… não estava à espera desta.
- É bom ainda te conseguir surpreender…
- …humm estes morangos estão divinos…
- …ai sim? Deixa provar…

E come o resto do morango que ela ainda tinha por fora da boca tudo misturado com um beijo.

- Tens razão… estão óptimos!
- Lambão…

Os morangos e o champanhe não duraram muito, ela olha-o com cara de quem quer mais, ele pega na mão dela e dirigem-se à cozinha. Em cima da bancada está um pote com mel, uma taça com chocolate derretido e ainda outra com morangos.

- Vamos queimar estas calorias todas?
- …era essa a ideia, porquê não te agrada o programa?
- Acho que falta qualquer coisa…

Ele dirige-se ao frigorífico e tira uma taça com chantilly e outra garrafa de champanhe.

- … melhor assim?
- Sim, agora está melhor…

Pegaram nas taças e rumaram ao quarto. A noite ainda estava a começar e muitas danças havia ainda pela frente…


Fim

FATifer

“Um Encontro Perfeito” – desafio (parte IV)

Parou a moto à frente do que fora outrora o alpendre, diante si os restos da cabana em escombros. Nunca mais tinha tido coragem voltar a este lugar. Perguntava-se porque o teria feito? Sim o bilhete, era real, a sms… também… mas… porque estava ali? O que esperava encontrar?


Não queria pensar no que tinha acontecido naquela noite mas estando ali, era difícil evitar. Até hoje tinha-se sempre focado na parte boa, aquela visão de Catherine deitada no chão em frente à lareira era como a queria recordar. Desligou a moto, retirou o capacete. “Agiste sem pensar”, pensou para consigo. “O que estás aqui a fazer?”, “Quem estará por detrás disto?” perguntava-se olhando em volta. Por fim cede e recorda os eventos daquela noite. O grupo de homens que entrou na cabana. A forma com a levaram para um carro. O prazer com que lhe haviam batido e deixado por morto. Recorda depois a forma como matou um a um todos eles, ainda consegue ver as suas caras suplicando pela vida. Mas todos disseram que ela estava morta e por isso deixou de procurar… Apetece-lhe gritar e até podia mas para quê? Há anos que a sua vida era só trabalho para não ter de se lembrar dela e agora estava aqui, de volta a este local, qual marioneta no jogo de alguém, mas quem? Quem poderia ainda conhecer aquela sua história?

O som de um carro ao longe fá-lo voltar ao presente. Fixa o olhar no caminho. À medida que o som se torna mais próximo, um sorriso nasce no seu rosto. Reconhece o som, é um Jaguar E type. Alguém tem um sentido de humor perverso mas está decido a pagar para ver quem.
O carro aparece por entre as árvores e pára a uma distância que não lhe permite identificar quem está atrás do volante. A porta abre-se, a luz da lua cheia ilumina o vestido branco…

- Catherine?...
- …
- … é impossível! Tu estás morta!
- Não Ricardo… tinha de pagar a minha dívida, disse que traria o jag da próxima vez…
- …mas…
- Não me peças para explicar. Sei tudo o que fizeste. Como me procuraste. Mas eu não podia deixar que me encontrasses. Acredita em mim e perdoa-me.
- Catherine…

Estavam frente a frente, olhos nos olhos. Ele estende a mão e toca-lhe no rosto, ainda na dúvida se o sentiria. Limpa a lágrima que escorria já face abaixo e abraça-a. As bocas encontram-se sedentas uma da outra. Os corpos colam-se. As mãos passeiam-se e os corpos acusam o seu toque. Ouve-se um tiro e no mesmo instante os dois amantes jazem inanimados ao luar.



- Acaba assim? Não gosto!
- …não?
- Não!
- … mas sou eu que estou a escrever…
- Sim mas pediste a minha opinião.
- É verdade…
-… já sabes que gosto de finais felizes e este é muito triste! Acho que levaste a tua mania de surpreender o leitor longe demais.
- Aceito o teu ponto de vista mas vais ficar assim. Agora tenho de desligar, obrigado pela opinião. Beijo.
- E …


João desligou, tinha de acabar de formatar a história para enviar para o editor. “Falta aqui um ponto e um espaço, isto tem de ser em itálico, pronto terminei, agora é só enviar. Já está.” Pensava alto à frente do pc. Levanta-se e dirige-se à casa de banho. Despe-se e entra no duche. Deixa a água quente escorrer pelo corpo. Agora que tinha acabado não queria mais pensar em nada, concentra-se apenas na água, o som que faz ao cair na sua pele.
A custo fecha a torneira. Estendo a mão pega no toalhão para se enxugar. De volta ao quarto abre o armário de escolhe umas calças e uma camisa, olha para baixo para escolher os sapatos e lá se decide. Coloca as roupas em cima da cama e os sapatos no chão e volta à casa de banho para se perfumar. De volta ao quarto veste-se em frente ao espelho pensando no que tem planeado para essa noite.


Continua…


FATifer

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

“Um Encontro Perfeito” – desafio (parte III)

- My darling Catherine… vamos… ao nosso lugar…

- Ao nosso lugar?

Ele pára, vira-a para ele e olhando bem no fundo dos olhos dela diz…

-Por uma vez vais deixar-me fazer-te uma surpresa, pode der?

O sorriso dela combina com o brilho no olhar…

- Vou?...
- Vais… e agora vamos voltar para o carro que não quero que te constipes.
- Yes sir!

Retomaram o caminho de volta ao carro abraçados. Ele sentia o coração dela ligeiramente acelerado, sabia o quão difícil era para ela fazer algo que não soubesse o que era. Não lidava bem com surpresas, por isso estava algo espantado de ela não ter oposto mais resistência ou pelo menos insistido na pergunta. Entram no carro.

- E…
- E o quê?
- …onde vamos afinal?
- Arranca que eu vou fazer de gps.

Ela soltou uma gargalhada e arrancou com um ligeiro exagero de acelerador. Seguem em direcção à serra de Sintra com ele sempre a dar indicações imitando uma voz robótica.

De moto, todos estes anos depois, relembra as indicações que lhe dera enquanto refaz exactamente o mesmo percurso. Já está perto e mergulha de novo nas recordações daquela noite.

- É ali ?
- Sim.
- …o que é aquilo?
- … é o nosso lugar, como te disse.

Ao longe avistava-se o que parecia uma cabana de montanha, quase toda em madeira apenas uma chaminé de pedra era visível.

- Só me trazes a sítios chiques.
- …não julgue pelo embrulho, por favor.

Pararam o carro em frente ao alpendre e saíram. O ar húmido deixou-a arrepiada de novo. Antes de a cobrir de novo com casaco, passa os olhos pelo seu decote e repara nos mamilos hirtos. Ela finge que não percebe para onde ele está a olhar preferindo dirigir-se à porta. Entram, ele acende uma luz e dirige-se à lareira do lado esquerdo da divisão. Ela olha em volta. Era difícil classificar a decoração até porque numa única divisão, além da lareira, havia cama mesa e tudo o mais. Na parede adjacente à lareira um mapa ladeado de duas pistolas e uma catana, tudo de aspecto antigo, prendem a sua atenção.

- Eram do meu bisavô…
- O quê?...
- O mapa, as pistolas e a catana eram do meu bisavô materno.
- …ah mas eu não perguntei nada.
- Sim mas estavas a perguntar-te.
- … tens a mania que me conheces mas enganas-te. Eu até estava a olhar para …
- Para o ramo de flores secas no aparador ali ao canto certo?
- … pensei que ias dizer a cama…
- … darling, também olhaste para ela mas conheço-te o suficiente para saber que seria o mapa era a primeira coisa que prenderia a atenção nesta sala.
- Pronto tens razão… e essa lareira já está acesa ou não?
- ..está quase.

Olhou em volta e lá viu a ramos de flores secas que ele mencionara e que ela ainda nem tinha reparado. Dirigiu-se ao aparador e ficou a olhar uma escultura em pau preto, um corpo feminino estilizado numa pose muito sensual.

- Vais dizer-me que foi o teu bisavô que fez?
- Não foi um amigo dele. Esse homem era um artista, aquele quadro que vês por cima da cama também é dele.

Sente-se um aroma a pinhas, a lareira estava acesa finalmente. Ela vira-se, olha o quadro que ele referira, um pôr do sol na savana pintado em cores quentes em traços largos e fortes.
Sente as mãos dele na sua cintura e o queixo ombro. Ele murmura-lhe algo ao ouvido e dirigem-se para o canto oposto à lareira onde está um frigorífico e um armário por cima de um lava-loiça. Ele liga uma luz por baixo do armário para iluminar a bancada. Abrem-se portas e gavetas.

- Hum… sim… e…
- Ah estava a ver que não vias…
- Pois pode ser também…

Enquanto ele corta o queijo e o presunto aos cubinhos e colaça num prato ousado na bancada ao lado do frigorífico ela pega nas duas peles que enfeitavam o sofá e coloca-as no chão em frente à lareira e desliga a luz de cima. Ouve-se o som de uma rolha. Ele vira-se com o prato numa mão, os copos e a garrafa na outra e tem de fazer um esforço para não deixar cair tudo. No chão, deitada em cima das peles, ela olha-o com desejo. A luz da lareira atrás de si ilumina os seus cabelos ruivos que parecem em chamas, as suas formas parecem realçadas pela luz tremilicante da lareira.


Continua…


FATifer

sábado, 18 de fevereiro de 2012

“Um Encontro Perfeito” – desafio (parte II)

Ouve-se um som e sente um pequeno tremer no bolso. Lentamente retira o telemóvel do bolso e lê a sms que acabara de receber:


“…acorda… não duvides porque sabes que é verdade o que estás a pensar, decidi pagar a minha dívida. Beijo”

Instintivamente olha em volta como que a confirmar que não está a ser observado. Embora neste caso mais parecesse que estavam a ler-lhe o pensamento. Volta a olhar o cartão, sim é a letra dela, não há dúvida!
Baixa a cabeça e fecha os olhos. Inspira profundamente e sente o ar passar entre os dentes semicerrados enquanto expira. Não há como resistir, e porquê tentar se esperava por este dia há anos?!
Pousa o telemóvel e o cartão em cima da cama e despe-se. Liga o sistema de som com o i-pod em shufle e dirige-se para o duche. A voz de Dianna Krall enche o espaço “I’ve got you under my skin…”
De olhos fechados deixa a água cair-lhe nos ombros e sente o corpo relaxar. Tenta não pensar em nada e apenas sentir a água quente.
Sai do duche e reentra no quarto, voz de Ana Moura inicia o “fado da procura”…
Dirige-se ao roupeiro tira umas calças de ganga e uma camisa branca. Vai-se vestindo enquanto recorda o caminho que tem de para percorrer. Desce até à cozinha, “let go” dos Frou Frou ouve-se no sistema de colunas pela casa toda. Abre um croissant que recheia com queijo fresco e salmão fumado, sumo de lichia para acompanhar. Agora ouve-se a voz de Dolores O’Riordan “stay with me”. Acabada a refeição leve dirige-se à garagem, pelo caminho desliga o sitema de som, pega na carteira, telemóvel, blusão, capacete e luvas. Entra na garagem e fica a olhar, qual levar? Decide-se pela Ducati SC1000. O som “desmo” enche o espaço e a alma. Calça as luvas e coloca o capacete enquanto a porta da garagem abre, monta e arranca, destino Sintra.
Percorre as ruas de Lisboa em direcção à marginal, sim por esse caminho vai demorar mais mas tem tempo. Pelo caminho recorda o que se passara anos atrás. Está de novo sentado num banco na Praça do Império, em Belém, vê uma mulher alta, com longos cabelos ruivos, pele branca, olhos verdes dirigir-se para ele. Ainda está a apreciar o seu vestido prático mas elegante e as formas que cobre quando ela lhe pergunta, num tom jocoso, onde são os Pasteis de Belém. Sorriem e beijaram-se.

- …que olhar era aquele que me estavas a fazer?
- …olhar? Qual olhar?... este?
- Sim esse… este vestido é assim tão transparente?
- Não, fica-te muito bem…
- Pois mas já estavas a ver-me sem ele.
- … calma lá chegaremos…
(afirmara com um sorriso e um olhar confiante)
- … querias… mas quem te disse que vais ter?
(riposta ela com um sorriso maroto)
- …vamos lanchar… tudo a seu tempo darling.

Puxou-a pela mão e dirigiram-se aos pastéis de Belém.

Um carro fez uma travagem brusca à sua frente que o obrigou a desviar-se, por momentos voltou ao presente mas depressa está de novo naquele fim de tarde…

Depois dos pastéis e do café dirigiram-se ao carro dela.

- Já te disse que adoro este teu carro?
- Sim, todas as vezes que andas nele…
- É um clássico…
- Sim até compreendo que não se veja muitos DB5 neste país…
- Entre este Aston Martin e o Jaguar E type não sei qual gosto mais…
- Ok, da próxima trago o jag…

Ele solta uma gargalhada enquanto entram no carro. Arrancam.

- Onde vamos?
- Darling… que tal irmos ver o por do sol ao guincho?
- Parece-me muito bem.
- Ainda bem…

Entram na marginal e desfrutam da paisagem, o céu quase está limpo, apenas se avistam umas nuvens altas mas a visibilidade é estupenda e a vista deslumbrante. Abrem as janelas e sentem a aragem fresca e o cheiro a mar.
Chegados ao Guicho estacionam e saem em direcção ao areal. O vento fresco deixa-a arrepiada. Ele retira o casaco e cobre-a. Sentam-se olhando o mar, ouvindo o som das ondas, sentindo o cheiro a maresia e  uma gota ou outra trazidas pelo vento a bater nas suas faces. Ele está por trás dela e abraça-a, ela vira a cabeça… olham-se… apesar de nada dizerem, conversam com o olhar. Por fim trocam um beijo, doce, quente, prolongado.

- Adoro não conseguires evitar corar quando te beijo.
- …meu querido, há coisas que não se controlam…

O reflexo do pôr do sol nas nuvens fazia-las mudar de cor de laranja fogo a carmim ou seria salmão? Não fosse uns laivos de cinza aqui e ali pareceriam farrapos de algodão doce tingido de rosa…

- …por mais que aconteça todos os dias não me canso de assistir a este espectáculo…
- Sim foi uma óptima ideia vir aqui, embora esteja a ficar gelada.

O sol mergulha de vez nas águas e a luminosidade começa a diminuir.

- E agora onde vamos?


Continua…


FATifer

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

“Um Encontro Perfeito” - desafio

Enquadramento:


Este texto nasce do desafio da Orquídea Selvagem. Por mais que reafirme que não é meu hábito responder a desafios, desta vez abro uma excepção porque me apetece (e porque ela merece). Ora, como penso que todos concordarão, o conceito de “perfeito” é altamente subjectivo, tal como os conceitos de “lamechas” e “romântico” e outros que tais. Assim façam os juízos que entenderem que eu escrevo o que quero, porque me apetece!
Como diria o outro, qualquer semelhança com a realidade é pura ficção…


Era um fim de tarde como tantos outros, voltava para casa mergulhado nos pensamentos do que tinha deixado por fazer. Caminhando pelas ruas em passo estugado estava quase alheio ao que o rodeava, como que em modo automático, tudo era apenas interpretado como sendo ou não um potencial obstáculo à sua passagem, nada mais. Por mais que tivesse olhado não viu o canteiro de flores multicolores, o rapaz que passeava o cão, a mulher que levava o gato ao colo, o mendigo que olhava o copo com umas moedas no fundo, o desenho da calçada onde faltava uma pedra, os raios de sol a passar por entre as copas das árvores. Tudo parecia a preto e banco ou nem isso. Caminhava decidido mas na sua mente ainda estava à frente do computador, a analisar a melhor forma de colocar aquele gráfico ou qual a ordem mais conveniente dos slides. Decididamente o percurso a pé que se obrigara para desligar do trabalho não estava a dar resultado mas já está perto de casa.
De repente um aroma suave e floral desperta-lhe os sentidos. Olha para trás mas já só consegue distinguir o som de saltos altos na calçada ao dobrar da esquina. Pára e fica a fitar a esquina ao fundo da rua estreita que estava a subir.

“Não pode ser” pensa, “este perfume, só ela o fazia!...”.

Parte dele quer voltar-se para cima e continuar a pensar nos slides mas continua estático a olhar o fundo da rua, onde o som dos saltos deixou de ser perceptível. Corre e dobra a esquina, nada vê. Teria sonhado?
Volta a dobrar a esquina e sobe a rua, agora mais desperto ao que o rodeia, por mais que intrigado com a forma como havia “despertado”. Olha o candeeiro antigo e a vidraça partida daquela janela onde em tempos estava uma velhota a ver quem passava. Sente a calçada irregular debaixo dos pés e a brisa na cara. Pára à porta de casa, tira a chaves do bolso, abre a porta e entra. Coloca o casaco no cabide que pendura no bengaleiro à entrada e sobe a escada para o quarto. Ao entrar no quarto vê um pequeno envelope em cima da cama. Dentro do envelope, sem nada escrito por fora, encontra um cartão onde se pode ler:

“22h no nosso lugar… beijo”

O envelope cai a seus pés e fica imóvel a olhar para o cartão na sua mão.



Continua…


FATifer

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Desabafo…

… continuo perdido em mim, sem me reencontrar, se é que alguma vez me encontrei. Por que é que insisto em iludir-me, em convencer-me que estou bem assim, se sinto a tua falta? Sim, sinto a tua falta mesmo não sabendo quem és, mesmo sem nunca te ter visto… estou bem assim ou devia estar mas não estou. Sinto a tua falta por mais que saiba que não existes! Por vezes penso que te vi, mas és apenas uma miragem ou mesmo a minha vontade de ter tal miragem. Cada vez dói mais fingir, cada vez custa mais… a culpa é minha, eu sei, se não te encontro é porque não procuro… é porque é mais fácil estar no meu canto a ter pena de mim do que sair e correr o risco de te encontrar. Sim porque mesmo sabendo que não existes tenho medo de te encontrar…


FATifer

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Wasting time….


…acordei com esta música na cabeça… acontece… e nem sempre é fácil desligar ou “mudar de estação”. Dou comigo a identificar-me com a letra… principalmente com “wasting time”, por isso escolhi para título. Sim é assim que me sinto muitas vezes… por outro lado há um pergunta que sempre me fiz nunca consegui responder: “porque é que tudo tem de ter um propósito? Porque é que a vida tem de ter um propósito?”.

Eu sei, e já o disse por aqui, que é melhor perguntar "como" do que "porquê" mas parece da natureza humana desejar o impossível… e achar que conseguimos alcança-lo!


FATifer