- My darling Catherine… vamos… ao nosso lugar…
- Ao nosso lugar?
Ele pára, vira-a para ele e olhando bem no fundo dos
olhos dela diz…
-Por uma vez vais deixar-me fazer-te uma surpresa, pode
der?
O sorriso dela combina com o brilho no olhar…
- Vou?...
- Vais… e agora vamos voltar para o carro que não quero
que te constipes.
- Yes sir!
Retomaram o caminho de volta ao carro abraçados. Ele
sentia o coração dela ligeiramente acelerado, sabia o quão difícil era para ela
fazer algo que não soubesse o que era. Não lidava bem com surpresas, por isso estava
algo espantado de ela não ter oposto mais resistência ou pelo menos insistido
na pergunta. Entram no carro.
- E…
- E o quê?
- …onde vamos afinal?
- Arranca que eu vou fazer de gps.
Ela soltou uma gargalhada e arrancou com um ligeiro exagero
de acelerador. Seguem em direcção à serra de Sintra com ele sempre a dar
indicações imitando uma voz robótica.
De moto, todos estes anos depois, relembra as indicações
que lhe dera enquanto refaz exactamente o mesmo percurso. Já está perto e
mergulha de novo nas recordações daquela noite.
- É ali ?
- Sim.
- …o que é aquilo?
- … é o nosso lugar, como te disse.
Ao longe avistava-se o que parecia uma cabana de
montanha, quase toda em madeira apenas uma chaminé de pedra era visível.
- Só me trazes a sítios chiques.
- …não julgue pelo embrulho, por favor.
Pararam o carro em frente ao alpendre e saíram. O ar
húmido deixou-a arrepiada de novo. Antes de a cobrir de novo com casaco, passa
os olhos pelo seu decote e repara nos mamilos hirtos. Ela finge que não percebe
para onde ele está a olhar preferindo dirigir-se à porta. Entram, ele acende uma
luz e dirige-se à lareira do lado esquerdo da divisão. Ela olha em volta. Era
difícil classificar a decoração até porque numa única divisão, além da lareira,
havia cama mesa e tudo o mais. Na parede adjacente à lareira um mapa ladeado de
duas pistolas e uma catana, tudo de aspecto antigo, prendem a sua atenção.
- Eram do meu bisavô…
- O quê?...
- O mapa, as pistolas e a catana eram do meu bisavô
materno.
- …ah mas eu não perguntei nada.
- Sim mas estavas a perguntar-te.
- … tens a mania que me conheces mas enganas-te. Eu até
estava a olhar para …
- Para o ramo de flores secas no aparador ali ao canto
certo?
- … pensei que ias dizer a cama…
- … darling, também olhaste para ela mas conheço-te o
suficiente para saber que seria o mapa era a primeira coisa que prenderia a
atenção nesta sala.
- Pronto tens razão… e essa lareira já está acesa ou não?
- ..está quase.
Olhou em volta e lá viu a ramos de flores secas que ele
mencionara e que ela ainda nem tinha reparado. Dirigiu-se ao aparador e ficou a
olhar uma escultura em pau preto, um corpo feminino estilizado numa pose muito
sensual.
- Vais dizer-me que foi o teu bisavô que fez?
- Não foi um amigo dele. Esse homem era um artista,
aquele quadro que vês por cima da cama também é dele.
Sente-se um aroma a pinhas, a lareira estava acesa
finalmente. Ela vira-se, olha o quadro que ele referira, um pôr do sol na
savana pintado em cores quentes em traços largos e fortes.
Sente as mãos dele na sua cintura e o queixo ombro. Ele
murmura-lhe algo ao ouvido e dirigem-se para o canto oposto à lareira onde está
um frigorífico e um armário por cima de um lava-loiça. Ele liga uma luz por
baixo do armário para iluminar a bancada. Abrem-se portas e gavetas.
- Hum… sim… e…
- Ah estava a ver que não vias…
- Pois pode ser também…
Enquanto ele corta o queijo e o presunto aos cubinhos e
colaça num prato ousado na bancada ao lado do frigorífico ela pega nas duas
peles que enfeitavam o sofá e coloca-as no chão em frente à lareira e desliga a
luz de cima. Ouve-se o som de uma rolha. Ele vira-se com o prato numa mão, os
copos e a garrafa na outra e tem de fazer um esforço para não deixar cair tudo.
No chão, deitada em cima das peles, ela olha-o com desejo. A luz da lareira
atrás de si ilumina os seus cabelos ruivos que parecem em chamas, as suas
formas parecem realçadas pela luz tremilicante da lareira.
Continua…
FATifer
...e eu que tenho panca com ruivas...
ResponderEliminar:)
Cenário idílico! "O amor e uma cabana"...
ResponderEliminarOlha que este quadro faz jus às fantasias de muito boa gente!
Este encontro antevê-se ter sido perfeito... mas anseio por aquele que a tua história conta relativo ao presente da ação.
Beijinhos e parabéns. Está a ficar uma história linda! :)
Ulisses,
ResponderEliminarMuito me honras com a tua visita a este espaço.
… “panca com ruivas” parece-me bem! :)
Abraço,
FATifer
Cara Orquídea,
ResponderEliminarEspero não estar a abusar de estereótipos mas se estiver paciência…
Mas olha que nem tudo é o que parece… deixa-me escrever a próxima parte e logo veremos o que sai.
Beijinhos,
FATifer