Vem à varanda e sente o vento quente daquele fim de tarde
de verão, lá se foi o efeito refrescante do gel de banho, pensa. Olha ao longe
o sol a querer mergulhar no mar e sorri. Volta para dentro e dirige-se à
garagem, pelo caminho passa pela cozinha e agarra numa mala térmica que coloca
na bagageira do carro. A porta da garagem abre e arranca. O caminho pela
marginal é feito num instante. Estaciona o carro ao lado do carro dela e
dirige-se ao elevador. Na porta do apartamento um bilhete “entra que estou a
tomar banho”. Timing perfeito, pensa. Usa a chave para entrar, como fora
instruído e dirige-se à cozinha colocando o conteúdo da mala térmica no
frigorífico.
- Estou no banho mas podes subir.
- …vou já, estou só despir o casaco.
Sobe as escadas e dirige-se ao quarto, espreita pela
porta da casa de banho. Na banheira circular cheia de espuma está uma mulher de
longos cabelos castanhos avelã, olhos azuis, rosto angelical. Vê a ponta de um
joelho e as mãos e braços aparecendo ocasionalmente por debaixo do mar de
espuma.
- …chegaste cedo.
- mas já estavas à espera, deixaste o bilhete.
- Já te conheço… queres entrar?
- … tentador mas já tomei um duche ainda à pouco. Acaba
que eu fico ver-te.
- Voyeur!
- … diz o roto ao nu.
- A nua ao vestido neste caso concreto.
Soltam ambos uma gargalhada.
- Bom vou lá abaixo fazer uma chamada, acaba o teu banho…
- … fazer uma chamada?... hum… vou fingir que acredito…
que é que tu andas a magicar?
- Eu? Magicar?
- Sim tu… vai lá que ainda vou escolher o que vestir.
- Não preciso assim de tanto tempo para a chamada.
Voou um sabonete em direcção à sua cabeça mas ele
desviou-se a tempo.
- Estás a melhorar a pontaria!
- Vê lá se queres que acerte!
- … fica para a próxima, até já…
Saiu da casa de banho e houve um compasso de espera antes
de se ouvir os seus passos escada abaixo dirigindo-se à cozinha. Ela
levantou-se, saiu da banheira e foi até à cabina de duche para passar o corpo
por água. Sente os músculos contraírem e a pele arrepiar-se enquanto a água
fria escorre pelo seu corpo. O duche frio dura apenas alguns segundos, sai da
cabine de duche e olha-se ao espelho enquanto se enxuga. Lembra quantas vezes
ele tomou esse papel e quão bom é ser enxugada por ele, “espero que tenha uma
boa desculpa para se ter escusado a isso hoje”, pensa enquanto se observa ao
espelho, as suas formas, muitos já disseram perfeitas. Pendura a toalha e vem
para o quarto, em cima da cama um lindo vestido branco cumprido e leve, quase
transparente. Como é que adivinhou que ia escolher este? Pergunta-se enquanto
escolhe a lingerie a condizer.
Veste-se calmamente e perfuma-se. Desce as escadas devagar. A voz melodiosa de
Esperanza Spalding enche o ambiente numa música calma que reconhece “short and
sweet” mas dele nem sinal. Olha para o terraço. Uma mesa e duas cadeiras ladeadas
por uns archotes acesos parecem esperar por eles. Em cima da mesa um frapê onde
se distingue o topo de uma garrafa com a rolha pronta a ser tirada, ao lado uma
taça com morangos e dois flute. Ao longe o sol acabado de mergulhar no mar
ainda tinge o céu de um laranja vivo especialmente na linha do horizonte.
Dirige-se para o terraço na expectativa… não o vê, passa pela mesa e não
resiste a tirar um morango que trica com aquela suavidade selvagem que só as
mulheres sabem ter. Dirige-se até à ponta terraço sentido a brisa quente de
verão moldar-lhe o vestido ao corpo. Ouve finalmente a rolha a saltar como
esperava e o som de copos a encher. Vira-se, ele tem uma rosa na boca e da sala
ouve-se os primeiros acordes de um tango. Ela sorri e dirige-se a ele, tira-lhe
a rosa com a boca, ele agarra-a e começam a dançar. O espectáculo seria digno
de ser visto mas não têm público, interpretam a música como dois amantes que
são, na cara de ambos é evidente o extremo prazer que têm de dançar juntos. A
música acaba, a flor está desfeita no chão de tantas passagens de boca em boca.
Olham-se nos olhos, abraçam-se e vêm até a mesa para se refrescarem com
champanhe e deliciarem com os morangos.
- Estiveste bem… não estava à espera desta.
- É bom ainda te conseguir surpreender…
- …humm estes morangos estão divinos…
- …ai sim? Deixa provar…
E come o resto do morango que ela ainda tinha por fora da
boca tudo misturado com um beijo.
- Tens razão… estão óptimos!
- Lambão…
Os morangos e o champanhe não duraram muito, ela olha-o
com cara de quem quer mais, ele pega na mão dela e dirigem-se à cozinha. Em
cima da bancada está um pote com mel, uma taça com chocolate derretido e ainda
outra com morangos.
- Vamos queimar estas calorias todas?
- …era essa a ideia, porquê não te agrada o programa?
- Acho que falta qualquer coisa…
Ele dirige-se ao frigorífico e tira uma taça com
chantilly e outra garrafa de champanhe.
- … melhor assim?
- Sim, agora está melhor…
Pegaram nas taças e rumaram ao quarto. A noite ainda
estava a começar e muitas danças havia ainda pela frente…
Fim
FATifer
clap, clap, clap...
ResponderEliminarNem tenho coragem de te dizer que soube a pouco depois de "me ter lambusado" em mel... chocolate... chantily... champanhe... hehehe
Só os morangos não são calóricos.
Obrigada por teres escrito este conto, já tinha saudades de ler uma história tua.
Conseguiste cativar, numa escrita sempre cheia de novidades e repleta de pormenores (como é tua característica), deixando nela a tua "assinatura".
Gostei muito. Em boa hora te desafiei!
Um beijo com aroma a morangos :)
Lamento, mas a imagem que mais me marcou foi a porta da garagem a abrir e arrancar. Bem me pareceu ver na marginal algo parecido... ;)
ResponderEliminarAbraço!
Pá,
ResponderEliminarPodia dizer um chorrilho de coisas...
...mas sintetizando-as todas (sim, porque fora das minhas histórias costumo ser mesmo muito sintético... LOL) apenas te digo que gostei e apreciei imenso.
Abraço
:)
Cara Orquídea,
ResponderEliminarAinda bem que gostaste. Foi um prazer aceitar este teu desafio e escrever para ti este conto que me divertiu bastante. Sabes que aprecio a forma como me lês e te apercebes do que quero transmitir.
Obrigado e um beijinho com sabor a mel,
FATifer
Caro amigo Rafeiro,
ResponderEliminarNão te escapa nada… lendo bem essa passagem não soa bem como devia!
Oh well… não se pode acertar sempre…
Grande abraço,
FATifer
Ulisses,
ResponderEliminarVindo de ti é o bastante para que me sentir lisonjeado. Como disse à Orquídea foi um exercício de escrita que me divertiu. Não tenho pretensões a mais do que saber que quem lê possa, pelo menos, dar o tempo por bem empregue ;)
Abraço e obrigado pela visita uma vez mais,
FATifer
ola. tudo blz? estive por aqui dando uma olhada. muito legal. apareça por la. abraços.
ResponderEliminarUm brasileiro,
ResponderEliminarObrigado pela visita e ainda bem que gostaste de passar por cá.
Abraço,
FATifer