Parou a moto à frente do que fora outrora o alpendre,
diante si os restos da cabana em escombros. Nunca mais tinha tido coragem
voltar a este lugar. Perguntava-se porque o teria feito? Sim o bilhete, era
real, a sms… também… mas… porque estava ali? O que esperava encontrar?
Não queria pensar no que tinha acontecido naquela noite
mas estando ali, era difícil evitar. Até hoje tinha-se sempre focado na parte
boa, aquela visão de Catherine deitada no chão em frente à lareira era como a
queria recordar. Desligou a moto, retirou o capacete. “Agiste sem pensar”,
pensou para consigo. “O que estás aqui a fazer?”, “Quem estará por detrás
disto?” perguntava-se olhando em volta. Por fim cede e recorda os eventos
daquela noite. O grupo de homens que entrou na cabana. A forma com a levaram
para um carro. O prazer com que lhe haviam batido e deixado por morto. Recorda
depois a forma como matou um a um todos eles, ainda consegue ver as suas caras
suplicando pela vida. Mas todos disseram que ela estava morta e por isso deixou
de procurar… Apetece-lhe gritar e até podia mas para quê? Há anos que a sua
vida era só trabalho para não ter de se lembrar dela e agora estava aqui, de
volta a este local, qual marioneta no jogo de alguém, mas quem? Quem poderia
ainda conhecer aquela sua história?
O som de um carro ao longe fá-lo voltar ao presente. Fixa
o olhar no caminho. À medida que o som se torna mais próximo, um sorriso nasce
no seu rosto. Reconhece o som, é um Jaguar E type. Alguém tem um sentido de
humor perverso mas está decido a pagar para ver quem.
O carro aparece por entre as árvores e pára a uma
distância que não lhe permite identificar quem está atrás do volante. A porta
abre-se, a luz da lua cheia ilumina o vestido branco…
- Catherine?...
- …
- … é impossível! Tu estás morta!
- Não Ricardo… tinha de pagar a minha dívida, disse que
traria o jag da próxima vez…
- …mas…
- Não me peças para explicar. Sei tudo o que fizeste.
Como me procuraste. Mas eu não podia deixar que me encontrasses. Acredita em
mim e perdoa-me.
- Catherine…
Estavam frente a frente, olhos nos olhos. Ele estende a
mão e toca-lhe no rosto, ainda na dúvida se o sentiria. Limpa a lágrima que
escorria já face abaixo e abraça-a. As bocas encontram-se sedentas uma da
outra. Os corpos colam-se. As mãos passeiam-se e os corpos acusam o seu toque. Ouve-se
um tiro e no mesmo instante os dois amantes jazem inanimados ao luar.
- Acaba assim? Não gosto!
- …não?
- Não!
- … mas sou eu que estou a escrever…
- Sim mas pediste a minha opinião.
- É verdade…
-… já sabes que gosto de finais felizes e este é muito
triste! Acho que levaste a tua mania de surpreender o leitor longe demais.
- Aceito o teu ponto de vista mas vais ficar assim. Agora
tenho de desligar, obrigado pela opinião. Beijo.
- E …
João desligou, tinha de acabar de formatar a história
para enviar para o editor. “Falta aqui um ponto e um espaço, isto tem de ser em
itálico, pronto terminei, agora é só enviar. Já está.” Pensava alto à frente do
pc. Levanta-se e dirige-se à casa de banho. Despe-se e entra no duche. Deixa a
água quente escorrer pelo corpo. Agora que tinha acabado não queria mais pensar
em nada, concentra-se apenas na água, o som que faz ao cair na sua pele.
A custo fecha a torneira. Estendo a mão pega no toalhão
para se enxugar. De volta ao quarto abre o armário de escolhe umas calças e uma
camisa, olha para baixo para escolher os sapatos e lá se decide. Coloca as
roupas em cima da cama e os sapatos no chão e volta à casa de banho para se
perfumar. De volta ao quarto veste-se em frente ao espelho pensando no que tem planeado
para essa noite.
Continua…
FATifer
Bem... estou sem palavras...
ResponderEliminarPor duas vezes me deixei surpreender pela história! Gosto de reviravoltas, de ser "enganada" pelo desenrolar da narrativa... de me surpreender. E tu conseguiste isso.
Bom, se esta é a penúltima parte... que venha a última para festejarmos com champanhe e pastéis de Belém!! (hehehe)
Um Beijo :)
Cara Orquídea,
ResponderEliminarAinda bem que gostaste, estava com algum receio que tivesse inventado demais mesmo para o teu gosto.
Está quase escrito o “encontro perfeito”… com que vou acabar.
Beijinhos e obrigado por leres,
FATifer