domingo, 14 de junho de 2009

O primeiro estalo!

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Eu sou contra a violência. Seja de que tipo for. Até desenhos animados que impliquem violência (e haverá muitos outros?) eu detesto.
A violência exercida sobre outro ser que, normalmente, é fisicamente inferior, mais vulnerável e indefeso, fácil de violentar, é do mais cobarde que pode haver.
Falando no caso especifico da violência praticada pelos namorados contra as companheiras, grande parte da violência exercida é pelo simples facto de que elas o aceitaram uma primeira vez. Permitiram a primeira, logo, permitiram todas as que se seguiram.
Duvido muito que uma mulher que é agredida pela primeira vez, acredite mesmo que não voltará a acontecer. Que foi a primeira e a última. Duvido. Só será a última se ela quiser, ou seja, se o mandar dar uma curva e não voltar.
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Eu teria uns 18 anos e uma amiga minha uns 20 quando me ligou uma noite, já depois do jantar, em prantos a pedir-me que fosse a casa dela.
Quando cheguei estava sentada na cama a chorar e disse-me (sempre entre soluços) que estava assim porque o namorado (com quem namorava havia umas semanas) lhe tinha batido.

Mais ou menos assim:
- Foi o Nuno que (soluço) me (soluço) bateu.
- Que estúpido! Acabaram, foi?
- Não sei (soluço), estou à espera (soluço) que cá venha (soluço) para me dizer.

Nesta altura quase me apeteceu bater-lhe também pelo facto de ainda estar à espera que o namorado a fosse informar se tinham acabado ou não! Pelo facto de ter sido agredida e deixar nas mãos do agressor a decisão da relação! Por ter apanhado e não o ter largado no mesmo segundo!
Resultado: ainda continuaram o namoro até ao dia em que ele, realmente, a informou de que já não estava interessado (e depois de já nem o Santo António lhe poder tirar as estaladas posteriores). Ela acabou por casar com outro de quem se divorciou por violência doméstica e já com duas crianças. Um que também já lhe tinha batido várias vezes durante o namoro.
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É isto que me custa bastante a compreender: como é que uma mulher não percebe ou não quer perceber estes indícios? Como é que aceita um primeiro estalo sem lhe enfiar um banco pela cabeça abaixo e, de seguida, o pôr com dono? Como é que casa com um homem que já antes lhe bateu?!

Um namoro muda o estado quando passa a casamento mas as pessoas são as mesmas!
Por muito que se possa gostar de alguém, um namoro não tem as condicionantes de casa, empréstimos, filhos, familia, portanto, compreendo ainda menos que condicionantes tão fortes possam existir e que levam alguém a pensar duas vezes ao ser agredida.
Para mim, uma primeira agressão é isso mesmo: a primeira. A primeira de outras mais. Quem aceita a primeira vai perder argumentos para não aceitar as seguintes e quantas mais aceita, mais incentiva a continuação dessa prática! O agressor não vai mudar! É a vitima quem se vai habituar!
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Ou seja: mulheres que aceitam que um namorado lhes dê um primeiro estalo, só merecem apanhar os que se lhe vão seguir!
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17 comentários:

  1. Compreendo a tua indignação por estes casos mas não podemos esquecer vários factores que levam as mulheres (e também homens) a aceitar isto. Há a baixa auto-estima, a paixão que sentem, a esperança de que mudem a até mesmo o medo de denunciar ou simplemente fugir. Infelizmente o problema é muito mais complexo do que parece..

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  2. Sandy,

    É verdade, é algo muito complexo e pode ter inumeros motivos a que as vitimas se agarram para justificarem a continuação da relação com o agressor mas, ainda por cima quando a violência começa no namoro, eu não consigo compreender nenhum!
    Talvez, como referes, a baixa auto-estima seja mesmo a mais plausivel.

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  3. Concordo plenamente contigo.
    Eu sei que, no meu caso, apanhava apenas o primeiro estalo, por não estar à espera.
    Mas depois o gajo não me voltava a por a vista em cima, quanto mais as mãos!
    E não haveria casamento ou filhos que me sujeitassem a viver com uma besta assim.
    Acho que no fundo, há mesmo um grave problema de baixissima auto-estima e uma carência enorme, quer seja mulher, quer homem.
    Mas sim,concordo que quem aceita esta situação e se põe a jeito de mais estalos, merece-os todos!

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  4. Cara deusa Pax,

    Acho que tudo se resume a uma questão de respeito, tal como tu não entendo essas situações. Concordo com o que foi dito que é um problema complexo, que terá muito factores que terão de ser levados em conta se o quisermos tentar compreender mas eu, por e simplesmente não entendo, tal como tu, que aconteça quanto mais que se fique á espera que não volte a acontecer!
    Todos temos dias maus, momentos de exaltação mas quando se chega à violência física, na minha opinião, como disse, é porque deixou haver (se é que alguma vez houve) respeito. Para mim tal não é concebível num casal.


    Tristemente é um problema (social) que não parece ter fim à vista…

    Beijinhos,
    FATifer

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  5. Cris,

    Eu também acho que isso aconteceria comigo! Levaria um primeiro só porque me apanharia de surpresa e não voltaria a ter hipóteses de o fazer de novo!
    Digo eu que, felizmente até hoje, nunca ninguém sequer o tentou!
    O mal daquela minha amiga, além da baixa auto-estima (sem duvida) era que queria (porque queria, queria, queria mesmo, desesperadamente CASAR), ou seja, acho que também deixava que a molestassem para não perder os namorados e, por consequência, o casamento. Vidas. Nesta altura tudo já mudou nos seus objectivos, infelizmente não aprendeu da maneira mais fácil, embora eu não ponha as mãos no fogo pelo facto de ter, realmente, aprendido.

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  6. FATifer,

    É isso mesmo: uma questão de respeito.
    Também acho que quando num casal, ainda que namorados, falta o respeito, não há amor que sobreviva, por muito que digam que gostam, que querem, que vão mudar ou o que seja.

    Sem respeito não pode haver amor!

    E se um "momento de exaltação" nos faz agredir de quem gostamos indicía que não gostaremos tanto assim, não é?
    Por mim seria o fim para qualquer relação.

    Enquanto as mentalidades não mudarem, tanto as de quem agride, de quem assiste, de quem pactua e de quem é a vitima, o fim, realmente, não se verá.

    Beijos :)

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  7. Há muitas formas de agressão e às vezes nem são as agressões fisícas as piores ;)...mas passando às fisícas que é dessas a que te referes. Um dia, namorava eu com um sr arquitecto (senhor bahhh) e o menino que tinha a mania que era da linha, super bem, até falava assim sei lá...de Deusa passou-me a querer tratar como o pior ser à face da terra. Tudo em mim parecia que o irritava, ainda nem hoje entendo porquê. Continuando...as agressóes verbais aguentei, levava na brincadeira e respondi sempre à letras mas...num belo dia lembrou-se de me atirar ao chão e dar-me uma biqueirada no rabo, ao mesmo tempo que dizia "vá, mostra lá o que aprendes nas artes marciais!". Levantei-me já furiosa e respondi "Não te vou mostrar, primeiro porque não te sabes defender, vou-te magoar e segundo porque este tipo de brincadeira entre casal, acaba em merda da grossa!". Pois o menino loiro (será que era por isso???) não compreendeu e toca de me atirar ao chão e repetir o toque no rabo, já com mais força. Como se não responder lhe desse mais ânimo...até que pensei "Foda-se vais-te arrepender". Levantei-me mais uma vez pedindo que parasse com a estupidez...e atirou-me novamente ao chão sempre a rir. Pois que o sorriso dele depressa desapareceu, levantei-me e mostrei-lhe o porquê de pagar treinos desde os 14 anos em artes marciais. Ficou sem conseguir mexer pescoço e pé durante uma semaninha e acabamos por ali, pois claro! Chamou-me bruta e disse que não sabia brincar. Fiquei com a certeza que se eu fosse uma mulher sem aptidões deste género, que seria mal tratada por tempo indeterminado. É triste! Ele...volta e meia liga e diz que tem saudades ehehhehe...quanto mais me bates mais gosto de ti? Vale para os dois lados??? Bem, só sei que vitíma não serei mas que compreendo as mulheres que o são, não as critico, nem condeno. Têm a minha compreensão e pena. Sei que aguentam porque não sabem como reagir, nunca aprenderam, têm medo, vivem no medo. Dizerem que ah e tal gostam de apanhar...é treta. Venho de uma familia de mulheres agredidas, dai a minha tara por artes marciais (podem tentar mas vão apanhar)...e sei que não gostavam...a minha avó chegou a desmaiar com tareia do meu avô. A minha tia ainda hoje leva e nem os meus primos da minha idade, interferem. Isto é um tema complexo, muito! Cabe a quem sabe os mecanismos de defesa contra estes senhores e senhoras agressore(a)s que os ponha a funcionar. Sim que podemos fazer queixa, denunciar, ajudar quem precisa.

    Uiii que já me estiquei mas como sabes é um assunto que a mim diz muito.

    Abreijinhos e se souberem de agressores, enviem para mim, trato-lhes da saúde ;).

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  8. Ahh e pelo meu avô falo, o agressor passa a cordeirinho muito rapidamente. De mau passa a carinhoso em segundos...a mulher, convencida que ele vai mudar, desculpa uma e outra vez. Não o faz por mal...às vezes o que nos une a outro é mais forte do que os de fora conseguem compreender...

    Abreijinhos

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  9. Concordo inteiramente, Pax! Talvez o primeiro estalo não se possa evitar (quando eles têm tendência a agressores), mas todos os restantes podem.

    Nem considero que seja baixa auto-estima da parte das mulheres que são vítimas de agressões: é mesmo falta dela!

    Uns antigos vizinhos meus passavam a vida nessas cenas: ele era barman e doidivanas, arranjava umas amásias, mas a mulher (que era grande e gorda) acabava por descobrir as fulanas e dava-lhes uma sova. Ele, depois delas se queixarem, chegava a casa e batia na mulher - tipo às 3 ou 4 da matina, todo o prédio ouvia. No dia seguinte aparecia mais cedo em casa, com flores e prendinhas e ela ficava toda satisfeita, que agora é que ele ia ao sítio! Raismapartam se alguma vez entendi aquela vivência... :(

    Como te digo: para mim, o primeiro estalo seria o último! E sim, podem existir outro tipo de agressões verbais ou até chantagens igualmente perturbadoras, mas nas agressões físicas o fito é SEMPRE a humilhação, dominar a parceira pela força. E isso parece-me do mais reles e cobarde que existe!

    Beijocas!

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  10. Afrodite,

    É verdade que nem sempre são as agressões fisicas as unicas e nem sempre as que mais magoam mas, por mim, são as mais claras de que quem as pratica merece toda a repugnância do mundo!
    Quem magoa alguém com palavras nem sempre tem consciência do dano que essas palavras causam mas quem levanta a mão para o/a companheiro/a sabe bem que dor e humilhação lhe vai infringir.

    Antigamente muitas mulheres se resignavam com essas agressões por falta de opções. A tua avó, as minhas avós também. Sabiam que se os deixassem passariam fome, os filhos passariam fome também. Ninguém as ajudaria, pelo contrário, condenaria mais ainda. Agora não. As mulheres sustentam-se, existem instituições que as apoiam, não dependem do companheiro nem de ninguém que as maltrate e NADA (no meu entender) as pode fazer aguentar semelhante humilhação! Muito menos em casos como este de que falo, de namorados, onde se antevê um futuro de violência e casam na mesma com eles!

    Eu já vivi situações de agressões psicológicas, de chantagens, de alguns maus tratos verbais e sei o quanto isso custa mas, felizmente, fisicamente nunca tive de passar por isso, não posso falar demais sobre o que não conheço mas digo-te que dificilmente aceitaria sequer um levantar de mão, quanto mais um baixar dela. É o limite para a falta de respeito e depois do fim do respeito, em mim, acho que nada ficaria.

    Acho que quem aceita uma primeira sabe que vai haver uma segunda. Sabe, embora tenha esperança de se enganar. A tua avó sabia, assim como as minhas sabiam.
    Realmente, quem está de fora nem sempre compreende o que pode haver que leve a vitima a aceitar, a não denunciar. Eu, pelo menos, tenho muita dificuldade em compreender e menos ainda em aceitar que assim seja.

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  11. Teté,

    A mim ainda me custa mais a compreender quando essas agressões começaram na fase do namoro e casam na mesma, achando que não acontecerá mais depois!
    As dificuldades da vida, os problemas que vão aparecendo, as divergências naturais de uma vida em comum agravam ainda mais essa tendência. É demasiada ingenuidade (ou estupidez) achar que não!

    Situações como a que relatas são o pão-nosso-de cada-dia para muita gente mas, também te digo, não sei como é possivel alguém conseguir viver assim. Das duas uma: ou gostam da adrenalina e do "fazer as pazes" ou não têm mesmo o minimo respeito por eles/elas próprios/as!

    Não gosto de dizer "desta água não beberei" até porque tenho bebido muita coisa que nunca acharia possivel, lol, mas também acho que se um dia alguém mo, sequer, ameaçasse, seria a última vez que teria essa hipótese!

    Beijos :)

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  12. Falaremos deste assunto num local mais oportuno :)...por aqui não te consigo explicar o porquê de compreender as vitímas. Por alguma razão se chamam vitímas e não masoquistas ;)! Eu depois explico :)!

    Abreijinhos

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  13. Uma só que seja e voa pela janela de imediato...

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  14. Afrodite,

    Eu até consigo compreender que tu compreendas mas eu recuso-me a tentar encontrar atenuantes para a estupidez de uma vitima que já no namoro apanha e casa com o agressor! Nenhum sentimento justifica isso!

    Beijos :)

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  15. Vani,

    Abençoada!
    (E uma caminha de cardos por baixo da janela para aconchegar a queda!)

    :)

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  16. Concordo a cem por cento. Mas o que acho estranho é que há casos de mulheres que se indignam com um estalo na cara e aguentam tudo e mais alguma coisa a nível psicológico. Há tantos homens que nunca precisam de levantar a mão nem erguer a voz para infligirem as mais diversas humilhações. E muitas vezes a mulher cala. Talvez porque essas nódoas negras ela consegue esconder da sociedade. As do rosto é mais difícil.

    Repito: estou cem por cento de acordo contigo. Mas estou em crer, e esse tema levava-nos longe, que a violência física é o menor dos cancros das relações modernas.

    Respeitosos cumprimentos

    Herculano da Conceição Vitorioso

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  17. Herculano,

    Concordo a 100% com o primeiro paragrafo do teu comentário. Há muitas maneiras de magoar, de infringir dor e sofrimento sem violência fisica e, muitas vezes, até bem mais dificil de cicatrizar ou atenuar do que propriamente o estalo. Se é que alguma vez cicatriza.
    No entanto, não acho que seja "a violência física o menor dos cancros das relações modernas." É muito mau. É do pior que pode haver no que algumas pessoas entendem como "relação" que, para mim, ao chegar a esse momento, já deixou de ser uma relação.
    O que alguém magoa psicológicamente ainda pode ser de algum modo subjectivo, depender do momento de sensibilidade do outro mas o agredir fisicamente não tem subjectividade, é uma agressão e não tem hipóteses de atenuante, de justificação.
    No meu entender, nada, mas mesmo nada pode, nunca, servir de desculpa para quem agride alguém a quem é suposto amar. Psicológia ou fisicamente.

    Beijos :)

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