segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Parte I

Sentado no lugar da janela, pensava na vida enquanto olhava o mar. Lindas imagens que guardaria na retina estivesse ele a ver… mas naquela carruagem da linha de cascais só estava o corpo, a mente estava do outro lado do planeta. Pensava nela. Se estivesse a ver a paisagem apenas se lembraria dela também. Como ela adorava aquela paisagem, tanto que o tinha convencido a vir viver para ali, ele que até estava tão bem em Lisboa. Ela, como estaria ela? Num país estranho, longe dele… por mais que cresçam, para os pais, os filhos serão sempre uns meninos e ela é a sua menina!
“Onde estás tu? Com quem?...” pensa…

- Sim…
- Papa? Não sei porquê mas achei que devia ligar…
- Minha filha, que bom ouvir-te… estava mesmo a pensar em ti…
- Pois, não sei explicar como mas parece que o senti… mas já disse que estou bem. O ambiente é excelente, todos me tratam muito bem…
- Sim mas…
- Meu pai, a sua filhinha já é uma mulher, capaz de tomar as suas decisões e viver com elas!
- Eu sei… mas sinto a tua falta meu anjo…
- Oh pai! É só um mês, passa num instante, vais ver!
- Eu sei, eu sei mas sabes como é ser pai e mãe tem destas coisas…
- … sim eu sei paizinho… mas já disse que estou bem, acredite em mim…
- Eu acredito…
- Tenho de ir, beijo grande!
- Outro, meu anjo, obrigado por teres ligado…

Aquela filha era a sua vida. Desde que a mãe morrera, tinha apenas 3 anos, fora pai e mãe, nunca se arrependera da dedicação que tinha devotado àquela filha… via nela a mulher por quem se tinha apaixonado e que o destino lhe roubara. Tudo faria para que tal não voltasse a acontecer. No que dependesse dele a sua menina teria uma vida longa e feliz.
O sol começa a mergulhar nas águas… uma visão que lhe trás doces memorias. Recua anos num instante, de repente está naquela praia de novo, naquele por do sol onde vira um ser divino que mais parecia uma visão. Ainda hoje, por vezes, duvida se não teria sido um sonho mas não tinha sido. Ela existira mesmo e tinham sido tão felizes… relembra a situação, o conjunto de circunstâncias. Sempre que conta a história, os comentários são os mesmos “parece cena de filme!” ou “estava escrito!”… sorri e pensa “a minha menina fará o mesmo um dia… só espero que tenha a sorte que tive com a mãe dela…” volta a memória da primeira conversa…

- Desculpe podia ajudar-me por favor?
- … sim… mas em que posso ajudá-la?
- Tenho pneu em baixo e…
- Aaa… pneu… sim com certeza…
- Pois nunca tive muito jeito para estas coisas…
- Ora essa não custa nada, é instante…
- É um cavalheiro.
- …
- Este carro parece que está enguiçado!
- Olhe que, infelizmente, vou ter de concordar pois, eu até lhe mudava o pneu mas este também está furado…
- Oh, que cabeça a minha, esqueci-me de o mandar arranjar! E agora?!
- Agora, se confiar que sou na verdade um cavalheiro, deixa-me que a leve a casa e chama um reboque para vir buscar o seu carro.
- Pois estou a ver que não tenho alternativa…
- Vejo que afinal não lhe inspiro tanta confiança assim…
- Oh! Não! Desculpe, de modo nenhum, não foi nesse sentido…
- Não se preocupe, não ofendeu. Até a compreendo mas, dado que estamos onde estamos, não vejo que tenha outra hipótese senão confiar em mim.
- Pois, tem razão…
- Vamos?
- Vamos, deixe-me fechar o carro.

Quando naquele dia tinha decido ir ver o por do sol ao guincho, nunca poderia pensar que voltaria acompanhado da mais linda mulher que alguma vez tinha visto. Impossível esquecer aquela voz, aqueles olhos… e tudo o resto!

- É já ali…
- Está entregue então.
- Sim… mas entre por favor, vai jantar connosco.
- Não… não tem necessidade…
- Eu insisto, até porque é a melhor forma de explicar ao meu pai porque estou a chegar a casa no carro de um estranho.
- Hum… bem… sendo assim…

Sim, vendo bem, parece mesmo cena de filme… era a paragem dele, as memórias ficam para mais tarde.
Entra em casa.
Está tudo um pouco diferente do que era naquele dia, há tantos anos atrás, quando entrara naquela casa acompanhado de tão linda mulher. A filha insistia em actualizar o estilo de decoração e ele gostava porque, até nisso, saíra à mãe. Recorda a cara daquele que seria o seu sogro ao vê-lo chegar àquela casa.

- Paizinho, não faça essa cara ou queria que ficasse no guincho a olhar para o pneu?
- Mas…
- Foi um cavalheiro … eu é que me esqueci de mandar arranjar o pneu.
- Guilherme Silveira, muito prazer.
- Álvaro Nogueira.
- Desculpe esta invasão mas a sua filha insistiu…
- A minha filha é assim, leva sempre a dela avante, sai à mãe!…
- Paizinho, então?!

Parece que ainda estava a ver aquela expressão que tantas vezes depois a tinha visto fazer, dirigindo-se a ele… ela era linda, até quando estava indignada. Muitas vezes pensara quando se havia apaixonado por ela… teria sido quando ouviu a voz? Ou quando a viu? Ou teria sido ao ver aquela expressão?

(continua)


FATifer

16 comentários:

  1. Mas o que se passa por aqui?

    Agora anda tudo a mudar a abordagem escrita na blogosfera?

    Estou a gostar de ler e fiquei curioso. O texto dá um ar de impessoal, mas não me parece que o seja.

    A ver vamos, como dizem os cegos :)

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  2. Hummm... e agora sai um conto?

    Adoro histórias bem contadas! Pouco interessa que sejam reais ou imaginárias!

    Vou aguardar o seguimento...

    Beijoca!

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  3. Ainda que tudo o mais fosse ficção, este personagem tem uma coisa em comum contigo: o cavalheirismo :)
    Se bem que nem sei se alguma vez terás mudado algum pneu (de carro, pelo menos ;)

    Eu não gosto de histórias de Amor sem finais felizes durante muiiiiito tempo. Porque morrer, todos sabemos que morreremos, mas que seja daí a muiiiiito tempo.
    (E eu choro com essas coisas e fica a doer-me a cabeça por ter chorado e é uma treta!)

    Muito bem escrita, sim senhor.
    Espero a(s) parte(s) seguinte(s).

    Beijos :)

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  4. Bem...estou a adorar...

    Esperemos pelos próximos episódios!!!

    Beijinhos
    P@pinh@

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  5. Crest©,

    Até fui reler o meu “prefácio” neste espaço e, no absoluto, terás razão para dizer que não disse que escreveria histórias ou contos (isto caso este e o anterior texto que apresentei possam merecer tal classificação). Mas não será por isso que ache que possas “acusar-me” de ter mudado a “abordagem de escrita”. Para mim este sempre foi encarado como um espaço onde escreveria o que bem entendesse e me apetecesse… e é o que tenho feito…

    “Estou a gostar de ler e fiquei curioso.”
    Fico contente por isso, deixar-te curioso a ti é para mim motivo de orgulho.

    “O texto dá um ar de impessoal, mas não me parece que o seja.”
    O que queres dizer com “impessoal”?

    “A ver vamos, como dizem os cegos :)”
    Espero não desapontar as expectativas que possa ter criado…

    FATifer

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  6. Teté,

    Não sei se sairá um conto… ontem quando estava a escrever não me apeteceu acabar o texto, como fiz com o anterior. E como nem consegui dar-lhe um título, achei que continuaria… não tenho nada planeado, o que surgir, surgirá…

    “Adoro histórias bem contadas!”
    Isto vindo de ti (que escreves como escreves e lês o que lês) é um motivo de orgulho para mim.

    “Pouco interessa que sejam reais ou imaginárias!”
    Neste caso é inventada mas (como julgo que concordas) sempre que escrevemos “ficção” vamos beber inspiração aqui e ali… será que era a isso que se referia o Crest© com o “dá um ar de impessoal”?

    “Vou aguardar o seguimento...”

    Tal como disse ao Crest© reafirmo, espero não desapontar as expectativas que possa ter criado…

    Beijinhos,
    FATifer

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  7. Pax,

    “Ainda que tudo o mais fosse ficção, este personagem tem uma coisa em comum contigo: o cavalheirismo :)”
    Como disse à Teté “sempre que escrevemos “ficção” vamos beber inspiração aqui e ali” ;)

    “Se bem que nem sei se alguma vez terás mudado algum pneu (de carro, pelo menos ;)”
    Lá porque não gosto por aí além de conduzir carros não quer dizer que não ande pelo que sim, sei mudar e já mudei pneus de carros… curiosamente de moto nunca mas também saberia fazê-lo dá é um pouco mais de trabalho :P

    Quem te disse que esta ainda não pode ser uma história como tu dizes que gostas? Nem eu sei (ainda) o que vai sair daqui! ;)

    (espero não te ter causado dores de cabeça…)

    “Muito bem escrita, sim senhor.”
    Começo a ficar preocupado, ninguém (ainda) disse mal … será que afinal até sei escrever? ;)

    “Espero a(s) parte(s) seguinte(s).”
    Terei de me repetir pois sinceramente, espero não desapontar as expectativas que me parece ter criado…

    Beijinhos,
    FATifer

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  8. Papinha,

    É um prazer agradar, espero que continues a adorar o que vem por aí (que, como já disse, nem eu sei o que é!)

    Os “próximos episódios” ainda não têm data marcada mas … virão… :)

    Beijinhos,
    FATifer

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  9. Muito bem, anda tudo com uma veia para a escrita muito boa, espero por mais, cada vez mais.;)

    Beijo fatifer

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  10. Estou muito curioso para saber o fim da história. Tenta ser breve na publicação. Até ao momento adorei.

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  11. Vita,

    “espero por mais, cada vez mais.;)”

    Pois o meu “medo” é não estar à altura das expectativas (sim, eu sei, estou a repetir-me mas… é verdade!)

    Ainda bem que também gostaste. :)

    Beijinho,
    FATifer

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  12. Carloressu,

    “Tenta ser breve na publicação.”

    Não se pode apressar o génio! :) (não resisti, tinha de dizer esta!)

    Não quero desapontar, nem é de modo nenhum sadismo da minha parte deixar-te curioso mas, como referi acima nos comentários: “não tenho nada planeado, o que surgir, surgirá…” pelo que, também não sei dizer quando será que vai surgir…

    Fico contente que tenhas gostado.

    Abraço,
    FATifer

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  13. Excelente Fatifer! Aguardo os próximos capítulos, sim...não acredito que haja só mais 1 próximo.

    PS: Tenho gostado muito destes textos de "histórias da vida", primeiro os da PAX que tb aguardo a continuação, e agora tu com este tb brilhante.

    Obrigada e beijinhos

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  14. Patrícia,

    :) … quem bom que gostaste!

    Pois não sei... mas se calhar tens razão, da mesma forma que não me pareceu bem acabar em 1 talvez 2 não cheguem… veremos…

    Obrigado a ti por vires cá ler o que escrevemos ;)

    Beijinhos,
    FATifer

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  15. Mas que bem....agora vou ler de seguidinha o resto pq para inicio promete.....

    Bjs

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  16. Minhoca,

    “Mas que bem”

    Obrigado

    “agora vou ler de seguidinha o resto pq para inicio promete”

    Boa leitura…

    Beijinhos,
    FATifer

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